Segundo texto autoral de Côme de Bellescize, Amadeo recebeu críticas entusiásticas e chega agora ao Brasil e estreia dia 10 de março no Tucarena na primeira montagem fora da França Com direção de Nelson Baskerville, o elenco tem César Mello, Chris Couto, Cláudia Missura, Janaína Suaudeau, Thomas Huszar e, no papel-título, Thalles Cabral. Foto: Gal Opido
Texto inédito no Brasil do autor francês Côme de Bellescize, o espetáculo "Amadeo" estreia dia 10 de março no Teatro Tucarena. Com direção de Nelson Baskerville, o elenco tem César Mello, Chris Couto, Cláudia Missura, Janaína Suaudeau, Thomas Huszar e, no papel-título, Thalles Cabral.
O espetáculo é baseado na história real de um jovem de 19 anos, que após um acidente de carro, fica com o corpo totalmente imóvel. Movendo apenas o polegar direito, conseguiu escrever um livro onde pediu pelo direto de morrer. A peça trata sobre liberdade de escolha sobre a sua própria vida gerando reflexão em nível individual e coletivo.
Aos 19 anos, Amadeo adora videogames e carros velozes. Sonha ser piloto de Fórmula 1. É virgem, mas a namorada está disposta a resolver a questão, sob certas condições. Tem uma mãe ansiosa; seu melhor amigo quer convencê-lo a entrar para o Corpo de Bombeiros. Enfim, toda a vida pela frente. Mas, certa noite na estrada, um caminhão destrói o carro que ele dirige e altera radicalmente o futuro do rapaz. Amadeo sobrevive em meio às ferragens retorcidas, mas quando volta do coma está preso a um corpo que já não age nem reage. Imóvel.
Ao seu redor, estão a mãe, os médicos, o capitão dos bombeiros que o salvou, a namorada Julia, o amigo Tomás. Tentam interagir com o rapaz imobilizado, trafegando entre a frágil esperança e a dor da realidade. Baila em volta do rapaz o alter-ego/duplo Clóvis, projeção da consciência que discute e provoca. E, pouco a pouco, cresce a possibilidade de que Amadeo escolha deixar a prisão do corpo.
“A pergunta central é mesmo até onde temos a liberdade de escolher e dirigir a própria vida”, considera o diretor Nelson Baskerville. “Cada um vai acompanhar e avaliar as escolhas dos personagens de seu ponto de vista, refletindo e não simplesmente reagindo”. Amadeo, de Côme de Bellescize, estreou em 2012 no Théâtre de la Tempête, em Paris.
Baseia-se num caso real, o do jovem Vincent Humbert, que ficou tetraplégico, além de cego e mudo depois de um acidente automobilístico. Movendo apenas o polegar direito, conseguiu escrever um livro com o jornalista Frédéric Veille - "Eu Peço o Direito de Morrer". A repercussão foi tão grande que se proibiu na França o excesso terapêutico, permitindo ao paciente o uso de cuidados paliativos e até o direito de parar alguns tratamentos.
Foi a atriz e diretora franco-brasileira Janaína Suaudeau, formada no Conservatório Nacional de Paris, que se empenhou em trazer para o Brasil a peça de Bellescize, que ela assistiu na estreia parisiense. “De muitas maneiras fiquei impactada pela montagem – pelo lado pessoal, pela coragem e habilidade do autor ao tratar temas-tabu, pela reflexão em nível individual e coletivo que Amadeo provoca no espectador”, comenta. “Traduzi o texto com a colaboração de Clara Carvalho e minha personagem, Julia, representa a juventude, a descoberta da sexualidade em contraste com a desaceleração física de Amadeo - mas em circunstâncias muito frágeis; ela não dá conta do que houve com o namorado, e acaba se atropelando”. Para Janaína, o mais impressionante no trabalho de Bellescize é a “capacidade que sua dramaturgia tem de oferecer da sociedade uma visão caleidoscópica, panorâmica”.
