segunda-feira, 11 de julho de 2022

.: Mostra comemora 50 anos de movimento criado por Ariano Suassuna

Ariano Suassuna s.t., 1985 - Óleo sobre madeira Coleção Instituto e-Brasil

"Eu comecei a ficar preocupado com a descaracterização da cultura brasileira. Pensei em reunir um grupo de artistas que atuassem em todas as áreas e que tivessem preocupações semelhantes às minhas para que nós, juntos, procurássemos uma arte brasileira erudita fundamentada nas raízes populares da nossa cultura. E, através dessa arte, a gente lutar contra esse tal processo de descaracterização da cultura brasileira"
- Ariano Suassuna, em entrevista veiculada na Rede Globo Recife, em novembro de 2013.

O Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo (CCBB SP) abre para o público no dia 20 de julho, a mostra “Movimento Armorial 50 Anos”, exposição que reúne arte, encontros musicais e conversas sobre a arte armorial. Este importante movimento artístico lançado no Recife, em 18 de outubro de 1970, foi criado e liderado pelo dramaturgo, professor, pintor e consagrado escritor Ariano Suassuna (1927-2014). O projeto tem o patrocínio do Banco do brasil e BB Seguros, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Com curadoria de Denise Mattar e a coordenação geral de Regina Rosa de Godoy, a exposição ocupará todo o prédio do CCBB SP. Ainda haverá programação especial com espetáculos musicais e eventos para debater o legado do movimento armorial. A mostra também oferece atividades interativas e acesso a conteúdos digitais como o tour virtual da mostra e playlist em streaming de áudio.

Como destaque, o público poderá conferir cerca de 140 obras de arte (a maioria nunca havia saído do Recife), em diversos formatos, de artistas importantes para o Movimento Armorial, dentre eles o próprio Ariano Suassuna, Francisco Brennand, Gilvan Samico, Aluísio Braga, Zélia Suassuna e Lourdes Magalhaes. “A exposição é fiel à proposta de Ariano Suassuna, apresentando às novas gerações o trabalho pioneiro e engajado do autor, mostrando como ele propunha uma volta às raízes brasileiras, com profundo respeito à diversidade e às tradições, mas apresentando tudo de forma mágica, lúdica, e plena de humor — um humor que faz pensar”, afirma Denise Mattar.

A exposição
Ao entrar no CCBB SP o público é recebido pela Onça Caetana, elemento cenográfico inspirado nos desenhos de Suassuna, e que é a anfitriã da exposição. Organizada em núcleos, a mostra toma conta de todo o CCBB São Paulo. Em cada um deles foi definido um tratamento expográfico exclusivo que traz à tona a diversidade, as tradições e as mais representativas raízes da cultura popular nordestina, tal qual idealizado por Ariano Suassuna.

E, conforme explicitado pela produtora Regina Rosa de Godoy, de forma mágica, lúdica e plena de humor. A imersão do visitante no fascinante universo da arte Armorial começa no Quarto Andar, com o núcleo Ariano Suassuna, Vida e Obra, que traz uma completa cronologia ilustrada, livros e manuscritos do autor e vídeos de suas famosas aulas-espetáculos. Um mergulho cultural no fértil imaginário criativo do mestre. Nesta etapa, Suassuna também ganha destaque o alfabeto sertanejo, criado com base na pesquisa "Ferros do Cariri, uma Heráldica Sertaneja".

O terceiro andar é dedicado aos figurinos criados pelo artista plástico pernambucano Francisco Brennand (1927-2019) para o filme "A Compadecida" (1969), primeiro longa-metragem dirigido por George Jonas baseado na consagrada peça "Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna. Além de 12 desenhos realizados em nanquim aquarelado, são apresentados também figurinos dos cinco principais personagens da história. 

