domingo, 13 de março de 2022

.: Entrevista com André Caramuru Aubert: "Sou filho de infinitas leituras"


"Eu só consegui escrever literatura de verdade depois que meu pai morreu", afirma o escritor, poeta e tradutor em entrevista exclusiva. Foto: arquivo pessoal

Por Helder Moraes Miranda, editor do Resenhando. 

André Caramuru Aubert é um dos raros talentos que conseguem unir texto autoral e tradução de qualidade. Historiador de formação, é autor de romances, poemas e ensaios, além de colaborador do jornal de literatura Rascunho e do caderno "Aliás", do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor de vários livros, entre eles o romance "Estevão", escrito ao longo de dez anos, com inúmeras escritas, reescritas e versões descartadas pelo caminho, é, também, o tradutor do livro "O Caderno dos Pesadelos", escrito por Ricardo Chávez Castañeda, com ilustrações de Israel Barrón.  Nesta entrevista exclusiva, ele fala sobre reconhecer um bom texto, processos criativos e a reescrita da literatura a partir da tradução.


Resenhando.com - O que representa a literatura em sua vida?
André Caramuru Aubert - 
É tanto, é tanta coisa, que fica até difícil de responder. Eu vivo, e vivi, sempre, tão ligado aos livros, que eles se misturam a quem sou, ao que sinto, ao que penso, o tempo todo. Isso pode parecer uma coisa solene, mas não é. Detesto tratar livros com solenidade, essa coisa de ficar endeusando livros só serve pra afastar jovens leitores. Livros podem ser professores, mas antes de tudo são divertidos, são amigos que nos apoiam, inclusive quando estamos sozinhos. Desde pequeno eu sempre viajei muito (mentalmente), cresci filho único (minha irmã não morava comigo), com meus pais a maior parte do tempo fora de casa, pois eles trabalhavam bastante. E em casa a biblioteca era grande e multilíngue. Assim, os livros eram, de fato, meus companheiros. Mas valia tudo, dos quadrinhos da Disney, Tintim, Asterix e Príncipe Valente, aos romances de Alexandre Dumas, de (Robert Louis) Stevenson, de Sir Walter Scott e assim por diante. Eu viajava... E continuo viajando. O que muda é que, com o tempo, seu repertório aumenta, e você pode ficar mais exigente com o que vai te fazer viajar. Mas, ainda assim, quando folheio um Asterix, o prazer que sinto é o mesmo de quando tinha oito anos de idade.

Resenhando.com - Quais são os maiores desafios de um escritor ao traduzir obras de outros escritores?
André Caramuru Aubert - 
Traduzir é muito difícil, porque traduzir é reescrever e, no limite, recriar. Mas não é uma recriação livre, pois você precisa ser o mais fiel que puder ao que o autor fez (ou pretendeu fazer). Quanto mais sofisticada a obra, mais complicada é a tradução. A tradução implica uma infinidade de questões que os leitores, ao ler a obra traduzida, normalmente ignoram. Por exemplo: se você vai traduzir uma frase mal escrita, em inglês, cabe a você melhorá-la, em português? Se você traduz uma obra do século XIX, deve atualizar o texto, para torná-lo mais palatável ao leitor atual, ou traduzir no estilo equivalente ao do tempo em que a obra foi escrita? Ao traduzir um poema, você deve priorizar a forma (métrica, ritmo, eventuais rimas) ou o conteúdo? E por aí vai...

Resenhando.com - Qual é o tipo de obra que mais o interessa em traduzir?
André Caramuru Aubert - 
Adoro traduzir poemas, e por uma razão até meio egoísta, ou vampiresca: eu sinto que traduzir poemas melhora os meus próprios poemas. Amplia o meu repertório e me obriga a treinar o rigor técnico com relação à sonoridade, à métrica, às metáforas, ao ritmo etc. Enfim, eu aprendo muito com os poetas e poemas que traduzo.

Resenhando.com - Como foi traduzir "O Caderno de Pesadelos"?
André Caramuru Aubert - 
Não foi fácil. Em primeiro lugar, porque o “Caderno” é literatura de alta qualidade. E, como eu disse antes, obra boa, na qual o texto é elaborado, sofisticado, dá mais trabalho. Se o autor constrói uma frase perfeita no original, como você conseguirá vertê-la, de maneira adequada, para o português?


