Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.
A cantora e compositora Joyce Moreno é um daqueles casos raros de artista completa. Com uma voz limpa, suave e afinada, ela ainda compõe verdadeiras joias musicais. Seu mais recente disco, Brasileiras Canções, o 42º de sua discografia solo, é um puro deleite para quem gosta da nossa MPB autêntica. A bossa nova é uma influência marcante em sua formação musical. Mas há elementos de jazz e de outras influências em muitos momentos de sua carreira, inclusive nesse mais recente lançamento.
Caso raro de compositora, letrista, cantora, violonista e líder de banda, Joyce assina todos os arranjos e é acompanhada por seu conjunto de base: Hélio Alves (piano), Jorge Helder (baixo) e sua alma gêmea e de som Tutty Moreno (bateria). Alguns músicos são convidados, como as flautas de Teco Cardoso em “Tantas vidas”, o acordeão de Marcos Nimrichter na valsa “Paris e eu”, o segundo violão solista de Lula Galvão somando-se ao de Joyce em “Tantas vidas”, “Brasileiras canções” e “A morte é uma invenção”. E a guitarra de Chico Pinheiro em “Não deu certo (mas foi divertido)”.
Todas as canções são novas e foram compostas de 2020 para cá. A gravação foi realizada entre março e abril deste ano no estúdio da Biscoito Fino, no alto do Humaitá, no Rio de Janeiro. “Brasileiras Canções”, a canção que dá título ao disco, busca traduzir em muitos substantivos – “Uma jura de amor, um feitiço, um encanto/Um quebranto, um destino, uma cruz” – e alguns poucos adjetivos (“Maltratada emoção, desbotada ilusão”) o poder e amplitude da canção brasileira. Cada faixa é uma reafirmação constante do poder das canções como forma de configurar e embelezar o mundo.
Destaco a parceria em “A Morte É Uma Invenção”, na qual Joyce encara na letra o tema da morte com precisão e leveza, compatível com o choro enviado por Moacyr Luz, que canta a faixa com ela: “A vida é passageira/Num barco sem direção/A morte é uma fronteira/Apenas baldeação”.
A letra de “Tantas Vidas” foi escrita pelo poeta português Tiago Torres da Silva que aborda a temática feminina. Curiosamente, Joyce é considerada pioneira nessa temática na música ao longo de sua carreira. Ela canta na primeira pessoa, os versos escritos pelo parceiro: “Eu sou o que bem quiser/Eu sou tantas e não esqueço/ Que ser eu e meu avesso/É o que me torna mulher”. E convidou para dividir o vocal nessa faixa a cantora Mônica Salmaso, um dos nomes de destaque como intérprete da nossa MPB. O samba-choro “Quem Nunca” é cantado em dueto com o especialista no gênero, Alfredo Del Penho, que também toca o violão de 7 cordas.
"Brasileiras Canções" é exatamente aquilo que o título sugere. Traz a magia da nossa autêntica MPB na voz maravilhosa e nas composições inspiradoras de Joyce Moreno. Vale muito a pena conferir esse seu novo disco.
Joyce Moreno - "Brasileiras Canções"
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