A indumentária da "Compadecida" é original do filme, já os figurinos do Palhaço, Diabo, João Grilo, e Emanoel - o Cristo Negro, foram recriados especialmente para a exposição pela figurinista Flávia Rossette. O público também poderá assistir cenas do filme "A Compadecida", que reunia um elenco famoso, incluindo Antonio Fagundes, Armando Bógus e Regina Duarte, e fotos da filmagem realizada em Brejo da Madre de Deus, Pernambuco.

No segundo andar são apresentados os dois momentos do Movimento Armorial, a chamada "Fase Experimental" (1970-1974) e a "Segunda Fase" (1975 - 2000). “Fase Experimental” apresenta o início do movimento que foi lançado no dia 18 de outubro de 1970 com uma exposição de artes plásticas e uma apresentação da Orquestra Armorial. Entre os artistas plásticos desse período estão representados: Aluísio Braga, Fernando Lopes da Paz, Miguel dos Santos, Fernando Barbosa e Lourdes Magalhães.

Há, também, a "Sala Especial Samico", um destaque dado pela curadoria da mostra, acentuando a coerência e permanência do trabalho de Gilvan Samico (1928-2013), alinhado desde os anos 1970 até 2013, aos princípios do Armorial. Muito conhecido por suas xilogravuras o artista também é representado na exposição por pinturas.

Neste módulo é também resgatado o trabalho da Orquestra e do Quinteto Armorial, grupos que atuaram com grande sucesso, criando uma música erudita com influência popular. O premiado Quinteto Armorial teve como integrantes figuras consagradas da música, como o maestro, violonista e compositor Antônio José Madureira e o multiartista Antônio CarlosNóbrega. O grupo gravou quatro LPs, discografia que a exposição revisita com capas de discos, além de fotos e instrumentos musicais.

A “Segunda Fase” do Movimento Armorial, também apresentada no Segundo Andar do CCBB SP, reúne as iluminogravuras de Ariano Suassuna, as litogravuras, cerâmicas e tapeçarias de sua esposa Zélia Suassuna, pinturas de Romero de Andrade Lima, de Manuel Dantas Suassuna, e espetáculos do Grupo de Dança Grial.

A palavra "iluminogravura" é um neologismo criado por Ariano Suassuna mesclando as palavras iluminura e gravura. Nesses trabalhos é possível ver uma faceta pouco conhecida de Ariano, o artista plástico, interagindo com o escritor. O autor produziu dois álbuns, cada um contendo dez pranchas: "Sonetos com Mote Alheio" (1980-84) e "Sonetos de Albano Cervonegro" (1985-87) que juntos formam uma autobiografia poética.

As "Ilumiaras" (outro neologismo criado por Suassuna) são locais de arte e cultura que foram implementados por Ariano quando Secretário da Cultura de Pernambuco. As Ilumiaras Acauhan, Jaúna, Zumbi, Coroada e Pedra do Reino são apresentadas através de painéis fotográficos. A dança é retratada em fotos, figurinos e projeções, através do Balé Grial, criado por Ariano e pela bailarina e coreógrafa Maria Paula Costa Rêgo em 1997.

No primeiro andar está o módulo “Armorial - Hoje e Sempre”, reunindo produções de Cinema e TV, realizadas a partir das peças teatrais de Suassuna, como Farsa da Boa Preguiça, A Pedra do Reino, O Auto da Compadecida, e o espetáculo Lunário Perpétuo de Antônio Nóbrega.

No subsolo o público se encantará com o módulo “Armorial – Referências”, contemplando a beleza das xilogravuras, assinadas, entre outros, por J.Borges, Mestre Noza e Mestre Dila, entre outros, e também a Cidade de Cordel, criada especialmente para a exposição por Pablo Borges, filho de J.Borges. Trata-se de um espaço instagramável que permite uma lúdica viagem pela cultura popular, com seus causos e singularidades.

