terça-feira, 28 de junho de 2022

.: Instituto Moreira Salles promove seminário on-line sobre povos indígenas

A programação, que acontece nos dias 29 e 30 de junho, reunirá pesquisadores e artistas para discutir o tema. Com transmissão ao vivo pelo YouTube e Facebook, o seminário é um evento preparatório para a exposição Xingu, prevista para outubro no IMS Paulista. Ritual do Jawari, no Alto Xingu, 1955. Crédito: Henri Ballot / Acervo Instituto Moreira Salles


Nos dias 29 e 30 de junho, quarta e quinta-feira, o Instituto Moreira Salles realiza o seminário virtual Arquivos de imagens de povos indígenas. Composta por quatro encontros gratuitos, a programação reunirá pesquisadores e artistas para debater a representação dos povos indígenas em acervos históricos de filmes e fotografias. O seminário será transmitido ao vivo pelos canais de YouTube e Facebook do IMS, com interpretação em Libras.

 Como avançar na identificação das imagens desses acervos? Como expô-las? Como os povos indígenas podem participar desses processos e criar novas narrativas para os registros? Questões como essas serão abordadas no seminário, que é um evento preparatório para a exposição "Xingu", prevista para o mês de outubro no IMS Paulista.

A programação inicia no dia 29 de junho, às 14h, com uma mesa composta pela antropóloga Marlene Moura, professora da PUC Goiás, pelo curador e antropólogo Thiago Oliveira e pela historiadora Vanessa Cavalcante, do núcleo de catalogação e difusão do IMS. Os três conversarão sobre os desafios de repensar a catalogação desses acervos. 

Historicamente, imagens de indígenas, produzidas por não indígenas, foram arquivadas com informações insuficientes ou incorretas sobre as pessoas e os lugares documentados. Como ampliar esses dados e rever a forma como são apresentados? A mediação será de Roberta Zanatta, responsável pela gestão do banco de dados do IMS.

Em seguida, às 17h, serão debatidos os desafios enfrentados pelas instituições que abrigam e expõem coleções dessa natureza, abordando como pesquisadores e comunicadores indígenas podem atuar nesse campo. O encontro terá a presença de Gustavo Caboco, artista visual Wapichana, do músico e poeta Santo Cruz Mariano Clemente Ticuna e do historiador Suzenalson Kanindé, com mediação de Ileana Ceron, responsável pelo Núcleo de Pesquisa em Fotografia do IMS.

O seminário continua no dia 30 de junho, às 14h, com uma conversa sobre iniciativas de devolução que, nos últimos anos, têm buscado levar imagens históricas de indígenas de volta aos povos retratados. A mesa abordará a forma como essas ações são organizadas e como se dá o diálogo com as comunidades envolvidas. Participam do bate-papo o fotógrafo e videojornalista Kamikia Kisêdjê, o antropólogo Renato Athias, professor da Universidade Federal de Pernambuco, a arquiteta e curadora Valentina Tong e Rachel Rezende, do departamento de Fotografia do IMS, que fará a mediação da fala.

Às 17h, o evento encerra com uma mesa a respeito da reapropriação das imagens dos acervos históricos por parte de artistas, escritores e pesquisadores indígenas. Como esses registros podem ser usados para a criação de novos trabalhos e olhares sobre a trajetória dos povos indígenas no Brasil? O debate será composto pela artista Gê Viana, pelo cantor e pesquisador Yamalui Kuikuro e pela escritora Márcia Mura, com mediação de Guilherme Freitas, editor-assistente da revista serrote e cocurador da exposição Xingu, junto com o cineasta Takumã Kuikuro.

Sobre a exposição
Em outubro, o Instituto Moreira Salles Paulista inaugura a exposição "Xingu". A mostra discutirá o papel das imagens na história da relação entre indígenas e não indígenas no Xingu. Berço de um sistema social milenar, o território foi alvo recorrente da violência do colonialismo. Foi palco também da primeira grande demarcação de terras indígenas no Brasil e inspiração para a luta por direitos indígenas e pela preservação da Amazônia. 

Esses movimentos foram acompanhados por uma profusão de imagens: dos registros de viajantes europeus à documentação de expedições do Estado brasileiro, da intensa cobertura na imprensa sobre o Parque Indígena do Xingu até a revolução desencadeada pelo audiovisual indígena. A exposição interrogará as múltiplas representações do local, colocando obras do acervo do IMS e de outros arquivos em diálogo com o trabalho de artistas e comunicadores indígenas.