Dois planos
Elaborado como uma “peça-sonho, à maneira de Strindberg”, com cenas curtas e cortes rápidos, como define o diretor Nelson Baskerville, Amadeo combina imagens oníricas e diálogos imaginários com a dura realidade, desenvolvendo-se em dois planos. Clóvis, o amigo imaginário - uma referência ao serviçal Clov do "Fim de Jogo", de Beckett -, age de modo lúdico-violento para traduzir e sacudir conflitos, reflexões e sentimentos internos de Amadeo. “O teatro é o espaço desse véu, dessa intermediação com a realidade para que a possamos suportar, resistir e elaborar”, pondera Baskerville.
Também Ionesco, em sua peça Amedée, é evocado: ali, um casal discute o que fazer com um cadáver no quarto contíguo. “Bellescize claramente utiliza muitas inspirações; o personagem de Ionesco é um morto entre vivos, de certa forma a condição do Amadeo”. Mas Amadeo, sem perspectiva de melhora, consegue se comunicar precariamente com dois dedos e decide morrer. “Existe uma coisa viva dentro dele. A ligação com o bombeiro que o resgata é particularmente bonita – ele quer convencê-lo a viver. Quem está à volta de Amadeo é obrigado a repensar as razões para estar vivo, enfim”, prossegue o diretor. “E vejo a aceitação dessa mãe no centro de tudo, o ponto de gravidade da peça”.
“No jogo dos dois planos, um pouco como em Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, há o plano real e o imaginário do rapaz, traduzido por Clóvis, que tenta fazer com que Amadeo sobreviva – ou mesmo viva -, de forma lúdica e às vezes violenta”. Também artista plástico, Baskerville aponta alguns nomes como referência nessa montagem: “Marcel Dzama e Gisèle Vienne, e também forte inspiração no pintor irlandês Francis Bacon, pelas distorções com que ele trata sua obra”.
O cenário de Marisa Bentivegna se abre, a princípio, no canto de videogame na casa de Amadeo. Depois do acidente, passa a remeter aos elementos do hospital, com utilização de efeitos de projeções de vídeomapping. “No primeiro momento trazemos a adrenalina, a emoção do videogame de velocidade que Amadeo adora, através da animação em 3D”, diz André Grynwask, que assina com Pri Argoud a arquitetura de projeções da peça. “Já na segunda parte, depois do acidente, usamos videomapping para ambientar uma viagem dentro da mente do rapaz. É delicado, complicado e desafiador trabalhar o espaço da arena, para que o público tenha uma experiência de caráter tridimensional”.
Ficha técnica:
"Amadeo" de Côme de Bellescize. Direção: Nelson Baskerville. Assistente de direção: Anna Zêpa. Tradução: Janaína Suaudeau. Colaboração: Clara Carvalho. Elenco: Thalles Cabral, César Mello, Chris Couto, Claudia Missura, Janaína Suaudeau e Thomas Huszar. Música original: Marcelo Pellegrini. Cenografia: Marisa Bentivegna. Iluminação: Wagner Freire. Figurinos: Marichilene Artisevskis. Visagismo: Marcos Padilha. Maquiagem para fotos: Ale Toledo. Direção de imagem e videomapping: André Grynwask / Pri Argoud. Produção executiva: Patrícia Galvão e Maurício Belfante. Designer gráfico: Cassia Buitoni. Identidade visual: Ieda Romera e Geninho. Fotografia: Gal Opido. Textos: Luciana Medeiros. Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli. Idealização: Janaína Suaudeau. Realização: Ponto de Produção / Patricia Galvão.
Serviço:
"Amadeo". Estreia dia 10 de março de 2023 no Tucarena. Rua Bartira, 347 - Perdizes, São Paulo. Capacidade: 250 lugares. Temporada: de 10 de março a 28 de maio de 2023. Sextas e sábados às 21h. Domingos, às 18h. Duração: 1h30. Recomendação etária: 16 anos. Ingressos: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia entrada para estudantes e idosos, portadores de necessidades especiais, professores da rede pública). Estudantes e professores da PUC: R$20. Pela internet: Sympla (aceita todos os cartões de crédito). Horários de funcionamento da bilheteria: de terça a sábado das 14h às 20h Domingos das 14h às 18h. Formas de pagamento: Amex, Aura, Diners, Dinheiro, Hipercard, Mastercard, Redeshop, Visa e Visa Electron. Estacionamentos indicados: MultiPark: Rua Monte Alegre, 961 – R$ 25. MJS Serviços / Valet – Sextas, sábados e domingos, R$ 35.
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