Finalizando a exposição há referências a folguedos populares, como o Maracatu, o Reisado e o Cavalo-Marinho, reunindo máscaras, trajes, fotos, vídeos, estandartes e adereços. Importante lembrar que a mostra conta com obras de colecionadores particulares, artistas e instituições que disponibilizaram obras à exposição Movimento Armorial 50 Anos, como a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM), Oficina Brennand, Manuel Dantas Suassuna, Familia de Gilvan Samico, Diogo Cantareli, Maria Paula Costa Rêgo, J. Borges, Lourdinha Vasconcelos, entre outros.

Para os meses de agosto e setembro, o público terá um contato ainda mais profundo com este Movimento. É quando uma série de eventos denominados “Conversas sobre a Arte Armorial” e “Espetáculos de Música Armorial” entra na programação em paralelo à exposição. A rica programação conta com um evento especial - “Aula Espetaculosa - Do Mendigo ao Pintor” - apresentada por Manuel Dantas Suassuna, filho de Ariano, em que o artista plástico retoma e desdobra seus caminhos na arte a partir de uma primeira influência armorial de seu pai e de artistas da época e atuais. Esta série de eventos apresenta e recria para o público do CCBB São Paulo a atmosfera de compartilhamento de ideais e a efervescência cultural da época, capitaneada por Ariano Suassuna e os artistas envolvidos.

"Conversas sobre a Arte Armorial" será um ciclo de encontros teóricos/temáticos que abordará a criação Armorial nos diversos gêneros: Literatura, Teatro, Música, Dança e Artes Visuais. Para explorar a versatilidade do Movimento Armorial e a interlocução com as várias linguagens artísticas, o curador convidado é o poeta, professor, ficcionista e ensaísta Carlos Newton Júnior, um dos consultores da exposição e especialista na obra de Ariano Suassuna.

“Ao promover uma retrospectiva dos 50 anos do Armorial, a exposição deixa claro que a poética do Movimento idealizado por Ariano Suassuna continua viva e fecunda, indicando uma direção que vem sendo seguida por artistas de mais de uma geração, cada um deles percorrendo o seu próprio caminho. Não há que se falar, portanto, em uniformização ou tolhimento à liberdade criadora, muito pelo contrário. A riqueza inesgotável da cultura popular, fonte maior da arte armorial, com seus elementos ibéricos, indígenas e africanos, induziu a criação de uma poética aberta, que nos liga, em última instância, tanto à tradição da cultura mediterrânica quanto às tradições da arte popular de países do terceiro mundo”, diz Carlos Newton Júnior.

A série Espetáculos de Música Armorial reúne músicos de altíssima qualidade e que atuam em variados estados brasileiros, que apresentam no palco novos, e os já consagrados, compositores de música Armorial. Da Paraíba, de Curitiba, do Rio de Janeiro, São Paulo e Pernambuco.

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Gilvan Samico Pe. Cícero Romão (Tríptico), 1974 - Óleo sobre aglomerado. Coleção Universidade Federal de Pernambuco

Informações complementares
O conceito da exposição foi traçado pela premiada curadora Denise Mattar, que fez um minucioso trabalho de pesquisa e garimpagem no vastíssimo acervo do Movimento para rememorar - com delicadeza, encanto e graça - a riqueza dos saberes e fazeres culturais impregnados na arte Armorial. A expografia e arquitetura ficaram sob a responsabilidade do designer Guilherme Isnard.

A consultoria é do artista plástico Manuel Dantas Suassuna (filho de Ariano Suassuna) e do poeta, ficcionista, ensaísta e professor da Universidade Federal de Pernambuco, Carlos Newton Júnior. Já a identidade visual é assinada por Ricardo Gouveia de Melo e Ana Lucas. Por fim, projeto e coordenação geral é da produtora Regina Rosa de Godoy, diretora da empresa R. Godoy Marketing e Cultura: “Levar esta exposição para São Paulo, cidade que sempre recebeu e acolheu milhares de nordestinos, é levar um pouco da terra, do sotaque, da alegria, da esperança e da brasilidade do nordeste. E uma grande responsabilidade apresentar esta efervescência cultural do Movimento Armorial para as novas gerações em variados estados, valorizando e ampliando o olhar para a cultura popular. Como filha e neta de nordestinos levar esta exposição para o CCBB São Paulo é unir mundos em torno do armorial", diz Regina Godoy.

