Livro de Gonçalo Junior, publicado pela editora Noir, conta a história da Literarte, de Salvador, que se tornou ponto de resistência da esquerda na redemocratização do país, a partir de uma tragédia promovida pelo regime militar
O livro "Literarte - Uma Livraria Fora da Ordem na Ditadura Militar", de Gonçalo Junior, que a editora Noir acaba de enviar para as livrarias, é bem mais que uma narrativa sobre um lugar que se tornou ponto de resistência e luta pela redemocratização do país, entre 1978 e 1985. Como fio condutor da obra está a trágica história de Dinaelza Soares Santana Coqueiro, irmã do fundador da livraria, Getúlio Santana, que foi morta pelo Exército Brasileiro em 1974, na Guerrilha do Araguaia, e seu corpo jamais foi encontrado.
Neste que considera seu melhor livro, Gonçalo - que já biografou Rubem Alves, Herbert Richers, Jacob do Bandolim, Assis Valente, Vadico e outros - apresenta um retrato intenso, empolgante e emocionante de uma geração de baianos das décadas de 1970 e 1980 que se viu descobrir para a vida na militância pelo fim da ditadura e notou que, no meio do caminho, para o bem de todos, havia uma livraria a lhes alimentar o espírito e a mente. Um lugar que vendia também camisetas com mensagens descoladas que faziam todos querer vesti-las e desfilar pela cidade como um gesto de atitude e de sintonia com a luta para mudar tudo à volta.
A partir de depoimentos e entrevistas de quase uma centena de antigos clientes, além dos proprietários Getúlio e o cartunista Nildão, o autor mostra como, das prateleiras da Literarte, podiam ser comprados livros que transformaram, por exemplo, lideranças estudantis em muitos dos mais importantes políticos e intelectuais da esquerda da Bahia nos últimos 40 anos. É um resgate histórico que faz transbordar sonhos e desejos que não morrerão jamais para a maioria dos entrevistados. “É uma obra para tocar o coração das pessoas e trazer esperança nesses tempos terríveis em que vivemos, de ameaça golpista”, diz Gonçalo.
O que disseram sobre a livraria Literarte:
"A Literarte era um símbolo de resistência e coragem para enfrentar aqueles tempos sombrios. E expressava nosso desejo de liberdade e conhecimento." - Lídice da Matta – Senadora
"A Literarte era monitorada o tempo todo. Em Salvador havia um famoso dedo-duro, estava sempre presente nas greves e ficava lá, no meio dos livros, futucando, não comprava nada, vendo o que se vendia." - Geracina Aguiar – Ex-vereadora e exilada
"A Literarte era, naquele momento, um pedaço vivo da Bahia. Um verdadeiro centro cultural." - Juca Ferreira - Ex-ministro da Cultura
"A Literarte foi mais que um símbolo de independência e inteligência. A livraria fez parte de determinada quadra da vida de uma Salvador que lentamente deixou de existir." - Paolo Marconi – ex-correspondente do Estadão na Bahia
"Lá trabalhavam pessoas interessantes, inteligentes, que sabiam lidar com compradores." - Ruy Espinheira Filho – Escritor
"Aquele era um lugar especial para ser feliz." - José Araripe Júnior - Cineasta
"No balcão de adereços eu encontrei tinta para pintar de branco todas as naus na desembocadura do silêncio da minha geração." - Isabel Maria Sampaio Oliveira Lima – Juíza
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