Por Luiz Gomes Otero*, em novembro de 2022.
Erasmo Carlos é um nome gigante. A exemplo do que diz o hino nacional, ele era um gigante pela própria natureza musical. Um gigante gentil. Tanto na sua produção em parceria com Roberto Carlos como na carreira solo, ele deixou uma obra muito interessante que sempre vem sendo redescoberta pelas novas gerações. Por isso é que seu falecimento, ocorrido na última terça-feira, deixa uma lacuna difícil de ser preenchida. Mas, ao mesmo tempo, a sua obra vai manter viva a sua presença em nossa cultura popular.
As declarações de pessoas próximas ao Tremendão descrevem bem a sua personalidade. Silvio Britto, por exemplo, disse que Erasmo tinha um coração enorme, era realmente um amigo com quem você podia contar em momentos difíceis ou mesmo para simplesmente bater um papo.
Sua obra pode ser dividida em três fases distintas. A primeira, nos anos 60, com o advento do programa Jovem Guarda na TV Record, que projetou sua imagem para todo o País. A segunda fase, a partir dos anos 70, quando resolve mudar seu estilo de compor e gravar para ficar mais próximo da MPB. Período esse aliás considerado o mais fértil de sua carreira segundo os críticos.
A terceira fase chega nos anos 80 até os dias atuais, com um som mais radiofônico, próximo do pop nacional e emplacando vários hits como "Mesmo que Seja Eu", "Mulher" e "Minha Superstar", entre outros.
A parceria com Roberto Carlos rendeu hits ao longo de toda sua carreira. As canções como "Detalhes", "Sentado a Beira do Caminho", "Proposta", "O Portão", entre tantas outras que permanecem como clássicos indiscutíveis de nossa MPB.
Tive a sorte de encontrar o Erasmo pessoalmente em São Paulo, no ano de 2005, em uma coletiva de divulgação do DVD 40 anos da Jovem Guarda, que contava ainda com os The Fevers, Golden Boys e Wanderléa. No final da coletiva, pude falar com ele deixando claro minha admiração por seu trabalho. E contei para ele uma curiosidade: para chegar até o local da coletiva, a viatura do jornal teve que subir a Rua Augusta, ou seja, exatamente como descrito na letra de um dos clássicos da Jovem Guarda (Rua Augusta). Ele riu bastante e pediu para incluir esse dado na matéria, desde que o carro não fosse andando a 120 por hora, como dizia a canção cantada pelo saudoso Ronnie Cord. Claro que rimos bastante disso.
A impressão que tive naquele pouco espaço de tempo era de que ele era uma pessoa altamente espirituosa, que mantinha um alto astral permanente. Além de brincar com os demais integrantes do projeto (Wanderléa, Fevers e Golden Boys), ele também mexia bastante com os jornalistas mais antigos quer estavam cobrindo a coletiva, deixando o ambiente leve e agradável.
Caso tenha curiosidade de conhecer um pouco sobre a obra musical do Erasmo, recomendo a audição dos discos "Carlos, Erasmo" (1971), "Sonhos e Memórias" (1972) e "Erasmo Carlos e os Tremendões" (1970). Os três álbuns que marcam a transição da Jovem Guarda para os anos 70 do amigo de fé, do irmão camarada. Do amigo de tantos caminhos e tantas jornadas. Aquele que tem cabeça de homem e um coração de menino. Aquele que está ao nosso lado em qualquer caminhada.
Sentado a Beira do Caminho
Gente Aberta
Filho Único
*Luiz Gomes Otero é jornalista formado em 1987 pela UniSantos - Universidade Católica de Santos. Trabalhou no jornal A Tribuna de 1996 a 2011 e atualmente é assessor de imprensa e colaborador dos sites Juicy Santos, Lérias e Lixos e Resenhando.com. Criou a página no Facebook Musicalidades, que agrega os textos escritos por ele.
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