A mostra “Movimento Armorial 50 Anos” surgiu com um compromisso ousado: reapresentar ao público, sobretudo às novas gerações, a proposta singular e desafiadora de Ariano de criar, há pouco mais de cinco décadas, uma arte erudita a partir das mais autênticas e tradicionais manifestações artístico-culturais populares do Nordeste e de outras regiões do país. Concebida para marcar o cinquentenário do Movimento Armorial, comemorado em outubro de 2020, o projeto teve seu lançamento postergado devido à pandemia de Covid-19, e chega em São Paulo após ter passado pelo CCBB Belo Horizonte e Rio de Janeiro com enorme sucesso. Após São Paulo, a mostra segue para o CCBB Brasília.

Do preto e branco das xilogravuras, passando pelo multicolorido dos ornamentos e fantasias das festas populares e pelas coreografias das danças. Pelos ritmos dos cantos e da música, de sons de rabeca, pífano e viola. Pela sonoridade dos versos dos cordéis e dos cantadores. Todos os caminhos conduzem a uma experiência única. Uma trilha cultural sem fronteiras, como a ideia plantada, lá atrás, por Ariano e que, agora, chega revigorada, pouco mais de 50 anos depois, à exposição. 

A exposição oferece ainda outro presente para o público: quem quiser pode fazer o tour pela exposição ouvindo duas horas de musical Armorial acessando o código QR localizado em alguns lugares da mostra. A playlist está no Spotify do Banco do Brasil e oferece o espectador mergulhar ainda mais no eclético, múltiplo e fantástico universo do Movimento criado, em 1970, por Ariano Suassuna. Só conferir: https://open.spotify.com/playlist/3khehNaZ5lMS4IULmn6TQq?si=nhbnKdEsQk6-thJQJm86Xg&utm_source=whatsapp&nd=1


Acessibilidade
A exposição Movimento Armorial 50 Anos segue padrões de acessibilidade e inclusão. Contará com audioguia bilíngue e com recursos do aplicativo Musea, plataforma de conteúdo voltado para exposições, que permite uma melhor inserção nos conteúdos, com audiodescrição, visita em libras, além de trazer mais informações, como curiosidades e visitas virtuais.


Serviço
“Movimento Armorial 50 Anos”
Tour virtual: https://tourvirtual360.com.br/armorial/
Período da exposição:
de 20 de julho a 26 de setembro de 2022
Entrada gratuita - Ingressos disponíveis em: https://www.eventim.com.br/ ou presencialmente na bilheteria do CCBB

Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo
Endereço:
rua Álvares Penteado, 112 - Centro Histórico de São Paulo.
Horário de funcionamento: todos os dias, das 9h às 20h, exceto às terças.
Entrada acessível: pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida e outras pessoas que necessitem da rampa de acesso podem utilizar a porta lateral localizada à esquerda da entrada principal.

Estacionamento conveniado e traslado de vans: o CCBB possui estacionamento conveniado na Rua da Consolação, 228 (R$ 14 pelo período de 6 horas - necessário validar o ticket na bilheteria do CCBB). O traslado é gratuito para o trajeto de ida e volta ao estacionamento. No trajeto de volta, tem parada na estação República do Metrô. As vans funcionam entre 12 e 21h.

Transporte público:
o Centro Cultural Banco do Brasil fica a 5 minutos da estação São Bento do Metrô. Pesquise linhas de ônibus com embarque e desembarque nas Ruas Líbero Badaró e Boa Vista. 

Táxi ou aplicativo:
desembarque na Praça do Patriarca e siga a pé pela Rua da Quitanda até o CCBB (200 m)

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