terça-feira, 12 de julho de 2022

.: Tom Zé lança “Língua Brasileira” cinco anos após o último lançamento


Cinco anos após o lançamento de “Sem Você Não A”, Tom Zé e Selo Sesc celebram o lançamento de “Língua Brasileira”, álbum que recebe o mesmo nome do espetáculo teatral que estreou em janeiro de 2022 no Sesc Consolação, fruto de uma parceria entre o músico e o diretor teatral Felipe Hirsch, que também assina a direção artística do álbum, com produção musical de Daniel Ganjaman e Daniel Maia.

Em formatos físico e digital, o disco conta com 11 faixas e chega às Lojas Sesc, plataformas de streaming e gratuitamente ao Sesc Digital. “Língua Brasileira” apresenta dez canções inéditas (“Os Clarins da Coragem” foi lançada como single em 22 de abril), nascidas desse mergulho em águas teatrais, profundas e estimulantes.

O resultado são obras inventivas, como “Hy-Brasil Terra sem Mal”, inspirada na crença tupi-guarani da “Terra sem Mal” e na mitológica ilha que figura na cultura celta, denominada Hy-Brasil: uma porção de terra ao norte do oceano Atlântico que passaria períodos cíclicos de sete anos oculta sob grossa neblina, revelando-se aos olhos dos navegantes por um único dia, porém mantendo-se sempre inalcançável às embarcações; e “Pompeia - Piche no Muro Nu”, nascida do espanto do músico com a descoberta dos registros de pichações em latim vulgar nas paredes da cidade de Pompeia, na Itália.

O álbum propõe-se a investigar a língua e a cultura brasileiras, celebrando suas especificidades e riquezas, em contraponto à narrativa colonial e simplificadora da “descoberta” do Brasil e da disseminação da língua portuguesa. Os episódios de massacre e anulação das diferenças sempre existiram, mas não foram suficientes para impedir a mistura do idioma português (ele próprio já fruto de um processo milenar de miscigenação) com a multiplicidade de línguas africanas e indígenas faladas por muito tempo em território nacional.

Sobre o processo de composição e suas inspirações, Tom Zé afirma e destaca a importância de outras culturas para a formação e a construção da língua portuguesa em terras brasileiras: “Foram dois anos de trabalho, de domingo a domingo, com Daniel Maia sempre a meu lado, fazendo um esboço imediato de arranjo, que nos permitia calcular o futuro alcance da música. Neusa, algébrica, imediata, direta! E assim chegamos, com leves arranhões, a este disco com gravações inéditas, que passamos aos vossos ouvidos. Nós nos orgulhamos da língua cantabilee melodiosa que falamos no Brasil. As averiguações mostram que herdamos isso de uma antiga língua africana e negra: o quimbundo. Falamos, com pouso nas vogais, uma língua quase cantada, em vez daquelas consoantes acentuadas preferidas em Portugal”.

“Língua Brasileira” é parte de um projeto ambicioso que contempla, além da criação musical, a pesquisa em linguagem teatral, letras, antropologia e outras disciplinas. Para realizá-lo, Felipe Hirsch e Tom Zé passaram dois anos estudando os primórdios da língua falada no brasil, com a contribuição de dezenas de acadêmicos e especialistas em idiomas diversos – como o tupi, o kimbundo, o celta e o protoindo-europeu – que conduziram a investigação atentos às especificidades brasileiras, no que diz respeito à disseminação da língua portuguesa e suas fusões históricas.

Sobre essas contribuições, Hirsch destaca as participações de artistas e acadêmicos: “Não acredito na quantidade de gente que reunimos em torno disso. O Eduardo Navarro nos ajudando com o tupi, o Caetano Galindo, o próprio Viveiros de Castro que nos deu informações... Foi muita gente reunida. O Caetano escreveu até um texto sobre isso, uma rede fraterna ajudando um pouco a construir esse trabalho, além de Yeda Pessoa de Castro”.

Para Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo, o disco "Língua Brasileira", produzido pelo Selo Sesc, é uma obra admirável de um artista consistentemente inquieto e inspirado. "É também fruto de um trabalho coletivo de investigação artística que tem o apoio do Sesc SP por contribuir com as discussões sobre o conceito de brasilidade e a formação das identidades nacionais”, afirma.


Sobre Tom Zé
Baiano de Irará, aos 85 anos, Antônio José Santana Martins, o Tom Zé, é um dos compositores e arranjadores mais originais e ativos da música popular brasileira. É parte da cena musical do país desde os anos 60, quando integrou o movimento da Tropicália. Nas décadas seguintes, se entrega ao pop experimental e é “encontrado” por David Byrne, ex-Talking Heads, que leva sua obra para os Estados Unidos, tornando-se grande sucesso da crítica internacional. O músico possui mais de 20 álbuns de estúdio.


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