“É conveniente a alguns que considerem certas pessoas como loucas para terem a desculpa de mantê-las presas. Sabe por quê? Porque é difícil escutar o que os loucos dizem.” Trecho de “Henrique IV”
O encenador Gabriel Villela apresenta “Henrique IV”, obra adaptada de texto de Luigi Pirandello, para comemorar a sua 50ª direção teatral. O espetáculo acontece no Teatro Antunes Filho, no Sesc Vila Mariana, e narra a história de um nobre que acredita (ou finge acreditar) ser um imperador de oito séculos antes, depois de sofrer um acidente. A temporada se estende até 5 de junho, de quinta a domingo, e os ingressos já estão disponíveis no Portal do Sesc SP ou nas bilheterias das unidades do Sesc no Estado. As sessões de 1º a 5 de junho contarão com intérprete de Libras.
Chico Carvalho interpreta Henrique IV, Rosana Stavis é a Marquesa Matilde da Toscana, seu amor não mais correspondido, Hélio Cícero, o Doutor Genoni, que tenta trazer Henrique IV de volta à sanidade e André Hendges, o Barão Tito Belcredi, amante da Marquesa. Acompanhando Chico Carvalho em cena, seus dois camareiros-cantores Artur Volpi, o Oração, e Breno Manfredini, o Sonho. Todo o elenco compõe o quadro de espelhamento disforme do protagonista, que toma distância da própria existência e vê a si mesmo ridicularizado pelo olhar dos outros.
O elenco tem ainda: Regina França (como Frida), Rogerio Romera (como Carlo Di Nolli), além do músico Jonatan Harold, que toca piano ao vivo para acompanhar o elenco e é responsável pela direção musical, juntamente à Babaya Morais. A peça, em três atos sem intervalo, tem cenário de J.C. Serroni.
Para essa nova parceria com Villela, o cenógrafo escolheu ressaltar os aspectos circenses e homenagear o encenador mineiro, com direito a picadeiro e arena. “E Gabriel Villela joga a encenação num circo teatro, não de cores vivas como de costume, já que ali habitam os fantasmas que rondam a cabeça do nosso Henrique, o que me traz um caminho claro para a encenação: um circo em desconstrução de uma trupe itinerante com sua carroça encenando por castelos medievais”, conta Serroni. Os figurinos são de Gabriel Villela e trazem tecidos das mais variadas origens, muitos bordados, adamascados da igreja ortodoxa grega e muito colorido. A iluminação é de Caetano Vilela.
Elementos cênicos
Mestre na crítica ao mundo, às suas aparências e convenções, Pirandello monta em Henrique IV um cômico e revelador jogo de espelhos. Um jovem fantasiado de Henrique IV perde a razão a caminho de uma festa de Carnaval, passando a acreditar que é de fato o imperador. Nesta versão dirigida por Villela, a história é contada por uma companhia de circo mambembe (e fictícia) italiana chamada “Francisco Eugydio do Calvário", que apresenta o drama de circo-teatro "Enrico IV" ao público.
Além disso, fazem parte da montagem várias menções contemporâneas - as canções cantadas ao vivo pelos atores, figurino e maquiagem fellinianos, numa lembrança feita ao cinema, entre outras. A escolha das músicas levou em consideração alguns fatores como o diálogo das letras com o texto e com a ação da peça, e são cantadas em italiano e em inglês (os dois idiomas que referenciam o texto em cena). No repertório estão "The Logical Song", do Supertramp, "Bang Bang (My Baby Shot Me Down)", da Nancy Sinatra, "Canzone Arrabbiata", do Nino Rota, "I Started a Joke", dos Bee Gees, e “Lascia Ch'io Pianga”, de Georg F. Händel.
“Pobre daquele que não sabe usar a sua máscara”
Henrique IV trata sobre a psicologia dos loucos e como a loucura é uma forma de representação e de simulação também. Henrique IV parece ser louco aos olhos de seus companheiros, mas finge estar louco porque só aos loucos é dado o direito de dizer certas verdades.