Serviço
Seminário on-line "Arquivos de Imagens de Povos Indígenas"
Quarta e quinta-feira, dias 29 e 30 de junho
Gratuito
Ao vivo pelo YouTube e Facebook do IMS
Transmissão com interpretação em Libras (Língua Brasileira de Sinais) pelo YouTube e opção de legendas automáticas para quem assistir pelo Facebook.


Programação completa
29 de junho (quarta-feira)
14h | Mesa 1 | Acervos
Com Marlene Moura, Thiago Oliveira e Vanessa Cavalcante. Mediação: Roberta Zanatta

17h | Mesa 2 | Museus
Com Gustavo Caboco, Santo Cruz Mariano Clemente Ticuna e Suzenalson Kanindé. Mediação: Ileana Ceron

 
30 de junho (quinta-feira)
14h | Mesa 3 | Devoluções
Com Kamikia Kisêdjê, Renato Athias e Valentina Tong. Mediação: Rachel Rezende

17h | Mesa 4 | Reapropriações
Com Gê Viana, Márcia Mura e Yamalui Kuikuro. Mediação: Guilherme Freitas


Participantes

Marlene Moura
É doutora em antropologia pela Universidade Marc Bloch de Estrasburgo (2000). Atualmente, é professora titular da Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC Goiás e integra o Programa de Pós-Graduação em História/PUC Goiás. Participa do grupo de Pesquisa sobre Patrimônio Cultural do CNPq e coordena o projeto de Pesquisa de Qualificação das Imagens da Coleção Audiovisual Jesco Puttkamer.


Thiago Oliveira
Antropólogo, curador e documentarista. Atualmente, é pesquisador de pós-doutorado no Museu Etnológico e no Jardim Botânico, Museu Botânico em Berlim (Gerda Henkel Stiftung). Desde 2011, atua em colaboração com comunidades indígenas da Amazônia em contextos relacionados a museus. Em seu trabalho, coleções etnográficas, de história natural e acervos audiovisuais são usados como ponto de partida para se pesquisar a arte, o território e a tecnologia da floresta amazônica e de seus povos, bem como os limites das ciências e tradições de conhecimento ocidentais em compreendê-los.


Vanessa Cavalcante
Historiadora de formação, atualmente cursa o doutorado no Programa de Pós Graduação em História da Unirio. Atua desde 2008 na área de catalogação e difusão de acervos, tendo passado por instituições como CPDOC/FGV e Museu da Imagem e do Som (MIS/RJ). Desde 2019 integra o Núcleo de Catalogação e Difusão do Acervo do IMS.


Gustavo Caboco
Artista visual Wapichana, trabalha na rede Paraná-Roraima e nos caminhos de retorno à terra indígena Canauanim. Sua pesquisa se produz nos encontros com os parentes e é apresentada através de desenhos, bordados, textos, vídeos, murais, performances e objetos.


Santo Cruz Mariano Clemente Ticuna
Músico e poeta do povo Ticuna. Possui graduação na área de ciências humanas em antropologia, sociologia e filosofia. Desde 2018 é diretor do Museu Magüta. Trabalhou na área de educação durante 38 anos e participou de movimentos indígenas, sempre defendendo os direitos indígenas como um todo, na preservação da cultura, do meio ambiente e na luta contra a discriminação. Foi presidente da OGPTB (Organização Geral dos Professores Ticuna Bilíngues) entre 2000 e 2001.


Suzenalson Kanindé
Indígena do povo Kanindé do estado do Ceará, mestre em humanidades pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira - UNILAB. Doutorando em história pela Universidade Federal do Ceará. Coordenador do Ponto de Cultura e Memória: Museu Indígena Kanindé. Professor da Escola Indígena Manoel Francisco dos Santos. Membro articulador da Rede Indígena de Memória e Museologia Social no Brasil. Representante da Rede Indígena de Museus Indígenas no Comitê Gestor de Políticas Culturais Indígenas no Ceará-- SECULT -- Ceará.


Kamikia Kisêdjê
Do Território Indígena do Xingu, MT. Formado pelo Vídeo nas Aldeias, é videojornalista e fotógrafo. Registra manifestações culturais e políticas que difunde em seu canal na web, é agente multiplicador em oficinas de audiovisual por todo o país e ainda ativista do movimento de discussão das mudanças climáticas. Essa múltipla atuação o vem tornando uma liderança para seu povo e referência para diversas comunidades e cineastas indígenas em formação.


