O programa já está disponível, para acesso gratuito, nas plataformas digitais. Composto por cinco episódios, o podcast relembra a trajetória de Barreto, a partir de entrevistas com artistas e pesquisadores, além de leituras de trechos da sua obra. O programa homenageia o escritor cuja morte completa cem anos neste dia 1º de novembro.
No Dia de Todos os Santos, 1º de novembro, no bairro de Todos os Santos, subúrbio carioca, Afonso Henriques de Lima Barreto morreu, em 1922. O centenário de falecimento do escritor é oportunidade para tratar de sua trajetória, produção e legado.
Com esse intuito, a Batuta, rádio de internet do Instituto Moreira Salles, lança nesta terça-feira, dia 1º de novembro. o podcast "Lima Barreto: O Negro É a Cor Mais Cortante". Composto por cinco episódios, o programa mostra que o autor de "Triste fim de Policarpo Quaresma" era um expoente da literatura brasileira quando morreu, e não um artista pouco reconhecido, como continua a se dizer.
A série já está disponível, para acesso gratuito, nas principais plataformas digitais, como Spotify, Apple podcasts e Deezer, e no site da Batuta. A concepção, o texto e a apresentação do podcast são de dois profundos conhecedores da trajetória do escritor: Beatriz Resende, professora da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, estudiosa de Lima há mais de 40 anos; e Gabriel Chagas, formado na UFRJ e que atualmente leciona Literatura e Cultura Luso-Afro-Brasileira na Universidade de Miami.
Cada capítulo tem um aspecto em destaque e, pelo menos, uma pessoa convidada. No primeiro, "A Morte e a Vida de Lima Barreto", narram-se os momentos finais do escritor e as referências feitas a ele na imprensa da época. O episódio também ressalta como, nos últimos anos, sua obra vem sendo retomada e celebrada em toda a sua grandeza, com a homenagem pela Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) em 2017, a peça "Traga-me a Cabeça de Lima Barreto", escrita e dirigida por Hilton Cobra, que participa do episódio, e o lançamento de várias publicações sobre ele.
“A obra de Lima Barreto sempre ocupou um lugar peculiar e decisivo na literatura brasileira. Foi o primeiro romancista a trazer a periferia do Rio de Janeiro para a literatura. Apesar de estudos fundamentais dedicados à sua obra, só no século XXI foi definitivamente reconhecido. Mais do que isso, despertou um interesse inédito de jovens leitores negros”, diz Beatriz Resende.
O segundo episódio tem como tema o racismo. Desde a juventude, Lima Barreto foi alvo de forte preconceito, o que registrou em várias de suas crônicas e em romances como Recordações do escrivão Isaías Caminha e Clara dos Anjos. Ele nasceu sete anos antes da abolição da escravatura e foi levado por seu pai para ver a assinatura da Lei Áurea, algo que o marcou muito. O convidado do capítulo é o antropólogo Júlio Tavares, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e nome importante na luta antirracista. A frase “O Negro É a Cor Mais Cortante”, que dá nome ao podcast, está no romance inacabado do autor Cemitério dos vivos.
“Lima Barreto teve, ainda na década de 1910, uma percepção impressionante sobre o racismo na sociedade brasileira. Percebeu, com uma lucidez que muitos ainda não têm hoje, que o racismo entre nós está na espinha dorsal do país e que, portanto, assinar a Lei Áurea não seria o bastante. Se hoje discutimos racismo estrutural, encarceramento em massa e segregação, Lima pavimentou há um século esse caminho para nós”, afirma Gabriel Chagas.
O Brasil é uma vasta comilança, episódio 3, trata da política. Lima Barreto foi um crítico permanente da república, com seu autoritarismo, seu elitismo e seus conchavos. “A república no Brasil é o regime da corrupção”, escreveu. Quem participa do episódio é a historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, professora da USP e autora da biografia "Lima Barreto - Triste Visionário".
O quarto capítulo se chama "O Hospício" e aborda as duas internações do escritor no Hospício Nacional de Alienados. O "Diário do Hospício" é matéria-prima essencial do episódio, do qual participa o psiquiatra Paulo Amarante, professor e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e nome de frente na luta pelo fim dos manicômios.
O podcast termina com o episódio "Rio de Janeiro", cidade pela qual Lima Barreto era apaixonado. A música se faz especialmente presente neste episódio, que conta com depoimento da violonista Marcia Taborda, professora da UFRJ e estudiosa da história da música do Rio de Janeiro. Outro convidado é o historiador e escritor Luiz Antonio Simas, grande tradutor da vida na cidade.
Sobre a Rádio Batuta
A Rádio Batuta foi criada em 2010 tendo como objetivo principal divulgar o acervo musical do Instituto Moreira Salles. A coleção é formada, em sua quase totalidade, por discos de 78 rotações por minuto, produzidos no Brasil entre 1901 e 1964. Os primeiros documentários da rádio foram sobre Noel Rosa e João Gilberto. Ao longo dos anos, a Batuta diversificou seu repertório e realizou séries sobre Jorge Ben Jor, Frank Sinatra, Aracy de Almeida, Pixinguinha e muitos outros, além de programas regulares de jazz e música clássica. Há dois canais 24 horas, um de música brasileira e outro de clássica.
Serviço
Podcast "Lima Barreto: O Negro É a Cor Mais Cortante"
O programa já está disponível, para acesso gratuito, no site da Rádio Batuta, no Spotify, na Apple Podcasts e em outras plataformas de podcasts.
Ficha técnica
Concepção, textos e apresentação: Beatriz Resende e Gabriel Chagas
Roteiro: Evandro Luiz da Conceição
Coordenação: Luiz Fernando Vianna
Locuções: Junior Vieira, Cridemar Aquino e Yasmin Santos
Edição: Filipe Di Castro
Sonorização e finalização: Janaína Oliveira
Pesquisa: Yasmin Santos
Identidade visual: Mariana Mansur
Trilha sonora: gravações presentes no site Discografia Brasileira, do Instituto Moreira Salles.
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