sábado, 5 de março de 2022

.: MASP inaugura programação de 2022 com a Mostra "Volpi Popular"


Terceira de uma série de mostras individuais que o museu vem organizando desde 2016 em torno de artistas modernistas brasileiros, a exposição panorâmica conta com cerca de 100 obras de Alfredo Volpi. Na imagem, a obra 
Sem título (Madona com Menino), 1947, Têmpera sobre tela, 73 x 60 cm, Coleção Orandi Momesso, São Paulo


O MASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, o Citi e o Ministério do Turismo apresentam, de 25 de fevereiro a 5 de junho de 2022, a mostra "Volpi Popular", que ocupa o 1o andar da instituição. Com curadoria de Tomás Toledo, curador-chefe do MASP, esta é a terceira mostra de uma série de individuais que o museu vem organizando em torno de artistas modernistas brasileiros canônicos do século 20 cuja obra emprega referências populares.

A primeira da série, "Portinari Popular", foi apresentada em 2016 e a segunda, "Tarsila Popular", em 2019, tornando-se a exposição mais visitada da história do museu. Em 2022, o MASP prepara seu espaço para receber cerca de 100 trabalhos de Alfredo Volpi que oferecem ao público um olhar panorâmico da complexa e diversa prática do artista. A mostra está organizada em sete núcleos que contemplam as diferentes temáticas de produção de Volpi: "Cenas Urbanas e Rurais", "Santas e Santos", "Retratos", "Marinhas e Temas Náuticos", "Fachadas", "Bandeirinhas, Mastros e Faixas", e "Temas Lúdicos".

A trajetória de Alfredo Volpi (Lucca, Itália, 1896 - São Paulo, Brasil, 1988) é caracterizada por uma combinação de diferentes elementos e temáticas da cultura popular com aspectos fundantes da tradição moderna, aproximando seus interesses pelo trabalho artesanal, pelo cuidado com a manufatura das tintas e telas, pelas festas populares e temas religiosos, pelo casario vernacular, assim como pelas referências do modernismo brasileiro e da história da arte europeia e sua tradição pictórica.

Nascido na Itália em uma família de origem trabalhadora, o artista emigrou ainda criança para São Paulo. No período inicial de sua produção, foi antes operário que propriamente artista e esteve em meio às movimentações políticas da década de 1920 que geraram as primeiras organizações proletárias e anarquistas, distante do circuito de vanguarda que organizou a Semana de 22.

A obra de Volpi revela referências não somente a elementos da cultura popular brasileira, mas também a uma vivência laboral marcada pelo contato profundo com técnicas manuais, paralela às vertentes modernistas e fora do eixo das capitais de Rio-São Paulo - passando por Itanhaém, litoral paulista, e Mogi das Cruzes, interior de São Paulo.

A produção inicial de Volpi é marcada pela prática autodidata que iniciou em 1911 e voltada para paisagens urbanas e rurais, ainda distante do estilo que o consagraria. Na década de 1930, Volpi começa a se aproximar de outros artistas de São Paulo, destacadamente os do Grupo Santa Helena, como Ernesto de Fiori (1884-1945) e Rossi Osir (1890-1959). Nesse período, dá também início às pinturas de santos para reprodução em retrogravuras como forma de subsistência.

Embora não o tivesse inicialmente como trabalho autoral, o tema das imagens religiosas acabou se misturando à sua produção artística, que se acentuou durante a década de 1940. “O interesse pelo popular ganhou corpo a partir da década de 1940, quando passa a realizar retratos religiosos, representações de festejos populares e das fachadas de arquitetura vernacular e colonial brasileira”, afirma Tomás Toledo, curador da exposição.


Destaca-se nesta mostra a representação de santas e santos, em que se ressalta a figura de "Maria com Jesus Menino", uma das mais frequentes nessa série de obras de Volpi. O trabalho mais antigo no núcleo dedicado ao tema é a pintura "Sem título (Madona com Menino)" (1947), uma abordagem radical de Maria e do menino Jesus negros, algo incomum na tradição pictórica dessas figuras e que, segundo Toledo, vai “contra a representação eurocêntrica e branca dos personagens do catolicismo”, algo também pouco discutido em exposições anteriores sobre a obra do artista.

A década de 1940 marca ainda o início das representações de festejos e fachadas da arquitetura vernacular e colonial brasileira, em uma imersão no interesse pelo popular. Já na década seguinte, Volpi passa a sintetizar suas composições, tornando sua figuração cada vez mais geometrizada, com padrões, formas e temas recorrentes - como as famosas bandeirinhas, mastros, faixas, fachadas e ogivas — que desenvolveu até o final da carreira.

Sua obra passa a ganhar as características formais que tanto o tornaram conhecido com sua pintura de espaços planificados, dotada de campos cromáticos bem definidos mas de contornos irregulares, marcados pelo uso sensível e sutil da cor e pela textura áspera da sua têmpera.

Nesse período, o artista se insere cada vez mais no circuito das artes, participando das primeiras bienais de São Paulo e desenvolvendo diálogos com interlocutores como Mário Pedrosa (1900-1981) - que descreveu o artista como “o mestre de sua época” - e Walter Zanini (1925-2013).

Diferentemente das discussões críticas e estéticas em voga entre os membros da vanguarda, Volpi optou por navegar pelas reflexões sobre a prática e a repetição do fazer. Para o curador da mostra, “a repetição tornou-se ainda um elemento-chave na produção do artista, tanto de modo estético - na reprodução exaustiva de certos temas, como bandeirinhas, ogivas e mastros - quanto processual, repetindo certo modo de fazer, de pintar, que se modificava de forma sutil com o transcorrer do tempo, sem perder uma identidade muito bem estabelecida”.


Catálogo
Acompanhando a mostra, será publicado o mais amplo catálogo sobre o artista num único volume, contendo ilustrações de todas as obras exibidas, textos inéditos de Adele Nelson, Antonio Brasil Jr., Aracy Amaral, Kaira Cabañas, Nathaniel Wolfson, Sônia Salzstein e Tomás Toledo, uma nota biográfica escrita por Matheus de Andrade e duas entrevistas históricas com o artista feitas por Mário Pedrosa e Walmir Ayala.

Com design de Paulo Tinoco, do Estúdio Campo, será publicado em capa dura e em duas edições separadas nas línguas portuguesa e inglesa. A distribuição internacional será realizada por Karen Marta Editorial Consultant e Distributed Art Publishers, nos Estados Unidos. R$ 185. 20% de desconto no MASP Loja, online ou física, cumulativo com o desconto do programa Amigo MASP.


Serviço
"Volpi Popular"
Até 5 de junho de 2022
MASP - Museu de arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Avenida Paulista, 1578 - Bela Vista - São Paulo
Telefone: (11) 3149-5959
Horários: terça grátis Qualicorp, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas. Agendamento online obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos. Ingressos: R$ 50 (entrada); R$ 25 (meia-entrada) www.masp.org.br

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