Renato Athias
Antropólogo, é professor da Universidade Federal de Pernambuco, coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Etnicidade (Nepe) e professor associado do programa de pós-graduação em antropologia da UFPE e do máster em antropologia ibero-americana da Universidade de Salamanca na Espanha. Doutor em antropologia pela Universidade de Paris X (França), ele estudou mídia e televisão na Universidade de Southampton (Reino Unido), com bolsas do British Council. Trabalhou em antropologia com povos indígenas do Brasil, em questões de xamanismo, saúde, depois em antropologia visual em coleções etnográficas e museologia. Desenvolveu inúmeros projetos de pesquisa com os povos indígenas de Pernambuco e da região do Rio Negro, na Amazônia. Publicou vários livros e artigos e fez filmes enfatizando a política de reconhecimento e o conhecimento dos povos indígenas da Amazônia. É pesquisador do CNPq e atualmente é o vice-presidente da Comissão de Museus e Patrimônio Cultural (COMACH) da União Internacional das Ciências Antropológicas e Etnológicas (IUAES).


Valentina Tong
Arquiteta, fotógrafa e curadora. Foi curadora-assistente do departamento de Fotografia Contemporânea do Instituto Moreira Salles (2014 a 2020). Curadora-assistente das exposições Claudia Andujar: no lugar do outro (IMS, 2015) e Claudia Andujar: a luta Yanomami (IMS, 2018).


Gê Viana
Inspirada pelos acontecimentos da vida familiar e seu cotidiano em confronto com a cultura colonizadora hegemônica e seus sistemas de arte e comunicação, Gê produz colagens decoloniais a partir de imagens de arquivo, criando experimentos urbanos em formato lambe-lambe.


Márcia Mura
Marcia Mura, nome étnico e político. Márcia Nunes Maciel, nome do registro oficial. Tanãmak, nome espiritual recebido por Namãtuyky. Nasceu em Porto Velho (RO), às margens do rio Madeira, território ancestral Mura. Autora do livro Espaço lembrado: experiência de vida em seringais da Amazônia. Faz parte da Antologia: as 29 poetas hoje - 2021, organizada por Heloisa Buarque de Hollanda. Recebeu o prêmio de intercâmbio cultural do Ministério da Cultura em 2010. Doutora em história social pela USP e membra conselheira do movimento Wayrakunas, atua na articulação de mulheres indígenas.


Yamalui Kuikuro
Filho de Kumatsi Mehinaku e Yamunua Ipi kuikuro, neto do pioneiro tradutor, lutador e conhecedor da cultura Kuikuro, Nárru Kuikuro. Vive na aldeia Ipatsé Kuikuro, na terra indígena do Xingu (MT). É pesquisador indígena e cantor, tendo escrito a história da vida e da luta de seu avô, Nárru Kuikuro.


Guilherme Freitas
(Rio de Janeiro, 1983) é editor-assistente da revista serrote e professor no curso de jornalismo da ESPM-Rio.


Roberta Zanatta
Responsável pela gestão do banco de dados e pela difusão de acervos em formato digital do IMS. Atua na área de pesquisa, preservação, catalogação e difusão de arquivos fotográficos há 17 anos. Trabalhou em projetos de organização de acervos junto ao setor audiovisual do CPDOC da FGV e ao Departamento de Arquivo e Documentação da Fiocruz. De 2008 a 2012, coordenou o setor iconográfico do Museu da Imagem e do Som do Rio.


Ileana Ceron

Pesquisadora e historiadora de arte, é mestra em história social da cultura pela PUC-Rio. Foi diretora da Divisão de Artes Visuais no Instituto Municipal de Arte e Cultura (RioArte). É autora de Marc Ferrez: uma cronologia da vida e da obra (2019) e coautora da Coleção Palavra do Artista (2000). Organizou os livros Galeria de artistas: Centro Empresarial Rio 1983-1990 (2020) e Kant: crítica e estética na modernidade (1999). No Instituto Moreira Salles desde 2016, é responsável pelo Núcleo de Pesquisa em Fotografia.


Rachel Rezende
Pesquisadora da imagem, é graduada em jornalismo e mestra em história social da cultura pela PUC-Rio, com especialização em antropologia da imagem pelo NAI-UERJ (2002). Atua há 20 anos na realização de projetos documentais no campo das artes e do audiovisual. No Instituto Moreira Salles desde 2009, trabalha na curadoria, pesquisa e no desenvolvimento de projetos da área de Fotografia.

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