Com dramaturgia e direção de Jé Oliveira, espetáculo faz temporada gratuita no Teatro Cacilda Becker até o dia 17 de abril de 2022. O texto e a direção são de Jé Oliveira e o elenco é formado por Abel Xavier, Carol Vidotti, Emilene Gutierrez e Lua Bernardo (musicista). Foto: Mayra Azzi
O que pulsa a América Latina? É sobre esta pergunta que o Coletivo Labirinto tem se debruçado nesta etapa de sua viagem estético-política, buscando rotas cênicas no sentido da discussão, da reelaboração, da luta e do sentido da presença em nosso continente.
Depois de uma série de trabalhos em que levou à cena textos elaborados no além das fronteiras brasileiras - passando por dramaturgias de Argentina, Uruguai e Chile, por exemplo - a mirada agora é para dentro, tentativas de se (auto) reconhecer nas palavras, limites, histórias, dores, cores e tremores deste corpo e chão comuns, que são nosso continente.
“Mirar: Quando os Olhos se Levantam” faz temporada gratuita no Teatro Cacilda Becker até o dia 17 de abril. O texto e a direção são de Jé Oliveira e o elenco é formado por Abel Xavier, Carol Vidotti, Emilene Gutierrez e Lua Bernardo (musicista).
Sinopse do espetáculo
Quatro caminhantes percorrem lugares e histórias da América Latina em uma espécie de busca-viagem por pertencimento. O espetáculo lança mão de expedientes contemporâneos para revelar o lastro da colonização, celebrar a potência da diversidade dos povos, e refletir aspectos contraditórios do nosso continente para mirar além das fronteiras.
O espetáculo é parte do encerramento do projeto “Histórias de Nossa América”, contemplado pela 35ª edição da Lei de Fomento para a cidade de São Paulo. Dessa forma, carrega um lastro de pesquisa e criação assentado, marcadamente, pelo encontro e fricção da dramaturgia com e na cena contemporânea.
A palavra como fisgada para um horizonte im(possível), a poesia dramatúrgica brasileira no encontro com a ação e inação de cada dia. O objeto disparador deste processo criativo foi o livro "Crônicas de Nuestra America", escrito por Augusto Boal e publicado em 1977. A obra reúne dez crônicas que versam sobre situações, ambiências e personagens tipicamente latino-americanas, observadas e colhidas pelo diretor e dramaturgo desde sua saída do Brasil, em 1971, reflexo do endurecimento da ditadura militar em nosso país.
Em diálogo com o contexto e conteúdo da obra de Boal, o Coletivo Labirinto propôs, neste processo de criação, um passeio sobre as atuais crônicas deste continente tão cheio de saques históricos, personalidade e contradições. A América Latina da década de 1970 em contágio e contato com o ano de 2022.
Para esta jornada, o Coletivo encontrou na parceria com o diretor e dramaturgo Jé Oliveira uma potente interlocução acerca de debates e necessidades estéticas e sociais, desenvolvendo conjuntamente um esquema de trabalho fortemente colaborativo e sensivelmente político.
Em sala de ensaio, toda a equipe artística desenvolveu uma série de procedimentos improvisacionais e de composição cênica que levantaram temáticas, caminhos dramatúrgicos e de encenação. O resultado é um espetáculo que mistura códigos expressivos baseados na relação com o espaço poético, com a musicalidade e símbolos visuais latinos e com a palavra na fronteira entre a postura épica e a vocação lírica. Tudo isso com vistas ao encontro de uma América Latina viva, diversa, corajosa e, espera-se, um pouco mais real. Quatro artistas em cena, outros tantos na bagagem, e um desejo de lançar miradas mais adiante, mesmo que para dentro.
Desde sua fundação em 2013, o Coletivo Labirinto tem como pesquisa o olhar para as relações do sujeito com o seu panorama social através da dramaturgia latino-americana contemporânea. Neste trabalho a noção de sujeito e dramaturgia se voltam para nós mesmos, brasileiras e brasileiros ensaiando uma viagem e uma investigação sobre o que é ser latino-americano. Apostando no tenso limiar entre a necessidade da denúncia e a carência do anúncio, o teatro é, mais do que nunca, um lugar de onde se vê.
Palavras do diretor e dramaturgo
“Partindo de provocações cênicas tendo como base, num primeiro momento, o livro 'Crônicas de Nuestra America', escrito por Augusto Boal no exílio em 1971, o processo criativo levantou cenas que buscassem um mapeamento de acontecimentos sínteses de uma relação verificável e sintomática do nosso modo de se portar no continente latino-americano.
Alguns lugares da América do Sul nos conduzem geograficamente por encontros com pessoas reais e ficcionalizadas, na intenção de refletirmos acerca da nossa contraditória condição de potencialidades humanas e saques históricos, fruto da colonização e genocídio dos povos originários presentes em nosso continente.
Em diálogo e como complemento destes primeiros expedientes, foram investigados também dispositivos contemporâneos que contivessem um poder de síntese capaz de auxiliar na explicitação dos nossos posicionamentos críticos perante os entendimentos e impasses da nossa atual situação artística, social e política. “Mirar: Quando os Olhos se Levantam” busca, desta forma, reconhecer, integrar e efetivar, seja no campo do simbólico ou no campo concreto das possibilidades, um movimento de “tirar os olhos do Atlântico”, assim como quem busca contato, arribando as vistas, mirando e elaborando um gesto cênico de ação para a construção de um pertencimento mais efetivo. Vislumbramos e buscamos, com base nas proposições cênicas deste trabalho, uma possibilidade de futuro menos móvel e mais integrado com a potência dos povos que integram a nossa América Latina.” - Jé Oliveira.
O Coletivo Labirinto nasceu em 2013, no ano das emblemáticas manifestações políticas pelo preço do transporte público (e que logo em seguida se pasteurizam em reivindicações genéricas e pouco objetivas), e acompanhou a transformação dos processos sociais no Brasil que culminaram na deposição da ex-presidenta Dilma Rousseff em 2016, no avanço das pautas neoliberais e na discussão um tanto incerta sobre os rumos políticos do país.
O grupo pôde, com isso, perceber semelhanças entre essa trajetória e a de seus países vizinhos – com disputas políticas igualmente polarizadas, avanço de medidas econômicas similares e o crescimento de um pensamento conservador também assentado na moral. Dessas observações e vivências - no cotidiano e nas suas ações criativas -, conseguiu amadurecer a necessidade de entender-se como brasileiro e latino-americano, não uma coisa pela outra.
Ficha técnica
Espetáculo: “Mirar: Quando os Olhos se Levantam”
Direção, dramaturgia e textos: Jé Oliveira
Artistas criadores: Abel Xavier, Carol Vidotti, Emilene Gutierrez e Lua Bernardo (musicista)
Assitência de direção: Éder Lopes
Interlocução artística: Georgette Fadel e Wallyson Mota
Direção musical: Maria Beraldo
Vídeos e projeções: Laíza Dantas
Iluminação: Wagner Antônio
Figurino: Éder Lopes
Texto áudio: Abel Xavier e Jé Oliveira
Intérprete de Libras: Fabiano Campos
Designer gráfico: Alexandre Caetano - Oré Design
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Fotos: Mayra Azzi
Assitência de produção: Luiza Moreira Salles
Produção executiva: Coletivo Labirinto
Direção de produção: Carol Vidotti
Duração: 80 minutos
Classificação: 14 anos
Serviço
Teatro Cacilda Becker
R. Tito, 295 - Lapa - São Paulo
Até 17 de abril
Horário: sexta e sábado às 21h e Domingo às 19h
Ingressos gratuitos - presencial
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