Com direção de Mário Bortolotto, peça reflete sobre a falta de perspectivas e a falência de filosofias e sistemas econômicos. Crédito: Ronaldo Franco
A história é ambientada em um local que foi conhecido como “Pequena Moscou” no passado, por conta do seu radicalismo político. No entanto, após a queda do Muro de Berlim e do desaparecimento das minas de carvão, a área passou a ser dominada pelo capitalismo e a enfrentar uma grave crise que se prolonga até hoje. “Foram o ritmo dos diálogos e o tema da falta de perspectivas de pessoas do meio operário que me fizeram querer montar esse texto”, conta Bortolotto, que também está em cena.
Ainda estão no elenco Carcarah, Daniel Sato e Nelson Peres. A iluminação é de Caetano Vilela, a cenografia e cenotécnica são de Mariko Ogawa e Seiji Ogawa. O figurino é assinado por Vanessa Deborah. As ilustrações são de Fábio Moon.
Conheça a história
Na trama, Gary é um operário cansado e deprimido. Pai de três filhos, afundado em um casamento fracassado e com ideais socialistas, ele quer mandar uma mensagem para o sistema. Por isso, decide sequestrar Frank, um membro da alta administração, com a ajuda de seu amigo Eddie, um niilista violento, cujo único interesse é causar encrenca.
A dupla leva o industrial para a fábrica de computadores onde trabalha o segurança Tom, um jovem ingênuo recém-formado em Política que acredita ser possível juntar capitalismo com socialismo. Outra importante discussão suscitada pelo espetáculo é se todo ato político é justificado ou se existe uma linha que não deve ser ultrapassada. E toda a narrativa é permeada por humor ácido, característica bastante presente nas montagens do grupo Cemitério de Automóveis.
“O texto de Gregory Burke não tem nenhuma condescendência com seus personagens e expõe uma visão crua de homens desesperançados e amargos que não encontram motivos para ter qualquer vislumbre de futuro. A exceção talvez seja o Garoto Tom, mas suas esperanças acabam implacavelmente esmagadas pelos sequestradores e até mesmo pelo sequestrado, que se mostra ainda mais desiludido e desesperançado do que os seus algozes”, detalha Bortolotto.
Mesmo com as distâncias geográfica e cultural, é possível traçar paralelos entre o contexto de "Gagarin Way", escrito em 2001, e o Brasil de hoje. “A peça é escocesa, mas discute questões universais. Nosso país está dividido, como foi possível constatar na última eleição, em que resvalamos na possibilidade de cair em um sistema de autocracia muito perigoso, depois de 21 anos de ditadura militar e de lutas muito ferrenhas para que consigamos manter a nação com as liberdades democráticas conquistadas”, acrescenta.
A estreia de “Gagarin Way” integra o projeto “Submersivos - Um mergulho nos 40 anos do Grupo Cemitério de Automóveis”, que foi contemplado na 37ª Edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, 01/2021/SMC/CFOC/SFA.
Sobre Gregory Burke
Gregory Burke nasceu em 1968 e, até ser aclamado como um grande dramaturgo, alternava-se entre vários empregos de meio período para poder ter tempo de escrever. "Gagarin Way" foi sua primeira peça - e logo se tornou um grande sucesso.
A primeira montagem estreou em 2001, em Edimburgo e teve uma excelente repercussão. O trabalho ganhou prêmios no Scotsman Fringe First of the Firsts, em 2001, e, em 2002, no Meyer/Whitworth e no Critics' Circle Award. Depois, o autor publicou as peças “Black Watch”, que também foi aclamada pela crítica, “Occy Eyes”, “The Straits”, “Unsecured”, “On Tour”, “Liar”, “Shell Shocked” e “Hoors”.
Sobre Mário Bortolotto
Ator, diretor, autor, sonoplasta, iluminador e vocalista e compositor de rock, Mário Bortolotto escreve para o teatro desde 1981. Nascido em Londrina, no Paraná, tem 13 livros publicados: os romances “Bagana na Chuva” e “Mamãe Não Voltou do Supermercado”; as coletâneas de poesias “Para os Inocentes que Ficaram em Casa”, “Um Bom Lugar para Morrer” e O Pior Lugar que Eu Conheço É Minha Cabeça” ; o compilado de matérias escritas para jornais “Gutemberg Blues”; a reunião de textos de seu blog “Atire no Dramaturgo”; os livros de crônicas “Os Anos do Furação” e “Esse Tal de Amor e Outros Sentimentos Cruéis”, a série de contos “DJ – Canções para tocar no inferno”, além de cinco volumes com seus textos de teatro.
Entre os vários reconhecimentos que recebeu por seu trabalho no teatro, estão o Prêmio Shell de melhor autor, em 2000, pelo texto “Nossa Vida Não Vale um Chevrolet”, e o Prêmio APCA, em 2000, pelo conjunto de sua obra. Os últimos espetáculos dirigidos por ele ao lado do grupo Cemitério de Automóveis foram o autoral inédito “Pequod - Só os Bons Morrem Jovens” (2020); e o western “O Homem que Matou Liberty Valance" (2021), de Jethro Compton, que estreou em formato audiovisual.
Sinopse do espetáculo
Inédita no Brasil, a peça "Gagarin Way", do dramaturgo escocês Gregory Burke, ganha uma montagem do grupo Cemitério de Automóveis, com direção de Mário Bortolotto. O espetáculo mistura discussão política com comédia de humor ácido. Gary é um operário cansado e deprimido, pai de três filhos, afundado em um casamento fracassado, com ideais socialistas, que quer mandar uma mensagem para o sistema e, por isso, sequestra Frank, um membro da alta administração.
Seu amigo e parceiro no sequestro, Eddie, é um niilista violento, cujo único interesse é causar encrenca. O outro personagem é Tom, um jovem ingênuo recém-formado em Política que acredita ser possível juntar capitalismo com socialismo e está trabalhando como segurança na fábrica de computadores que é para onde os sequestradores levam o empresário.
Ficha técnica
"Gagarin Way"
Texto: Gregory Burke
Direção e trilha sonora: Mário Bortolotto
Elenco: Carcarah (Eddie), Daniel Sato (Tom), Mário Bortolotto (Gary) e Nelson Peres (Frank)
Iluminação: Caetano Vilela
Cenografia e cenotécnica: Mariko Ogawa e Seiji Ogawa
Figurino: Vanessa Deborah
Fotografia: Ronaldo Franco
Ilustração: Fábio Moon Produção: Isabela Bortolotto e Paula Klaus
Assistência de direção: Isabela Bortolotto Tradução: Raphael Fucciolo
Assessoria de Imprensa: Agência Fática - Verô Domingues e Bruno Motta Mello
Serviço
"Gagarin Way", texto de Gregory Burke, com direção de Mário Bortolotto
Temporada: até dia 18 de dezembro, de quinta a sábado, às 21h, e aos domingos, às 20h.
Teatro Cemitério de Automóveis: Rua Francisca Miquelina, 155, Bela Vista.
Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada).
Venda direto na bilheteria do teatro sempre uma hora antes do espetáculo.
Classificação: 16 anos.
Duração: 90 minutos.
Capacidade: 50 lugares.
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