Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.
Gilberto Gil chega aos 80 anos. Ainda cheio de energia e criatividade, produzindo canções inéditas ou revisitando outras, ele segue sendo uma referência em musicalidade e bom gosto na nossa seara musical. É impossível sintetizar sua importância em um único texto. De uma forma resumida, sua carreira pode ser dividida em quatro fases: a dos anos 60, panfletária, ajudando a criar o movimento batizado como Tropicália ao lado do amigo Caetano Veloso e de outros artistas e músicos.
Também foi um dos que ajudou a quebrar tabus na cultura musical do país colocando guitarras elétricas nos arranjos. Foi marcante a sua participação no festival de música popular da TV Record, com Os Mutantes, cantando "Domingo no Parque", canção que impulsionou a sua carreira. Suas canções despertaram a ira do governo militar da época. E por isso saiu em um exílio forçado, se despedindo do povo brasileiro com o genial samba "Aquele Abraço".
Após o exílio forçado na Europa, a partir de 1972, Gil entra na fase do "Expresso 2222", lisérgica, com o auxílio do genial guitarrista Lanny Gordim nos arranjos. Ficou marcada nessa fase as suas interpretações de "Chiclete com Banana" (hit de Jackson do Pandeiro, uma de suas influências musicais) e de "Maracatu Atômico" (canção de Jorge Mautner).
A terceira fase traz a trilogia do RE, a partir de 1975, com os álbuns "Refazenda", "Refavela" e "Realce", com mais um ao vivo com a amiga Rita Lee ("Refestança"). Uma fase onde procurou deixar claro na sua música as suas influências musicais mais marcantes.
A quarta fase é marcada com um pé no pop feito para tocar no rádio. Mas ainda com uma indiscutível qualidade poética refinada. Discos lançados a partir dos anos 80, como "Luar", "Um Banda Um", "Extra" e "Raça Humana", entre outros, traziam várias pérolas musicais, das quais posso destacar "Tempo Rei", "Andar com Fé", "A Linha e o Linho", "Parabolicamará", só para citar alguns exemplos.
Sua discografia tem discos gravados em parceria com outros músicos igualmente importantes, como Jorge Benjor (álbum "Ogum Nagô", de 1975), Milton Nascimento (álbum "Milton e Gil", do ano 2000) e Caetano Veloso ("Tropicália 2", de 1993). Além de ser um músico completo (compõe e interpreta magistralmente), se revela um parceiro incrivelmente genial e produtivo.
Chegou a ocupar o cargo de Ministro da Cultura e recentemente foi nomeado integrante da Academia Brasileira de Letras, sendo o primeiro músico a assumir uma cadeira dessa instituição no país. Só resta agradecer a Gilberto Gil pelo que já produziu ao longo de sua carreira musical. E esperar para ver e ouvir o que ele vai produzir nos próximos anos. Pois os seus 80 anos estão longe de significar aposentadoria.
"Parabolicamará"
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