segunda-feira, 31 de outubro de 2022

.: "O Plano Flordelis" revela bastidores do crime que será julgado em novembro


Julgamento da ex-deputada Flordelis, acusada de mandar matar o marido, será no dia 7 de novembro. A premiada jornalista Vera Araújo revela bastidores do crime no elogiado livro-reportagem "O Plano Flordelis"


Acusada de ser a mentora do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, Flordelis será julgada no dia 7 de novembro, a partir das 9h. O júri estava marcado para começar no dia 12 de dezembro, mas a juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói, decidiu antecipar a data por causa da Copa do Mundo. O crime chocou a opinião pública e serviu como ponto de partida para a investigação da repórter Vera Araújo no livro "O Plano Flordelis", que revela bastidores do caso e mergulha em aspectos pouco conhecidos da vida da acusada.

 Ao lado do marido, Flordelis construiu uma reputação ilibada como missionária, que resgatava menores de idade da comunidade do Jacarezinho, Zona Norte do Rio de Janeiro. Em 2019, o assassinato de Anderson, em Niterói, provocou uma reviravolta na história ao revelar uma rede de intrigas nos bastidores do excêntrico núcleo familiar da parlamentar, que também era pastora evangélica e cantora gospel de renome. Complexo, sobretudo, por tornar suspeitos a esposa da vítima e alguns de seus filhos, biológicos e adotivos, o crime surpreenderia o país também por desvelar uma teia articulada pelo casal para obter prestígio, poder e dinheiro a partir do uso da religião, da família, da mídia, da política e do convívio com celebridades.

Em "O Plano Flordelis", Vera Araújo foi a campo para esmiuçar a trajetória dessa polêmica personagem, desde suas origens familiares até detalhes desconhecidos do julgamento da morte de seu marido. Flordelis começou a ganhar fama ainda na infância, marcada por um aparente poder paranormal: aos 15 anos, ela teria previsto a morte do pai, atingido por uma carreta desgovernada na estrada após a inauguração de um templo evangélico em Guarulhos.

Já adulta, foi presenteada pela mãe com a fundação de uma igreja, sem registro oficial. O local, que também servia como centro de doações e creche informal na comunidade, logo se transformou em abrigo de jovens supostamente resgatados do tráfico. Anderson fazia parte desse núcleo inicial, tendo se juntado à família, a princípio, como namorado da filha biológica de Flordelis. De agregado da Mãe Flor, ele logo passaria a marido dela - e, consequentemente, assumiria também o papel de “pai” de seus filhos.

No livro, a autora mostra quão visceral era a relação dos dois. Anderson, que administrava o salário e todas as finanças da ex-deputada, poucos meses antes do assassinato circulava com um crachá que lhe dava acesso a áreas restritas da Câmara, a ponto de ficar conhecido como “47º deputado federal do Rio de Janeiro”. Também são elencados os motivos por trás da saída de Flordelis da comunidade do Jacarezinho, com seus vinte filhos - entre biológicos, adotivos e de criação,  número que mais tarde aumentaria para 55 - a tiracolo.

Até então conhecida pela fé inabalável e por benfeitorias do trabalho missionário, Flordelis mobilizou uma rede de solidariedade envolvendo empresários e artistas. Sua história inspirou um filme, estrelado por nomes importantes como Cauã Reymond, Deborah Secco e Bruna Marquezine. Em paralelo, Flordelis ascendia no mundo gospel como cantora, inaugurando novas igrejas, arrebanhando cada vez mais fiéis e ganhando espaço em Brasília. Sempre ao seu lado, à sua frente e por trás de seus passos, estava Anderson. Até que tudo ruiu. Flordelis responde por homicídio triplamente qualificado, uso de documento falso e associação criminosa armada. Você pode comprar o livro neste link.


Sobre a autora
Vera Araújo 
é repórter investigativa em O Globo, além de advogada, tendo passado por Jornal do Brasil e O Dia. Em 2005, revelou a existência de grupos paramilitares na região de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, que extorquiam dinheiro de moradores. Foi dela a ideia de batizá-los de milícias. Pela reportagem, ganhou o Prêmio Especial Tim Lopes de Jornalismo Investigativo (2009).

Entre outros prêmios, recebeu o Imprensa Embratel (2003), o Esso Sudeste (2009), o Tim Lopes (2010) e o Troféu Mulher Imprensa (2012). Em 2020, lançou com Chico Otavio "Mataram Marielle", livro que ficou entre os finalistas do Prêmio Jabuti na categoria Documentário e Biografia.

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