Peça abre a programação de cênicas da instituição; com dramaturgia de Newton Moreno, Alessandro Toller e LaMínima e direção artística de Sandra Corveloni, A Divina Farsa traz deuses gregos à Terra em dias atuais para (tentar) salvar o planeta; este projeto foi contemplado pela 37ª Edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo — Secretaria Municipal de Cultura. Foto: Melissa Guimarães
Em uma versão carregada de bom humor e atualidade, o LaMínima apresenta "A Divina Farsa", até dia 26, no Itaú Cultural - de quarta a sábado, às 20h; domingos e feriados, às 19h. A temporada faz parte das comemorações pelos 25 anos da companhia de circo e teatro e inaugura a temporada 2023 de cênicas do Itaú Cultural.
A direção artística é de Sandra Corveloni, as ilustrações do programa de sala são da cartunista Laerte e os figurinos são de Christiane Galvan. No elenco, além do núcleo artístico fixo do grupo - Fernando Paz, Fernando Sampaio, Filipe Bregantim - estão Alexandre Roit, Mônica Augusto, Marina Esteves e Rebeca Jamir. A dramaturgia da peça é assinada por Newton Moreno, Alessandro Toller e LaMínima e a direção musical e música original de Marcelo Pellegrini.
Como de costume na trajetória do LaMínima, "A Divina Farsa" mistura comicidade, música e teatro. O espetáculo atualiza os mitos gregos, com referências aos acontecimentos dos dias atuais, mostrando a importância da coletividade, fazendo menção à criação teatral e circense e da própria companhia, que comemorou 25 anos em 2022.
No novo espetáculo, Dionisio chega ao Olimpo para reivindicar a atenção de seu pai Zeus. Filho bastardo, encontra-se no Panteão com deusas e deuses, no momento em que deliberam quem descerá à Terra para acudir a humanidade, mais uma vez à beira de uma crise. Apolo é escolhido e encaminhado para um circo mambembe, o território do deus do teatro. Com seus disfarces, Dionisio enreda a trupe em estratagemas para mostrar que conhece mais a natureza dos humanos do que seu meio-irmão, Apolo.
Transitando entre o cômico e o poético, A Divina Farsa brinca o tempo todo com a ideia de que no circo cabe todo mundo, todo tipo de gente. E com a gangorra entre se pensar divino e se pensar humano, quem é deus e quem não é, afinal, o divino está em cada um.
Concepção
Um dos primeiros nomes dados à peça seria Com Dionisio Não se Brinca, evidenciando que com o deus do teatro não se brinca. Não à toa, os dois deuses vão parar no circo “Olimpo”, que encampa e acolhe todas as questões.
Enquanto Dionisio quer criar conflitos e alimentar o caos, surge a personagem Dandara, que carrega a novidade, a criança, a curiosidade, o questionamento, sem se deixar seduzir pelos encantos do deus. E no ‘embate’ entre essas duas divindades, de origens tão diferentes, Dandara devolve para o circo a noção de questionar quem é aquele ser, desvenda a farsa, devolve para o coletivo e traz a sua herança. São outros outros valores, com muita poesia, dança, música e reflexão. Além do fato de reconhecer que a mitologia grega faz parte de tradição europeia, branca, colonialista.
Em seus 25 anos, o LaMínima vem criando espetáculos a partir de um tema ou de uma expressão original, seja ela romance, HQ, ópera ou texto teatral. A maioria dos espetáculos é fruto de pesquisas da companhia desenvolvidas em improvisações do elenco, na presença dos parceiros de criação.
A ideia do novo espetáculo surgiu em 2019 a partir de uma sinopse: “um espetáculo que pretende ser uma reunião de Deuses para discutir por que a humanidade deu errado...” a princípio direcionado para os deuses gregos. Em 2020, veio a pandemia, o isolamento social e os rumos tiveram que mudar. O circo passou para o virtual. E os relacionamentos humanos foram questionados.
Desse questionamento surgiu o 17º espetáculo do LaMínima, projeto contemplado pela 37ª Edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo — Secretaria Municipal de Cultura em parceria com Itaú Cultural.
Mitologia e comicidade
A Divina Farsa sucede Ordinários (como espetáculo de sala). A peça anterior, que também estreou, em 2018, no Itaú Cultural, tratava da Guerra a partir da história de três soldados que, depois de uma longa e angustiante espera, enfim recebem uma missão. Ao avançar para o território inimigo, no entanto, percebem que escondem segredos uns dos outros e que são inadequados para a guerra. O que não deixa de ser emblemático, já que quando estreou o Bolsonaro tinha acabado de assumir.
Já A Divina Farsa trata da retomada da esperança e da vitória do coletivo, de sair de um mundo cheio de problemas, machucado, para a reconstrução. É uma peça mais leve, mais solar, mais humorada e mais coletiva no que diz respeito ao processo de construção do texto e da cena. Todos trazem provocações, fazendo da peça uma construção coletiva e conjunta.
A encenação procura, de um jeito muito bem humorado, tratar de algo sagrado - no caso os mitos gregos - fazendo um registro historiográfico, a partir de um conceito cênico. No processo, a diretora e os dramaturgos mantiveram o aspecto crítico embutido na comicidade do LaMínima. Por isso, partiu-se da concepção apresentada pela companhia, e foram feitos tratamentos, inserções, reescritas, colaborações e mudanças, trazendo diversas vozes - inclusive dos atores e atrizes que compõem a peça (e seus modos de pensar e de fazer arte).
