Claudia Souto é autora de novelas, escritora e roteirista. Começou a carreira no teatro, onde escreveu, dirigiu e atuou em peças no Brasil e no exterior. Em 1992, ingressou na TV Globo como roteirista do humorístico "Casseta & Planeta: Urgente". Seguiu como colaboradora e depois redatora final em diversos formatos de programas infantis, de humor, reality shows, séries dramáticas e sitcoms.
Migrou para a dramaturgia diária colaborando nas novelas "Sete Pecados" (2007), "Caras & Bocas" (2009) e "Morde & Assopra" (2011), de Walcyr Carrasco, e em "Alto Astral" (2014), de Daniel Ortiz. A estreia como autora titular foi com "Pega Pega" (2017), reprisada em edição especial em 2021. "Cara e Coragem" é a sua segunda novela no horário das sete.
Em 2022, também estreou no cinema, assinando o roteiro do longa "Eduardo e Mônica", ao lado de Matheus Souza, Michele Frantz e Jéssica Candal, no filme inspirado na clássica canção de Renato Russo; e no teatro, assinando com Wendell Bendelack, a tradução e adaptação de "Misery", texto de William Goldman baseado na obra de Stephen King.
"Cara e Coragem", uma comédia romântica de ação embalada por aventura e mistérios, é criada e escrita por Claudia Souto com direção artística de Natalia Grimberg. Na novela das 19h, o resgate de uma fórmula secreta e uma morte inesperada entrelaçam os destinos dos dublês Pat (Paolla Oliveira) e Moa (Marcelo Serrado), da empresária Clarice Gusmão (Taís Araujo) e do instrutor de parkour Ítalo (Paulo Lessa). Nesta entrevista, ela conta tudo sobre a novela que promete ser o maior sucesso. O Resenhando.com tem um grupo para comentar a novela das sete - entre e fique à vontade para participar!
Como surgiu a ideia de escrever "Cara e Coragem"?
Claudia Souto - Sempre que começo a pensar numa novela, antes de começar a escrever, penso em quais assuntos quero colocar na roda. Porque novela é isso: as pessoas que vão assistir e discutir os temas com a família, os amigos, na rua, no trabalho. E, desta vez, o assunto que eu quis trazer foi a coragem. Quando escrevi a sinopse, em 2018, nem sequer podia imaginar uma pandemia ou a situação que estamos vivendo atualmente no Brasil. Resolvi abordar a coragem de vários aspectos. Desde a micro coragem para romper uma relação na sua vida particular, coragem para mudar de emprego, sempre é um ato de coragem você se expor; até a macro coragem que é fazer do risco a sua profissão como é o caso dos dublês. Eles se arriscam mesmo por uma paixão, assim como vários outros personagens da história. O universo é dos dubles, mas a temática é da coragem em todos os campos das nossas vidas. E esse universo dos dublês me atrai há muito tempo. Desde a época em que eu escrevia ‘Bambuluá’, eu gosto de ir até o set acompanhar as gravações. Havia, naquela época, uma equipe de dublês profissionais bem ativa, que trabalhava no programa, e aquilo me fascinava. Havia muita luta, movimentação e eu ficava ali só de olho. Quando surgiu a oportunidade de criar uma sinopse novamente para o horário das sete, e eu quis abordar o conceito da coragem, me lembrei desse universo. São pessoas que têm essa profissão tão extraordinária, fora da nossa realidade, e que, ao mesmo tempo, levam os filhos para a escola, pagam as contas do mês, têm seus amores, seus desencontros, suas angústias... Então, embarquei nesse universo. Em ‘Cara e Coragem’, a ideia é mostrar o dia a dia desses profissionais que dão o sangue, mas que não aparecem em cena. Que fazem da coragem a sua profissão e que amam o que fazem.
Como você resumiria essa história e gostaria que ela fosse entendida pelo público?
Claudia Souto - Patrícia Lima e Moacyr Figueira são dublês de ação reconhecidos e respeitados no meio, onde são conhecidos como Pat e Moa. Para Pat, a doença do marido, e para Moa a falta de trabalho que começa a afetá-lo por conta da idade, os levam a topar uma aventura na vida real em troca de muita grana. Isso porque Clarice Gusmão, presidente de uma siderúrgica, propõe que eles trabalhem para ela no resgate de uma pasta que caiu num lugar de difícil acesso. Esse é o ponto de partida para uma história em que tudo é consequência das relações afetivas, sejam elas amorosas, familiares ou de amizade. A pasta caiu neste local porque Leonardo, irmão de Clarice, jogou do helicóptero em que eles estavam. Leo, que sempre disputou o amor dos pais com ela, vai colocar a vida da irmã em risco por essa rivalidade e se tornará um dos suspeitos por sua morte, logo nos primeiros capítulos. E é quando a tragédia se dá que Ítalo, ex-segurança e amor de Clarice, encontra em Pat e Moa a parceria ideal para desvendar o crime que vitimou sua amada. O que posso adiantar para o público é que a trama é como um grande quebra-cabeças onde as peças desta investigação vão se encaixando à medida que conhecemos aspectos novos dos personagens. E, como é uma trama de suspense, não posso dar mais spoilers!
