Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em junho de 2022"Ilusões Perdidas" é uma leitura obrigatória para todo aspirante e estudante de jornalismo ou ainda para quem tem interesse em saber como funciona o quarto poder e, de quebra, conhecer a estrutura da sociedade francesa do século XIX -e que pouco mudou e ainda reflete no Brasil dos dias de hoje. Eis que em 2021, o livro escrito por Honoré de Balzac ganhou uma adaptação riquíssima para as telonas, recebendo o mesmo nome da obra publicada em três partes, entre 1837 e 1843 e está em cartaz na Rede de Cinemas Cineflix.
A produção que esteve nas salas de cinemas do Cineflix durante o Festival de Cinema Varilux do ano passado, retorna para apresentar a história do poeta Lucien Chandour de Rubempré (Benjamin Voisin) que, ainda jovem, trabalha numa tipografia e mantém relação amorosa com uma mulher importante e casada de sua província natal: Madame Louise de Bargeton (Cécile de France).
Eis que a musa inspiradora para a coletânea de poemas do rapaz, intitulada de "Margaridinhas", segue até o berço da evolução, Paris, e o leva junto. Para não ser fofoca da sociedade burguesa dali, Madame de Bargeton, aconselhada pela prima e marquesa (Jeanne Balibar), rompe com o poeta sonhador, deixando-o à própria sorte. Todavia, antes, Lucien estende a rede de relações conhecendo, superficialmente, o grande nome da escrita dos salões, o poeta Anastazio (Xavier Dolan).
Sem dinheiro e comendo restos, o poeta de província trabalha como garçom num restaurante, que tem Étienne (Vincent Lacoste), editor de jornais, como cliente. Numa situação bastante curiosa, os dois acabam se aproximando a ponto de Lucien sair da gastronomia e mergulhar no lado obscuro da imprensa. Hábil com as palavras, ele é inserido na engrenagem de fazer chacota de todos, inclusive de figuras importantes da sociedade.
Com talento indiscutível para o jornalismo, de acordo com a linha editorial do "Le Corsaire-Satan", rapidamente ascende na carreira jornalística e assina seus artigos usando o sobrenome da mãe, Rubempré. Ao frequentar os salões de teatro, Lucien conquista uma parceira no amor, a dona das meias escarlate: Coralie (Salomé Dewaels). Uma ex-atriz de rua, mantida por um homem velho e endinheirado, que consegue chegar ao grande palco principal do teatro parisiense.
No topo, Lucien ouve Anastazio e acaba caindo na desgraça de se reencontrar com a amante, Louise de Bargeton. Qual a maior promessa dela? A de que ele consiga um título na sociedade. Assim, deixaria o sobrenome do pai, Chandour -do qual tinha vergonha-, e assumiria perante todos, Rubempré. A verdade é que para chegar tão alto, Lucien desmereceu a todos que estavam em seu entorno. Fatalmente, o desejo de vingança dos ridicularizados fez com que armassem planos para levá-lo à miséria. Sabemos bem que "tudo o que vai, um dia volta."
O longa é definitivamente uma montagem belíssima -das que se assiste duas vezes no cinema quando se tem oportunidade. Desde o figurino, cenário, iluminação, sonoplastia, trilha sonora, edição de imagens e a atuação impecável do elenco, que ainda tem Gérard Depardieu na pele de Dauriat, um editor analfabeto. Em "Ilusões Perdidas" tudo contribui para o enriquecimento da produção que se debruça no texto intocável de Balzac.
O filme dirigido por Xavier Giannoli é fiel ao retratar um sonhador que sabe usar as palavras, mas não o cérebro a ponto de colocar o próprio sucesso em jogo. Enquanto que Lucien cresce dançando a música que lhe é tocada, cresce, porém acaba se perdendo ao ridicularizar os poderosos, tentando reviver um amor do passado e ainda ser conhecido pelo sobrenome de seu agrado. Mesmo que tenha que dar as costas para o verdadeiro amor e aquele que, desde o início, tinha tudo para ser seu grande amigo na Paris que vivia a lei do lucro e do fingimento.
Em 2h29m a rede de interesses é formada em torno de Lucien, desde a criação e divulgação de fake news -não com esse nome, na época- ao ápice da luta declarada para firmar quem pode mais. Contudo, Lucien, descobre que a vida não só traz champanhe, mas também muita dor e perdas. Afinal, para tudo há um preço, seja na redação de um jornal ou no meio político. Ainda mais que acima de tudo estão as reputações e a importância de quem as pode manter. Filme imperdível!
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*Editora do site cultural www.resenhando.com. É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm
Filme: "Ilusões Perdidas" ("Illusions Perdues")
Ano de Produção: 2021
Idioma: francês
Diretor: Xavier Giannoli
Duração: 2h29m
Classificação: 14 anos
Elenco: Benjamin Voisin, Cécile de France, Vincent Lacoste
Trailer de "Ilusões Perdidas"
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