E o LaMínima ganhou novas parceiras. Estão em cena três atrizes - Marina Esteves, Mônica Augusto e Rebeca Jamir - de origens e especialidades diferentes, que trazem outros pontos de vista, outras maneiras de fazer e outros contextos e experiências, enriquecendo o fazer teatral, com números de dança, música e performance. A presença em cena das artistas traz mais feminilidade aos movimentos, menos luta, mais poesia, dança, show e festa.
Desenhando a ação
Em sala, será distribuído o programa da peça com ilustrações exclusivas feitas pela cartunista Laerte. O LaMínima possui uma parceria com a Laerte tanto em trabalhos de criação artística e estética de comunicação: Luna Parke, Piratas do Tietê - o Filme e A Noite dos Palhaços Mudos. Além das montagens, a cartunista foi responsável por traduzir em tirinhas e comunicação visual o espetáculo Athletis, de 2011 e a programação da mostra “LaMínima ao Máximo” do Sesc Pompeia, em 2013.
Trajetória
O LaMínima nasceu no circo e se criou na rua. A base de sua pesquisa é o palhaço de picadeiro, que absorve as primeiras experiências dos palhaços da companhia. Ainda em 1997 fizeram as “rodas” realizadas em parques e praças da cidade de São Paulo, remuneradas “pelo chapéu”. A rua é onde a companhia reencontra suas origens e seu público.
Domingos Montagner e Fernando Sampaio conheceram-se no Circo Escola Picadeiro em São Paulo, onde iniciaram a dupla de palhaços. Ali criaram e levaram às ruas, reprises, entradas e outros números circenses, desenvolvidos sob a orientação do Mestre Roger Avanzi, o Palhaço Picolino. Em 1997, criaram o Grupo LaMínima, com a estreia do espetáculo LaMínima Cia. de Ballet, baseado no humor físico e nas clássicas paródias acrobáticas. Desde então, foram dezenas de criações e milhares de apresentações.
No ano de 2016, a dupla de palhaços Agenor e Padoca não existiria mais. Domingos Montagner saiu de cena, mas o legado do LaMínima e a trajetória de seus espetáculos continuam. A Divina Farsa fecha um ciclo de comemorações dos 25 anos do LaMínima. Entre as dezenas de ações, entre elas: Oficinas de Formação; apresentações de espetáculos nas ruas e em diferentes lugares e formatos; e a publicação inédita com ilustrações da Laerte Especial 25 anos do La Mínima (distribuída nas sessões). A programação completa está nas redes sociais da Companhia e no site www.laminima.com.br/.
Ao longo desses 25 anos, a LaMínima produziu 16 espetáculos, se apresentando em todo o país e conquistando diversos prêmios, como o Prêmio Shell de Teatro, APCA, Prêmio Governador do Estado para a Cultura. As obras são inspiradas em manifestações populares de comunicação e cultura que podem ser desde literatura clássica ou arte medieval, quadrinhos ou programas de rádio.
Sinopse do espetáculo:
Dionisio chega ao Olimpo para reivindicar a atenção de seu pai Zeus. Filho bastardo, encontra-se no Panteão com deusas e deuses, no momento em que deliberam quem descerá à Terra para acudir a humanidade, mais uma vez à beira de uma crise. Apolo é escolhido e encaminhado para um circo mambembe, o território de Dionisio (deus do teatro) que, através de seus disfarces, enreda a trupe em estratagemas para mostrar que conhece mais a natureza dos humanos do que seu meio-irmão, Apolo.
Ficha técnica:
Concepção: LaMínima – Fernando Sampaio, Fernando Paz e Filipe Bregantim
Dramaturgia: Newton Moreno e Alessandro Toller
Direção artística: Sandra Corveloni
Direção musical e música original: Marcelo Pellegrini
Ilustrações: Laerte
Desenho de luz: Aline Santini
Cenografia: PalhAssada Ateliê
Figurino: Christiane Galvan
Visagismo: Carol Badra e Leopoldo Pacheco
Elenco: Marina Esteves, Mônica Augusto, Rebeca Jamir, Alexandre Roit, Fernando Paz, Fernando Sampaio, Filipe Bregantim
Artistas stand-in: Carol Badra, Christiane Galvan e Thomas Huszar
Assistência de direção: Lucas Nascimento
Programação visual: Sato do Brasil
Direção de produção: Luciana Lima
Produção executiva: Priscila Cha
Produção e administração: Chai Rodrigues
Assistência de produção: Vanessa Zanola
Serviço
"A Divina Farsa"
LaMínima
Sala Itaú Cultural (Piso Térreo)
Capacidade: 224 lugares
Itaú Cultural
Av. Paulista 149 - Bela Vista - São Paulo
Até dia 26 de fevereiro, de quarta-feira a domingo
Horário: quarta, quinta, sexta e sábado 20h e domingo e feriados 19h
Entrada gratuita
Reservas de ingressos na semana anterior às sessões através plataforma INTI – acesso pelo site do Itaú Cultural www.itaucultural.org.br . Essa temporada contará com acessibilidade em libras em todas as sessões.
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