Qual é a sua opinião pessoal sobre a obra?
André Caramuru Aubert - 
"O Caderno..." é, de fato, um livro sensacional. Não é um livro fácil, confortável. Incomoda, toca em questões profundas, complexas, e é muito bem escrito, com ilustrações belíssimas e totalmente integradas ao texto.


Resenhando.com - Você fez uma recomendação, na contracapa do livro, para não lê-lo à noite. Por quê? Realmente sentiu medo do que encontrou?
André Caramuru Aubert - 
Não é que eu tenha sentido medo, até porque, pode-se dizer que sou um leitor treinado, que vai logo (até por vício) analisando a estrutura, os truques e recursos narrativos do autor etc. Por outro lado, eu consigo vislumbrar o que um livro poderá causar em seus leitores, e sei que "O Caderno..." provocará não só medo (o que, em si, não quer dizer que seja alta literatura), mas, principalmente, que o livro trará ao leitor questões difíceis, incômodas, como a confiança (ou a quebra dela) que as crianças têm nos adultos, a relação entre pais e filhos, a morte e o que acontece depois dela, os monstros que vivem debaixo (ou acima) de nossas camas etc.


Resenhando.com - Na sua própria literatura, em que você se expõe mais, e por outro lado, em que você mais se preserva, em seus textos?
André Caramuru Aubert - 
Não acredito que possa haver boa literatura onde o autor se preserve. Quando escrevo, não me preservo em nada. Mas isso não deve ser confundido com essa moda atual (que não me seduz) da autoficção. Acho isso uma besteira. A arte, e não só a literária, não é sobre o artista, mas sobre o mundo, ainda que seja feita a partir do artista. Quando você cria uma obra de arte, você está nela, com sua história, seu repertório, suas cicatrizes, sua visão de mundo, suas ferramentas. Mas a obra não precisa ser, e em geral não deve ser, sobre você.


Resenhando.com - O que une o André de antes, aquele escritor iniciante, e o de agora - um reconhecido escritor e tradutor? O que mais iguala e o que mais difere esses dois homens de épocas diferentes?
André Caramuru Aubert - 
Talvez a maior diferença seja a questão da maturidade. Não falo pelos outros, cada um tem sua régua, seu tempo. Eu sempre soube que queria ser escritor. Por outro lado, quando tinha vinte e poucos anos, e escrevia, eu sentia, no fundo, que aquilo ainda não era bom, pois eu não tinha vivido o suficiente para acumular a experiência necessária para poder falar de certas coisas. Acho que, para mim, escrever cedo não funcionou muito bem. Eu treinava, é certo, mas o resultado, na ficção, não era o desejado. Eu precisei amadurecer (ou envelhecer) para escrever de maneira satisfatória. O que não quer dizer que, com outros autores, isso não possa ser diferente. E escrever não-ficção sempre me ajudou a evoluir. Por exemplo, quando um jornal me encomendava um texto de 3.500 caracteres, eu me obrigava a ter a disciplina necessária para entregar um texto com aquela dimensão, mesmo que o tema, ou meu lado Tolstói, pedissem que eu escrevesse dez vezes mais. Isso treinava concisão, fazia tomar cuidado com os adjetivos (os maiores inimigos de um bom texto) e assim por diante. Lidar com limites é sempre bom para o aprendizado...


O que mais iguala e o que mais difere esses dois homens de épocas diferentes?
André Caramuru Aubert - 
Eu diria que o que une todos os Andrés ao longo do tempo (são bem mais do que dois) é a absoluta necessidade que sinto, e sempre senti, de escrever. E pouca coisa me afasta dos outros Andrés, a não ser o tempo. Tempo que me fez acumular leituras e releituras, algumas cicatrizes, amores perdidos e amores conquistados, perdas e ganhos, alegrias e tristezas. Enfim, no acúmulo de experiências às vezes boas, às vezes não, o repertório (ou seja, o material de que disponho para escrever) foi gradativamente aumentando.