Qual a relação das personagens Clarice e Anita, vividas por Taís Araujo?
Claudia Souto - Clarice e Anita são sósias.
Como o público perceberá a diferença entre elas?
Claudia Souto - Na caracterização da Taís foram pensados detalhes para diferenciá-las. Elas terão cor de olhos diferentes, truques de maquiagem que deixam diferenças na boca, por exemplo. Eu já vivi uma situação na adolescência. Sou natural do Rio, tijucana, e sempre que eu estava andando pelo bairro da Tijuca, alguém me chamava: "fulana". Quando eu virara, a pessoa me olhava e depois pedia desculpas. Aconteceu várias vezes. Uma certa ocasião, eu estava na Praça Xavier de Brito com uma prima e passou uma menina na garupa de uma moto. Minha prima, que estava ao meu lado, falou: "Onde é que a Claudia está indo?". Eu estava ali, caramba! Percebi, então, que a menina era igual a mim. Deve ser a tal sósia com quem todo mundo me confundia na rua. Hoje em dia, talvez, nem sejamos mais parecidas, mas naquele momento das nossas vidas, éramos. Pesquisei bastante sobre o assunto, vi casos incríveis de semelhanças absurdas entre pessoas sem nenhum grau de parentesco. E isso me inspirou a criar uma personagem que fosse sósia de outra. Só que Anita é uma sósia que se complica porque se mete em situações que geram consequências pesadas.
Quais temáticas você destacaria como importantes na trama?
Claudia Souto - A coragem que todos nós, brasileiros, temos que ter para levantar de manhã da cama e dizer "vamos lá, hoje vai dar! Hoje vai ser melhor, vou dar conta!" está representada na trama. Outro tema é o amor em suas mais variadas formas: amor entre amigos, amor familiar, amor impossível, amor não correspondido, o amor como desafio a ser conquistado, desfeito ou mantido. E quanto de amor não compreendido pode haver também? Entre pais e filhos, irmãos, amigos... O terceiro tema que eu destacaria é sobre o duplo, que está atrelado ao universo dos dublês, que são exatamente o "duplo" de alguém que precisa fazer uma ação, mas não tem preparo e conhecimento técnico para isso. Temos ainda as sósias Clarice e Anita, que se conhecem e passam a usufruir dessa semelhança - de uma forma que o público vai saber mais na frente - e a cara de pau de Duarte que inventa outra persona para ter alguns "momentos de patrão". Indo além nesse tema, a novela também mostra que ninguém é uma coisa só. Ninguém é só bom ou só mau, por exemplo. Todos os personagens têm vários lados.
Como foi o processo de escalação?
Claudia Souto - Geralmente não imagino o elenco quando estou escrevendo. Mas, no caso do Moa, realmente pensei no Marcelo Serrado para interpretá-lo. O Moa é um dublê que está na casa dos 50 anos e é referência no que faz, só que está começando a sentir as dores da idade. O personagem também tem um humor irônico característico do Serrado. Já a Paolla Oliveira é a Pat encarnada! Além de ser uma atriz linda, carismática e talentosa, ela traz todo o componente da ação em seus trabalhos e se jogou na preparação fazendo rapel, dança vertical e muito mais. Foi uma escalação super certeira. Ela e Marcelo estão muito alinhados. É um modelo de protagonistas incomuns em novelas, porque geralmente há um casal que tem um impedimento para ficar junto. Com Pat e Moa, não: eles não são um casal. Eles vão levando a vida e esse amor que sentem um pelo outro e que está guardado em algum lugar. Eles acabam optando por esconder o que sentem. Paulo Lessa é um ator incrível. Fez um teste primoroso, emocionante. Ele vem com tudo. Eu e Natalia (Grimberg) costumamos brincar que o personagem escolhe o ator e o Ítalo escolheu o Paulo Lessa de forma direta. Paulo chega em "Cara e Coragem" com a bagagem de uma vida dedicada à arte. É uma potência! E temos Taís Araujo, que me deixou tão feliz quando aceitou dar vida à Clarice e Anita. Duas personagens que são sósias, porém completamente diferentes não só em aparência, mas de universos bem distintos: um tremendo desafio que ela está tendo a força e a generosidade de encarar com brilhantismo. Ficaria horas falando da escalação de cada personagem, um elenco de atores e atrizes maravilhosos, e eu agradeço a cada um por estar na novela.
