Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.
Quem possui uma coleção vasta de discos e CDs acaba sempre se deparando de tempos em tempos com sons que proporcionam um sentimento de saudade. No meu caso, essa sensação sempre vem quando eu resolvo ouvir algum disco da cantora Evinha, uma das nossas intérpretes da MPB que há anos reside na França. Com estilo único e intuitivo e dona de uma afinação sem igual, ela sempre consegue trazer as melodias para seu universo cheio de doçura e suavidade na voz.
Para quem não sabe, Eva Correia Jose Maria, a Evinha, começou nos anos 60 como integrante do Trio Esperança, que sempre tinha seu espaço na Jovem Guarda comandada pelo Roberto Carlos. A família Correia aliás era (e ainda é) cheia de talentos musicais. Daí saíram dois grupos: o Trio Esperança, com os irmãos Evinha, Regina e Mario, e os Golden Boys, com os irmãos Renato, Ronaldo, Roberto e mais o primo Valdir.
No final dos anos 60, Evinha ganhou o primeiro lugar no 4º Festival Internacional da Canção cantando a "Cantiga para Luciana", que se tornou seu primeiro hit como artista solo. Em uma entrevista, Beth Carvalho, que acompanhou essa apresentação, comentou que Evinha parecia um passarinho cantando que encantou o público.
Como cantora solo, lançou discos em que interpretava com maestria canções de vários nomes conhecidos, como Roberto Carlos, Taiguara, Marcos Valle e dupla Tibério Gaspar e Antônio Adolfo. Essa dupla aliás assina a marcante canção Teletema, que até hoje Evinha canta nos shows ao vivo.
Seu primeiro disco foi o "Eva 2001", lançado em 1969, que tinha as pérolas "Casaco Marrom", "Sozinha" e "Psiu". No ano seguinte (1970) seu segundo disco tinha uma releitura em ritmo soul de "Something", dos Beatles, além das ótimas "Tema de Eva" (Taiguara) e "Abrace Paul McCartney Por Mim" (de Joyce Moreno).
O terceiro disco solo foi "Cartão Postal", de 1971, que tinha a cândida versão de "De Tanto Amor", de Roberto e Erasmo Carlos. O Rei aliás deve ter ficado orgulhoso dessa bela versão com Evinha. Esse disco tem "Que Bandeira", de Marcos Valle, cantada com a mesma bossa e balanço do autor, além de Feira Moderna, que havia sido gravada pelo grupo Som Imaginário.
O quarto álbum, de 1973, tem outra versão maravilhosa do Rei Roberto: "As Canções Que Você Fez Para Mim". "Como Vai Você", de Antônio Marcos, é outro destaque desse disco. E mesmo as canções menos conhecidas são belas e não soam datadas.
O seu quinto disco, de 1974, intitulado "Eva", tinha como destaque "Sonho Lindo" (que havia sido gravada por Roberto Carlos nos anos 60) e "Seus Olhos Falam Por Você". "Na Baixa do Sapateiro", de Ary Barroso, e "Moon River" (de Henry Mancini, com arranjo soul) são outros pontos essenciais desse álbum.
Na segunda metade da década de 70, Evinha passou a integrar o coro da Grande Orquestra de Paul Mauriat, o que acabou fazendo com que ela visitasse várias partes do mundo. E foi nessa ocasião que conheceu o marido Gerard Gambus, talentoso pianista e diretor musical da orquestra do Paul Mauriat. Passou a morar em Paris com ele, mas sempre que pode ela vem visitar os parentes no Brasil.
Nos anos 90 reativou o Trio Esperança com as irmãs Regina e Marisa. Gravaram discos cantando a capela (sem instrumentos musicais), contando com auxílio luxuoso de Gerard Gambus nos arranjos. A iniciativa não tinha como dar errado. Foi um acerto e tanto, com muitas apresentações pelos países da Europa e uma gravação antológica com Charles Aznavour, um mito da música francesa
Mais recentemente Evinha lançou dois discos cantando acompanhada apenas pelo piano de Gerard Gambus. O mais recente tem releitura magistrais de canções de Guilherme Arantes, incluindo os hits "Êxtase", "Um Dia, Um Adeus" e "Amanhã.
O fato de continuar lançando discos e fazendo shows serve como alento para seus fãs e admiradores. Mas sempre que ouço seus discos, tenho a certeza de ter algo único no toca-discos. Uma interpretação afinada e incrivelmente doce e intuitiva. Evinha é pura emoção.
"Tema de Eva"
"Teletema"
"De Tanto Amor"
Na verdade, o primeiro hit da Evinha foi Casaco Marrom. Depois veio a apresentação no FIC.
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