Resenhando.com - Que conselhos você dá para as pessoas que pretendem enveredar pelos caminhos da escrita?
André Caramuru Aubert - 
Sempre que me fazem esta pergunta eu me lembro do Borges, que repetia, sem se cansar, que ler é mais importante do que escrever. Então, eu diria: quer ser escritor? Leia, leia, e leia. Leia muito, em todas as línguas, em todos os gêneros, de “Guerra e Paz” a bula de remédio; leia jornais, livros de história, de antropologia, biografias e, claro, livros de literatura: eles vão te ensinar sobre estilo e técnicas narrativas e vão te dar conteúdo. Os de poesia, principalmente, vão te ajudar a escolher as palavras exatas e a pensar a frase como quem pensa a respiração, vão ensinar ritmo. Vá a museus, aprenda sobre os impressionistas, sobre arte clássica, sobre a pintura medieval, sobre Pollock: eles vão te ensinar cromatismo, equilíbrio, pontos de fuga. Ouça Beethoven, Chopin (compare Guiomar Novaes com Nelson Freire), Dave Brubeck, John Coltrane, Milton Nascimento, Egberto Gismonti, Caetano Veloso: eles vão te mostrar o que é ritmo, harmonia, contraponto. E, não menos importante, além de ler e ver, viva. Viaje, acumule experiências, arrisque-se. O maior perigo para um autor que pretende viver isolado na torre de marfim é não aprender o suficiente do mundo para pode escrever algo que faça alguma diferença para.... o mundo. E, ainda, retomando minha resposta à pergunta anterior: tenha muito cuidado, sempre, com os adjetivos.


Resenhando.com - Quais livros foram fundamentais para a sua formação enquanto escritor e leitor?
André Caramuru Aubert - 
Ah, é muita coisa. Muita. Sou filho de infinitas leituras. Já falei ante sobre Tintim, Asterix e Príncipe Valente. Mas vamos a uma lista resumida (e muito incompleta) de prosa literária: Vladimir Nabokov, Jorge Luis Borges, Thomas Bernhard, Joseph Conrad, Machado de Assis, Pedro Nava, José Geraldo Vieira, Mário de Andrade, Roberto Bolaño, Cyro dos Anjos, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Thomas Mann, João Ubaldo Ribeiro, Guimarães Rosa, Lampedusa, Tolstói, John Cheever, Samuel Beckett, Natsume Soseki, Helena Morley, Alejo Carpentier, Saki, J. M. Coetzee... Se formos para a poesia, a lista seria igualmente grande, mas vou resumi-la ainda mais: William Carlos Williams, Edgar Allan Poe, Ferreira Gullar, Wallace Stevens, W. S. Merwin, Denise Levertov, Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Ezra Pound, Li Po, Donald Hall, Franz Wright, Ruy Espinheira Filho, Wang Wei, Robert Walser... Em prosa não ficcional, eu me lembro agora, como autores que me marcaram, de Sérgio Buarque de Holanda, Albert Camus, Eliot Weinberger, Gilberto Freyre, Claude Levi-Strauss, Jared Diamond, Paulo Prado, Montaigne, Capistrano de Abreu, Euclides da Cunha, Umberto Eco, Tony Judt, Richard J. Evans, Tzvetan Todorov, Julia Kristeva, Nathan Wachtel, Pierre Clastres... De um jeito ou de outro, ora mais, ora menos, por vezes citados nominalmente, por vezes nas entrelinhas, todos eles estão presentes em meus livros. E essas listas não devem ser entendidas como um ranking dos melhores. Elas são afetivas, no sentido de que alguns autores, que você leu muito numa determinada fase de sua vida, acabam sendo muito marcantes para você. Mas não, necessariamente, o serão para outras pessoas.


Resenhando.com - Como e quando começou a escrever?
André Caramuru Aubert - 
Comecei muito cedo e, com vinte e poucos anos, já tinha um romance e uns 200 contos na gaveta. Mas não eram bons e não foram publicados. Como disse antes, faltava-me vivência e maturidade. Isso, claro, quanto à literatura, porque para a imprensa eu escrevi desde sempre, para os principais jornais e revistas de então, como Estadão, Exame, Trip, Jornal do Brasil etc. Mas tem uma outra coisa, que não vou aprofundar aqui, mas que em algum momento ainda tratarei a sério: eu só consegui escrever literatura de verdade depois que meu pai morreu.