O drama “Henrique IV” foi escrito por Pirandello em 1922 e estreou um ano depois do sucesso de Seis Personagens em Busca de Autor, que já tratava sobre os desdobramentos de personalidades (e de personagens). A narrativa se desenvolve em Úmbria, no centro da Itália (Perugia), na época em que foi escrita. O nobre que dá nome à peça viveu nos anos 1500, e, ao cair do cavalo, considera ser o imperador da Alemanha (que reinou por volta de 1050) - por isso há saltos temporais no texto.
A peça faz um jogo imbricado e permite à plateia uma série de possíveis leituras, sempre mostrando que todos representam papéis - seja na sociedade, na vida e até mesmo os atores, nos palcos. A linguagem circense ainda possibilita a leitura segundo a qual a trupe em cena brinca de ser ou parecer louca.
Villela optou por combinar atores de diferentes idades e experiências, apesar de voltar a trabalhar com parte do elenco de Estado de Sítio, como Chico Carvalho, Rosana Stavis, André Hendges e Rogerio Romera.
A ideia é que a dicotomia do texto de Pirandello (entre lucidez e loucura, sinceridade e fingimento, clareza e obscurantismo, ser e parecer e entre o dia e a noite) possibilite o jogo cênico. O autor italiano em seus textos aproximava o relativismo existencial de seus personagens à teoria da relatividade de Einstein (documentos da época mostram um encontro dos dois, Einstein e Pirandello, em um camarim de teatro na Itália).
Ficha técnica
“Henrique IV". Autor: Luigi Pirandello. Tradução: Claudio Fontana. Direção e figurinos: Gabriel Villela. Elenco: Chico Carvalho, Rosana Stavis, Hélio Cícero, André Hendges, Regina França, Rogerio Romera, Jonatan Harold, Breno Manfredini e Artur Volpi. Cenografia: J C Serroni. Iluminação: Caetano Vilela. Diretores assistente: Ivan Andrade e Douglas Novais. Direção musical, canto e arranjos vocais e instrumentais: Babaya e Jonatan Harold. Assistente de figurinos: José Rosa. Adereços de arte: Jair Soares Jr. Costureira: Zilda Peres. Maquiagem: Claudinei Hidalgo. Fotografia: João Caldas Fº. Assistência de fotografia: Andréia Machado. Diretor de palco: Tinho Viana. Operador de lua: PH Moreira. Camareiras: Ana Lucia Laurino e Maria Helena Arruda. Produção executiva: Augusto Vieira. Direção de Produção: Claudio Fontana. Apoio: Só Dança.
Serviço
"Henrique IV". Texto de Luigi Pirandello e direção de Gabriel Villela. Com Chico Carvalho e grande elenco Até dia 5 de junho Quinta a sábado, às 21h, domingos e feriados, às 18h. Teatro Antunes Filho - Sesc Vila Mariana. Classificação: 14 anos.
Ingressos: disponíveis online a partir de 26 de abril, em sescsp.org.br, e presencialmente no dia 27, em qualquer unidade do Sesc no Estado de São Paulo – R$ 12 (credencial plena); R$ 20 (estudante, servidor de escola pública, idosos, aposentados e pessoas com deficiência) e R$ 40 (inteira) *Obs.: desde 8 de fevereiro de 2022, os responsáveis pelas crianças de 5 a 11 anos devem apresentar o comprovante de vacinação dos menores com ao menos a primeira dose do imunizante contra a covid-19. Já para maiores de 12 anos é necessário apresentar o comprovante de vacinação com no mínimo duas doses ou a dose única da vacina. O comprovante pode ser físico ou digital e deve ser mostrado juntamente com o documento com foto. É recomendável o uso de máscara, cobrindo nariz e boca, durante toda a permanência na unidade. Sesc Vila Mariana | Informações - Endereço: Rua Pelotas, 141, Vila Mariana - São Paulo. Central de Atendimento (Piso Superior – Torre A): terça a sexta, das 9h às 20h30; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h (obs.: atendimento mediante a agendamento). Bilheteria: terça a sexta, das 9h às 20h30; sábado, das 10h às 18h e das 20h às 21h; domingos e feriados, das 10h às 18h. Estacionamento: R$ 5,50 a primeira hora + R$ 2 a hora adicional. Credencial Plena: trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes). R$ 12 a primeira hora + R$ 3,00 a hora adicional (outros). 125 vagas. Paraciclo: gratuito (obs.: é necessário a utilização travas de seguranças). 16 vagas. Outras informações: 5080-3000
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