Com 30 anos de história, o coletivo tem como linha de pesquisa a comédia popular brasileira e traz um humor crítico para tratar de um tema tão custoso para a nossa sociedade. Fotos: Leekyung Kim
"Comida nas Costas, Barriga Vazia" propõe-se a ser um grito de guerra e socorro, ouvido dos próprios entregadores. A equipe de criação entrevistou diversos motoristas de aplicativos e entregadores, como o Paulo Galo, dos Entregadores Antifascistas. O absurdo, o grotesco e o hiperbólico deste cenário caótico levou a dramaturgia direto à Idade Média e a linguagem estética ao épico cômico. “Trazemos o humor para aproximar o público ao absurdo que estamos vivendo”, diz Ednaldo Freire.
Situar a peça na Idade Média é, mais do que uma escolha artística, uma crítica social: “ainda passamos pelos mesmos problemas? Não evoluímos nada no que diz respeito à classe trabalhadora, que fortalece a economia e luta constantemente pela sobrevivência?”, conta o dramaturgo Alex Moletta, que avança: “Observamos uma classe abastada e dominante mantida, a duras penas, por outra classe que sobrevive numa guerra diária para pagar seus boletos e fazer seus corres. Neste trabalho, continuamos não só a tecer a crítica àqueles que exploram, mas também a buscar mais empatia com a grande massa de trabalhadores proletariados deste país”.
Sobre o espetáculo
Em 2017, a Fraternal Companhia de Arte e Malas Artes estreava o espetáculo Nosotros, um mergulho na experiência imigratória latino-americana em São Paulo e o tema era: os trabalhadores explorados pela indústria têxtil. “O cenário que encontramos foi desolador e nos provocou a continuar uma pesquisa ainda mais aprofundada sobre o universo do trabalho”, conta o dramaturgo.
Nos últimos anos, sobretudo durante a pandemia, a Cia observou que as condições já precárias da grande maioria dos trabalhadores foi piorando: “a concentração de riquezas, a fragmentação de processos, a indústria 4.0 e as perdas constantes de direitos fizeram os trabalhadores não terem mais opção: “o que aparecer eu faço, não tem outro jeito”, conclui.
Sinopse
Imaginem que o mundo que a gente vive não deu certo. Agora imaginem Pluto, o Deus grego do dinheiro, sendo convencido pelo Diabo a criar um mundo novo, com tecnologia 4.0, num tempo que não é esse! Assim começa a história de JÃO, um desmemoriado entregador de aplicativo na idade média que precisa sobreviver a condições absurdas e medievais de trabalho para ganhar o pão de cada dia.
“Em 2017 o governo Michel Temer estabelece a reforma trabalhista e previdenciária, sob a justificativa de acabar com o desemprego e promover o desenvolvimento econômico. Entretanto o que se observou foi o recrudescimento do desemprego e aprofundamento da precarização do trabalho, agravado pela pandemia. As poucas conquistas históricas expressas na consolidação das leis do trabalho, foram destruídos pela nova reforma, arrastando uma legião de desempregados para a chamada uberização. A eles foi vendido a falsa ideia de que no novo sistema, todos são empreendedores e patrões podendo estabelecer a sua própria jornada de trabalho. Entretanto, todos nessa nova ordem, são submetidos a um patrão virtual, uma plataforma que impõe regras, metas sem nenhuma contrapartida ou direitos", afirma Ednaldo Freire.
Ficha técnica
"Comida nas Costas, Barriga Vazia"
Autor: Alex Moletta. Consultoria de texto: Luís Alberto de Abreu. Direção: Ednaldo Freire. Músicas / Direção musical: Carlos Zimbher. Cenário / Figurinos: Luiz Oliveira Santos. Preparação corporal / Coreografia: Tatiane Guimarães. Adereços: Fábio Lusvarghi. Designer gráfico: Toni D’agostinho e Natália Negretti. Fotografia: Leekyung Kim. Assessoria de imprensa: Pombo Correio. Operador de luz: Marco Vasconcellos. Operador de som: Marcos Carreira. Contrarregra: Pitty Santana. Elenco: Aiman Hammoud, Clóvis Gonçalves, Giovana Arruda, Ian Noppeney, Luiã Borges, Maria Siqueira e Mirtes Nogueira.
Serviço
"Comida nas Costas, Barriga Vazia"
De 6 de janeiro a 19 de fevereiro de 2023
Espaço Parlapatões: Praça Franklin Roosevelt, 158 - São Paulo
Quintas, sextas e sábados, às 21h; domingos, às 19h.
Ingressos: Contribuição espontânea
Duração: 100 minutos
Classificação indicativa: 12 anos
Acessibilidade: dois lugares para obesos e dois lugares para cadeirantes.
Projeto contemplado pela 38° edição do programa municipal de Fomento ao teatro para a cidade de São Paulo - Secretaria Municipal de Cultura
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