sábado, 23 de julho de 2022

.: Entrevista: Mimi Wankenne canta o sertão em música que vem da alma

"Não existe vida sem música", afirma a artista que canta o sertão nordestino.

Por Helder Moraes Miranda, editor do Resenhando. 

Cantora e compositora brasileira, Mimi Wankenne, vem se destacando no cenário musical nacional. Ela acaba de lançar “Sertão nos Olhos Meus” - trabalho em que o sertão inteiro atravessa a visão delicada e a voz de sereia desta artista ímpar e peculiar tamanho é a originalidade do timbre de voz inconfundível e a essência do talento que ela carrega.

O sertão de Luiz Gonzaga e Dominguinhos é reinterpretado nesse trabalho, en que a música regional se mistura com a atmosfera urbana de Mimi Wankenne. Permeadas pela delicadeza da voz da artista, as participações especiais de Mestrinho na sanfona e Jaques Morelenbaum no violoncelo encontram a percussão moderna de Marcos Suzano, o Wurlitzer de Agenor de Lorenzi e a harmonia dos graves de Ebinho Cardoso. É, sem dúvida, um novo olhar à terra ardente sertão, tão sensível quanto inusitado. A voz de Mimi Wankenne é a esperança de um novo Brasil.

Resenhando.com - O que representa a música em sua vida?
Mimi Wankenne - 
Música é o meu respiro embaixo d’água. Meu alívio à dor. 

Resenhando.com - Como e quando começou a cantar?
Mimi Wankenne -
Aos oito anos minha melhor amiga tocava e cantava uma melodia clássica no violão no corredor externo do apartamento onde eu morava em São Paulo. Meus pelos levantaram quando eu cheguei pelo elevador, e eu sorri. Precisava fazer aquilo também: tirar som do instrumento, cantar e ver o milagre da música entrando nas portas e ouvidos, como entrara nos meus. Comecei a tocar e violão, depois cantar e foi um caminho sem volta. 

Resenhando.com - Como se dá o processo de seleção para as músicas que canta? 
Mimi Wankenne -
Por muito tempo meu apego maior era mais com a melodia e a harmonia. Eu cantava pelo som. Depois que deixei o Brasil, em 2012, e fui morar fora isso mudou. Fui arrastada por uma nova necessidade, de enraizamento, que ia além do som e precisava de palavras e explicação. Apareceu então pra mim um novo Brasil, com novos ritmos e poesia, suprindo um vazio e me trazendo a sensação de pertencimento.


As músicas precisam dizer algo a você, ou passar alguma mensagem que você gostaria de comunicar?
Mimi Wankenne - 
Hoje eu busco letra sim, expressão, mensagem e o som.

Resenhando.com - Na hora de escolher uma canção, qual é a mensagem que você prioriza? 
Mimi Wankenne - 
Priorizo os sentimentos que mais pulsam e precisam sair de mim: amor, tristeza, solidão e dor. 

Resenhando.com - Quem são as suas referências na música? 
Mimi Wankenne - 
Quando criança ouvia os álbuns em vinil do Nenhum de Nós e Balão Mágico. A raiz mineira e caipira da minha mãe e a influência latina de Mercedes Sosa e da música country e pop americana do meu pai europeu também sempre estiveram presente. Mais tarde descobri a bossa de João (Gilberto), (Tom) Jobim e da Rosa (Passos), a música popular de (Gilberto) Gil, Chico (Buarque) e Caetano (Veloso) e o sertão regional de Dominguinhos e Luiz Gonzaga, com uma pitada do jazz de Miles (Davis) e Ella (Fitzgerald). Foi tudo pro caldeirão. 


Resenhando.com - Qual é o papel da música no Brasil de hoje? 
Mimi Wankenne - 
Acho que a música no Brasil vai além do entretenimento, está na nossa raiz cultural, faz parte da vida de cada brasileiro, é uma necessidade. A gente tem uma canção para cada momento da vida, para cada encontro, evento, candidato, escola, confraternização. Nós nos identificamos com as vozes, com os artistas. Sofremos, dançamos e confraternizamos com música, desde os nossos índios e escravos africanos até os dias de hoje. Não existe vida sem música aqui. 


Resenhando.com - É possível viver de música no Brasil?
Mimi Wankenne - 
É possível sim, claro. Não é fácil, mas nada é, não é mesmo? O mercado é grande e a demanda também.

Resenhando.com - Para você, quais as características separam uma música boa de uma ruim?
Mimi Wankenne - 
Não sei muito falar de música ruim… Já a boa, pra mim, é aquela que vem de dentro. 


Resenhando.com - Você tem algum talento oculto? 
Mimi Wankenne - 
Não me considero uma pessoa com muitos talentos… mas desde pequena gosto de drible e bola, jogo bem futebol e adoro fotografia.


Resenhando.com - Se pudesse escolher somente uma música para ouvir para o resto da vida, qual seria e por quê?
Mimi Wankenne - 
Nossa, não faz isso comigo! Uma música só para o resto da vida??? Não!!!!!


Resenhando.com - Por que cantar o sertão nordestino?
Mimi Wankenne - 
Sempre gostei do nordeste, dos ritmos e das histórias sofridas cantadas com a alegria do sertão. No início da pandemia comecei um curso on-line de forró com o Sandro Haick, um músico multiinstrumentista que trabalhou muito tempo com Dominguinhos. Ele nos apresentou além daquele nordeste que eu conhecia, contou inúmeras histórias que viveu ao lado de Dominguinhos, dos shows, da vida, das composições. Foi inevitável cantar o sertão e experimentar uma nova leitura dele depois desses encontros.


Resenhando.com - O que Luiz Gonzaga e Dominguinhos ainda têm a dizer no Brasil de hoje?
Mimi Wankenne - 
Eles vão ter a dizer sempre, levaram para todo o nosso país a cultura musical do nordeste e popularizaram com a sanfona, a zabumba e o triângulo ritmos como baião, xote, xaxado, forró, pé de serra… Essa parte do Brasil a gente vai sempre querer cantar e honrar. 


Resenhando.com - Quem é a Mimi Wankenne, pela própria Mimi Wankenne?
Mimi Wankenne - 
Mimi é artista, sensível, expatriada, inquieta e em constante transformação. Vive rodando pelo mundo, morou no Brasil, na China e nos Estados Unidos. Carrega sempre uma mala de dúvidas e precisa das raízes e de muita música para sobreviver. Queria ser mais, mas tento ser feliz com o que sou. 


+ Mimi Wankenne
Ouça aqui: https://tratore.ffm.to/sertao
Veja mais: http://bit.ly/mimiwankenne

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