E a escolha por Paquetá ambientar um núcleo na novela. Alguma razão em especial?
Claudia Souto - Paquetá faz parte do meu imaginário desde menina. As minhas referências novelescas são infinitas. Eu, quando criança, era muito fascinada pela novela "A Moreninha", protagonizada pela Nivea Maria e Mario Cardoso como casal principal, e que tinha Paquetá como cenário inesquecível. E era a hora em que meu pai chegava do trabalho trazendo um pãozinho quente e tomávamos café assistindo "A Moreninha". Também fui à ilha de Paquetá quando criança e ficou essa lembrança. Na verdade, Paquetá ocupa em "Cara e Coragem" o lugar que a Tijuca ocupava em "Pega Pega". É um lugar de acolhimento, da vida simples, da família, do ar bucólico, de relaxamento e de calma. É um convite ao afeto.
Como está sendo a parceria com a Natalia Grimberg?
Claudia Souto - Esse reencontro com a Natalia é a coroação de uma amizade de muitos anos, que nunca perdemos. Nos conhecemos no teatro quando Natalia era adolescente. Ela era atriz e eu era a supervisora de direção. O diretor da peça era o Zecarlos Moreno, que hoje está no elenco da novela. De lá para cá, sempre mantivemos contato, nós três. É uma amizade muito verdadeira, rara e que nós preservamos ao longo de todos esses anos. Agora nós duas conseguimos nos reencontrar profissionalmente e isso tem um valor afetivo imenso. Outro aspecto que eu preciso ressaltar nessa parceria é o respeito. Tenho meu texto absolutamente respeitado pela direção e pelos atores. Qualquer modificação, questionamento ou sugestão é bem-vinda e acolhida, mas tudo passa por uma aprovação aqui. Não se escreve tantos capítulos de forma coletiva, mas a alma de uma novela é coletiva, sim! E eu quero ouvir todo mundo e enriquecer o texto. Tudo é conversado, muitas vezes antes mesmo de ser escrito, quando é ainda uma ideia na minha cabeça. Minha querida mãe dizia "combinado não sai caro" e seguimos assim, texto, direção e produção juntos.
Uma novela liderada por uma dupla de mulheres: você como autora e Natalia como diretora artística. Há um significado especial para você? Ter esse olhar feminino à frente dos trabalhos é um diferencial em quais aspectos?
Claudia Souto - Acho que esse lugar feminino olha para as coisas com bastante generosidade. Eu já fui atriz, iluminadora, diretora, e ela já foi atriz e fez milhares de outras coisas no teatro e na TV, então temos uma escuta aberta neste sentido. As decisões artísticas de texto e realização passam por esse lugar de envolvimento, porque, antes de mais nada eu sou uma artista. A Natalia é uma artista. E o trabalho artístico nasce dentro da gente, na alma da gente. A minha imaginação e o poder de realização da Natalia é que tornam tudo possível dentro de uma empresa produtora de conteúdo como a Globo.
"Cara e Coragem" é a sua segunda novela como titular e novamente para o horário das sete. Após o sucesso de "Pega Pega" e da reprise na pandemia, qual a sua expectativa agora de estrear novamente nesta faixa?
Claudia Souto - A minha expectativa é que o público se divirta e se emocione. É sempre o meu desejo para esse horário das sete. "Cara e Coragem" é uma história com muita emoção, alguns momentos de tensão, mas sobretudo de divertimento. Ela é uma novela com mais mistério e suspense que "Pega Pega", um pouco mais sombria, mas também muito solar em sua proposta.
Se pudesse definir, qual seria "o estilo Claudia Souto’de fazer novelas"?
Claudia Souto - O meu estilo vem da minha observação do mundo, não só de hoje, mas desde sempre. Eu estudei em escola pública, me formei em teatro, que é um lugar inclusivo por excelência. Acho que as minhas novelas espelham muito o mundo como eu vejo, que para mim é diverso, inclusivo, o mundo é de todo mundo. Enquanto eu puder contar histórias que sejam minhas e de todo mundo, vou continuar contando.
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