terça-feira, 8 de março de 2022

.: Crítica: "Misery", peça de teatro traz Mel Lisboa deliciosamente diabólica


Por 
Helder Moraes Miranda, editor do Resenhando. 

Poucos artistas aproveitaram tanto a chance de se reinventar no teatro quanto Mel Lisboa, atriz que ficou famosa nacionalmente após protagonizar uma minissérie na principal emissora do país. No teatro, Mel Lisboa é uma força da natureza. Ela está deliciosamente diabólica em "Misery", adaptação do romance de Stephen King, sucesso da Broadway em cartaz até dia 27 de março no Teatro Porto Seguro, em São Paulo. 

O espetáculo gira em torno da relação entre um escritor que sofre um acidente em uma região isolada e é salvo por uma ex-enfermeira que é grande fã dos livros dele e passa a demonstrar um lado obscuro e obsessivo. "Misery" marca a retomada da programação de artes cênicas no Teatro Porto após um período de obrigatoriedade de reclusão por conta da covid-19.

Após a estreia arrebatadora na televisão, a trajetória de Mel Lisboa como artista versátil vem sendo coroada no teatro com grandes papéis. Nos últimos anos, ela foi, entre outras personagens, Rita Lee, a doce e abnegada Grace em "Dogville" (papel que foi de Nicole Kidman no filme de Lars von Trier) e a escritora e médium russa Helena Petrovna Blavatsky.

Despida de vaidade e de qualquer resquício de delicadeza, sob a direção certeira de Eric Lenate, ela dá vida a uma mulher dura, solitária e amargurada. No espetáculo, Mel Lisboa interpreta Annie Wilkes, obcecada pela série de livros "Misery", do escritor Paul Sheldon, em papel defendido por Marcello Airoldi. Completa o elenco o ator Alexandre Galindo, no papel do xerife Buster, que traz um pouco de leveza à atmosfera pesada do enredo nas cenas em que aparece e brilha uma das cenas mais tensas do teatro da atualidade.

É preciso ressaltar também a qualidade da caracterização de Airoldi como o escritor acidentado com as pernas imobilizadas por talas. Também a força da cena em que as pernas do personagem é quebrada a marretadas, em um cenário que se move e é parte da história, como um personagem atento à movimentação dos personagens: assim como o público, ele é a testemunha ocular e, às vezes cúmplice, do que acontece entre quatro paredes. 

A sensibilidade de Mel Lisboa está presente na construção de uma personagem diferente de tudo o que ela já interpretou. As nuances da personagem, a euforia e as mudanças repentinas de humor deste papel - algumas engraçadas, outras aterrorizantes - tornam-se um desafio para a artista, que vem se desafiando cada vez mais nos papeis das histórias que escolhe contar. Mel Lisboa é uma das atrizes mais versáteis de sua geração e vem traçando no teatro uma trajetória interessante.

Ao lado dela na maior parte das cenas, está Marcello Airoldi, que esbanja charme e carisma no papel de Paul Sheldon - o personagem é sedutor e, por vezes, alterna com Mel Lisboa o papel de algoz e vítima. Ele quer ir embora, ela sabe disso e quer mantê-lo perto. Ambos refazem no teatro de suspense os papéis que já pertenceram a James Caan e Kathy Bates em uma interpretação que rendeu a ela o Oscar de melhor atriz e a conduziu ao estrelato em Hollywood.

A cena em que a fã psicótica tortura o escritor e o deixa manco está na lista da Bravo's dos 100 momentos mais assustadores do cinema. O fato de Mel Lisboa ser uma mulher bonita torna a personagem ainda mais peculiar e profunda. Não adianta ser uma mulher interessante, que oferece literalmente casa, comida, roupa lavada e afeto (do modo dela) a alguém se não há liberdade. Alguém sempre vai querer ir embora.


Para ampliar a experiência do teatro, você pode comprar o livro "Misery - Louca Obsessão", de Stephen King, neste link.

Serviço:
"Misery", de Stephen King.
Dramaturgia:
 William Goldman.
Tradução/Adaptação: Claudia Souto e Wendell Bendelack.
Direção artística: Eric Lenate.
Elenco: Mel Lisboa, Marcello Airoldi e Alexandre Galindo.
De 4 de fevereiro a 27 de março - Sextas e sábados às 20h e domingos às 19h. As sessões de domingo contam com intérprete de Libras
Ingressos: R$80 plateia / R$60 balcão/frisas.
Classificação: 14 anos.
Duração: 120 minutos.
Gênero: suspense. 


Teatro Porto Seguro
Al. Barão de Piracicaba, 740 – Campos Elíseos – São Paulo.
Telefone (11) 3366.8700

Bilheteria:
Aberta somente nos dias de espetáculo, duas horas antes da atração.
Clientes Cartão Porto Seguro têm 50% de desconto.
Clientes Porto Seguro têm 30% de desconto.
Vendas: www.sympla.com.br/teatroportoseguro
Capacidade:
 508 lugares.
Formas de pagamento: cartão de crédito e débito (Visa, Mastercard, Elo e Diners).
Acessibilidade: dez lugares para cadeirantes e cinco cadeiras para obesos.
Estacionamento no local: Estapar R$ 20 (self parking) - Clientes Porto Seguro têm desconto.


Encerramento de "Misery" no Teatro Porto Seguro - Apresentação de domingo, dia 6 de março


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Um comentário:

  1. Ótimas atuações, cenário sofisticado, mas a história
    ruim, deixando a peça longa e enfadonha.

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