Resenhando.com - Quais escritores mais influenciaram a sua trajetória artística e pessoal? 
André Caramuru Aubert - 
Acredito que já respondi a esta pergunta no tocante aos nomes. Mas: por que eles me influenciaram? Se você pegar a lista de autores que eu mencionei, todos têm uma coisa em comum: são grandes estilistas, terrivelmente atentos ao ritmo, à estrutura, à escolha precisa das palavras. Eu acredito que um livro deve ser escrito da mesma maneira, e com o mesmo rigor, com que se compõe uma música instrumental ou se pinta uma tela.


Resenhando.com - É possível viver de literatura no Brasil? 
André Caramuru Aubert - 
No Brasil, você até pode viver de literatura, mas não, apenas, de seus livros. Você vai ter que dar aulas, cursos e oficinas; traduzir, escrever ensaios e publicar resenhas. É muito difícil. Até porque você não será livre nas escolhas (do que traduzir, sobre quem escrever um ensaio) ou, pelo menos, em boa parte delas.


Resenhando.com - O quanto para você escrever é disciplina? É mais inspiração ou transpiração? 
André Caramuru Aubert - 
Não vejo oposição entre inspiração e transpiração. Por exemplo, cada livro meu exige milhares de quilômetros de leitura. Para “Poesia Chinesa”, li incontáveis ensaios e pelo menos 50 livros com poemas de poetas chineses clássicos. Para o "Estevão", pesquisei de verdade, fui aos arquivos, li documentos, visitei locais em que a história se passa (em Diamantina, em Portugal... e não que isso tenha sido um sofrimento). Mas nenhuma transpiração faz sentido se não houver, por trás, a tal da inspiração. Arte é técnica, que se adquire com estudo e esforço, mas é também alma, é também talento. Não é assim com o esporte? O sujeito pode ser talentoso para jogar futebol, mas isso não será o suficiente, ele precisará treinar muito, e ser disciplinado, sempre. Mas tampouco adiantará treinar muito se não houver talento.


Resenhando.com - Você tem um ritual para escrever?
André Caramuru Aubert - 
Nenhum. Minha vida é um caos, minha rotina também. Só posso dizer que sou mais produtivo nas manhãs, um pouco menos nas tardes, e zero à noite. Depois que anoitece eu funciono para ler, mas não escrevo ou traduzo uma linha sequer.


Resenhando.com - Qual o mote que faz você ficar mais confortável para escrever? Uma frase? Uma imagem? Um incômodo?
André Caramuru Aubert - 
Eu gosto muito da frase do Ferreira Gullar, que disse que os poemas dele nasciam de um susto. De certa forma, se você ampliar muito a definição de “susto”, é o que acontece comigo. O susto pode ser a leitura de um poema, uma lembrança (inspirada por um cheiro, um som, uma planta, uma cena) enquanto faço minhas caminhadas matinais, ou pode ser uma música. Mas isso pode acontecer com os romances também. Uma vez eu estava olhando para aquelas bonequinhas russas, aquelas babushkas, em que a maior, por fora, tem uma menor dentro, e essa tem outra, e outra, e assim por diante, e pensei que queria escrever uma história em que houvesse várias histórias dentro uma da outra. Foi assim que nasceu o "Estevão", que teve mais de dez versões, ao longo de dez anos, até que chegou ao ponto em que eu considerei bom. Mas, mesmo depois de infinitas mudanças, ele ainda traz a inspiração das bonequinhas russas.


Resenhando.com - Em um processo de criação, o silêncio e isolamento são primordiais para produzir conteúdo ou o barulho não lhe atrapalha? 
André Caramuru Aubert - 
Não preciso de silêncio e isolamento, mas alguma privacidade é importante. Silêncio, aliás, não é o caso, pois sempre escrevo ouvindo música (em geral jazz, sempre instrumental, pois alguém cantando me atrapalha). E escrevo em meu escritório, com a porta aberta, as pessoas entram, falam comigo, me interrompem, isso não tem problema. Mas eu realmente não entendo como alguém consegue escrever, por exemplo, numa mesa de bar, com barulho e um monte de gente em volta, como Sartre e os outros existencialistas diziam fazer em Paris.


