Pesquisador amante de obras de terror analisou o discurso xenófobo do autor dentro do conto "Horror em Red Hook"
É real a afirmação e que o escritor norte-americano H. P Lovecraft revolucionou a literatura de horror no início do século XX. Suas tramas, porém, só foram reverenciadas e apreciadas após sua morte e seu legado serviu para criar uma legião de apreciadores do gênero e serviu até para criar um princípio literário próprio: o “Horror Cósmico”, aquele onde o universo conspira sempre contra os interesses e anseios do protagonista. Todavia em sua obra não é difícil de encontrar passagens que apontam para o discurso supremacista, guarnecido de preconceito de raça, étnico e xenófobo. Para avaliar o papel desses discursos discriminatórios na obra de Lovecraft, o historiador Luis Otávio Canevazzi escreveu “Horror de Outro Mundo: Um Ensaio sobre o racismo em H. P. Lovecraft”, lançado pela editora Telha.
O trecho em destaque pertence ao conto “Horror em Red Hook”, publicado em 1927 na revista Weird Tales. O caráter preconceituoso do autor para com o bairro e as pessoas que nele habitam se encontra nessas entrelinhas de maneira indiscreta, mas a mera exposição de passagens repugnantes não é o objetivo desse ensaio. Lovecraft foi um exímio criador de terror atmosférico dentro de seus contos, característica que lhe consagrou dentre outros escritores do gênero em sua época.
O ódio ao externo, ao diferente e ao que não fizesse parte da casta ariana faz-se presente em seu vasto material. A obra do escritor, por sua vez, inspirou escritores de gerações futura, além de diretores de cinema e desenvolvedores de jogos de RPG e videogame. Para se ter uma ideia da importância do escritor para a literatura de horror, Stephen King classificou Lovecraft como "o maior praticante do século XX do conto de horror clássico".
"Apesar da aversão causada pelas passagens racistas nas entrelinhas de alguns contos, o que mais me deixou desconfortável foi ter conhecimento sobre a vida do autor através de sua biografia. Foi incrível saber que, durante seu período em Nova York, Lovecraft chegou a sofrer por estar entre imigrantes. Pensar que suas obras, possivelmente, trazem à vida o horror vivido pelo próprio autor, não somente em seus sonhos, mas também em seu dia a dia, por ser tão intolerante ao outro, de prontidão me causou uma gama de sentimentos ruins", relata Luis Otávio sobre sua reação ao avaliar a obra de Lovecraft sob uma perspectiva social.
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Sobre a Editora Telha: Desenvolvida no Rio de Janeiro, a Editora Telha nasce no fim de 2019 e já alcança, em sua primeira publicação Motel Brasil: uma antropologia contemporânea, de Jérôme Souty, a marca de obra finalista do Prêmio Jabuti 2020. Interdependente (porque independente ninguém é realmente), a Telha surgiu pelo desejo de editar com maior autonomia e criar mais espaço para textos produzidos por autores fora dos grandes centros.
Livro: Horror de outro mundo: um ensaio sobre racismo em H.P. Lovecraft
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