sábado, 18 de junho de 2022

.: Crítica: em "Pós-F", amor e raiva fazem Fernanda Young ressurgir no teatro


Por 
Helder Moraes Miranda, editor do Resenhando. 

Assistir "Pós-F" no Teatro Porto é uma experiência sensorial e sinestésica. Em quase uma hora de espetáculo há uma espécie de reencontro, muito esperado, para aqueles que amavam a escritora Fernanda Young e os textos dela, que são personificados na figura de Maria Ribeiro, uma atriz que mede um metro e 61 centímetros, mas que no palco se torna gigante - a ponto de eu sair da peça imaginando que ela é uma mulher alta. 

Não se sabe onde começa a Maria Ribeiro e onde termina a Fernanda Young na peça teatral. Na verdade, o espetáculo não é sobre inícios, nem fins, é sobre mistura e liberdade - e tentar captar em que se complementam e se diferenciam as duas é pura bobagem - no palco, elas são uma só.

A fusão começa logo na entrada, quando o público se depara com uma banquinha com livros de Maria Ribeiro e os dois últimos publicados de Fernanda Young - "Pós-F", como não poderia deixar de ser, e "Posso Pedir Perdão, Só Não Posso Deixar de Pecar", livro póstumo e, ironicamente, o primeiro romance dela.

Quando o espetáculo estreou de maneira híbrida, em 12 de setembro de 2020, eu disse que Fernanda Young - que afirmou que na próxima vida gostaria de voltar como um homem - naquele momento estava representada por uma grande mulher. Mas não imaginava que a apresentação presencial pudesse ser tão impactante. 

Há Fernanda, há Maria, há feminino, há masculino, há amor e raiva, uma combinação tão intensa quanto catártica. E há a maneira como Fernanda olhava através dos olhos de Maria, o que é impressionante, e também o modo como Fernanda falava, a partir da voz de Maria em um trabalho de extremo cuidado, empatia, carinho e generosidade da intérprete com a autora. 

Maria Ribeiro, hoje uma das melhores atrizes de sua geração, brilha em um texto que não é dela, mas que poderia ser. Da boca da atriz saem declarações que percorrem do humor mais àcido à pura poesia: a atuação dela comprova que não é possível imaginar outra atriz à frente deste projeto a não ser ela mesma. O que leva o público pensar que não só a obra de Fernanda Young é apaixonante, quanto a interpretação de uma mulher entregue em cada sílaba até a última palavra.

Afinal, o texto, dirigido com tanta sensibilidade por Mika Lins, também faz parte do que pensa, e do que é, Maria Ribeiro - mesmo quando ela discorda abertamente do que escreveu Fernanda Young e, ao mesmo tempo, afirma que a escritora teria mudado de ideia.

Até o próximo dia 26, aos finais de semana, no Teatro Porto, Fernanda Young ressurge entoada nas palavras de uma artista brilhante. E nesse momento, no Brasil de 2022, é possível afirmar que vivemos em um mundo melhor. Pelo menos durante o espetáculo. E é muito provável que - inspirado na ousadia de três mulheres que fazem a diferença por onde passam, Fernanda Young, Maria Ribeiro e Mika Lins - você também saia de lá com esperança no futuro. É o que precisamos e é o que é necessário.

.: Leia também: O livro favorito de Mika Lins.

Serviço:
"Pós-F"
De 29 de abril a 26 de junho - Sextas e sábados às 20h e domingos às 19h.
Ingressos: R$ 80 plateia / R$ 60 balcão/frisas.
Classificação: 14 anos.
Duração: 50 minutos.

Teatro Porto Seguro
Al. Barão de Piracicaba, 740 - Campos Elíseos - São Paulo.
Telefone: (11) 3366-8700

Bilheteria: aberta somente nos dias de espetáculo, duas horas antes da atração. Clientes Cartão Porto Seguro têm 50% de desconto. Clientes Porto Seguro têm 30% de desconto.}
Vendas: www.sympla.com.br/teatroportoseguro
Capacidade: 
508 lugares.
Formas de pagamento: Cartão de crédito e débito (Visa, Mastercard, Elo e Diners).
Acessibilidade: 10 lugares para cadeirantes e 5 cadeiras para obesos.
Estacionamento no local: Estapar R$ 20 (self parking) - Clientes Porto Seguro têm desconto.


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