Resenhando.com - Como conciliar a rotina com o ato de ser escritor e também o de traduzir outros autores?
André Caramuru Aubert - 
Não há conflito aí, muito pelo contrário. Traduzir ajuda. Ao traduzir, você desenvolve uma intimidade muito grande com o autor, descobre suas técnicas, seus recursos e truques narrativos; você amplia, enfim, seu repertório. Além disso, traduzir implica uma disciplina que vai ser útil também em seus próprios textos. O autor original adjetiva muito? É conciso? Usa vocabulário difícil? É direto? Ao lidar com essas realidades diferentes, não como um simples leitor, mas como alguém que tem a obrigação de verter aquilo para o português, sendo o mais fiel possível, você vai aprender muito sobre o seu próprio processo, a sua própria escrita. O que atrapalha, claro, é que às vezes você pode estar querendo se dedicar ao seu livro e não tem tempo, porque precisa traduzir. Mas essa atrapalhação é a mesma que acontece quanto a escrever resenhas, a ministrar oficinas, pagar boletos, e remete àquela pergunta anterior, sobre se é possível, no Brasil, viver de literatura. Sim, é possível, mas não apenas dos seus próprios livros.


Resenhando.com - Para você, quais as características separam um texto bom de um ruim?
André Caramuru Aubert - 
É fácil reconhecer um bom texto, você bate o olho e sabe, mas é difícil explicar por quê. Simplificando um pouquinho, pode-se dizer que um bom texto literário tem um bom ritmo, palavras bem escolhidas, tramas sofisticadas e personagens verossímeis e complexos (nenhum personagem digno de nota, exceto nos contos de fadas, é completamente bom ou ruim). O texto ruim é exatamente o oposto. E tem muito livro ruim por aí, até mesmo ganhando prêmios. Mas eu jamais citaria, porque, por princípio, não abro a boca pra falar mal de ninguém. Ou elogio, ou fico quieto.


Resenhando.com - O que há de autobiográfico nos textos que escreve?
André Caramuru Aubert - 
Nada. Não escrevo sobre mim. Gosto de criar os personagens, de dar vida a eles, dar volume, fazê-los contraditórios e imperfeitos, como são todas as pessoas. Agora, é claro que há elementos autobiográficos, assim como há traços que “roubo” das pessoas que conheço, com quem convivo ou convivi, e mesmo de personagens de livros ou filmes, porque a gente precisa trabalhar com aquilo que conhece, para que os personagens tenham consistência e verossimilhança. Por exemplo, no "Estevão", o personagem é historiador de formação, como eu. E, como eu, ama Diamantina, e ama Portugal; e ama uma série de livros e músicas que eu também amo. Mas as semelhanças ficam por aí. O Estevão é divorciado, eu amo minha mulher (a primeira e a única); sou muito bem casado, ele aprecia a solidão; ele faz comentários misóginos (nos quais acredita), eu não. Ele não tem e não quer ter filhos, eu tenho dois, pelos quais sou totalmente apaixonado. E assim por diante.

Resenhando.com - Hoje, quem é o André Caramuru Aubert por ele mesmo?
André Caramuru Aubert - 
Isso eu não sei dizer. Sou uma pessoa de poucos talentos, sendo que os principais talvez sejam conseguir ler, traduzir e escrever. Mas não sei a quantos leitores meus textos agradam, acho que não a muitos, e esta é uma conta agravada por vivermos num país de poucos leitores. E, aí, minha grande frustração (voltando a perguntas anteriores) é não poder viver de fazer apenas isso: ler, traduzir e escrever. Quanto a escrever romances e poemas, pelo menos, não faço concessões: escrevo o que gosto, o que posso, e não penso no “mercado” nem em prêmios (jamais ganhei um; mas, para ser honesto, devo confessar que não me inscrevo neles). No fim das contas, porém, se o que escrevo agradar a pelo menos um leitor, já terei conseguido alguma coisa.


Você pode comprar "O Caderno dos Pesadelos", de Ricardo Chávez Castañeda, traduzido por André Caramuru Aubert, neste link.

Você pode conhecer a produção literária de André Caramuru Aubert neste link.




Flipoços Noir | "Caderno dos Pesadelos"

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