terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

.: Arnaldo Jabor, escritor, comentarista e cineasta, morre aos 81 anos


Irônico, crítico, lúcido. Arnaldo Jabor levou sua marca registrada a todos os trabalhos que fez no cinema, na TV, na rádio e nos jornais. Foi cineasta, roteirista, produtor cinematográfico e escritor brasileiro. Morreu aos 81 anos, na madrugada desta terça-feira, dia 15, por complicações em decorrência de um AVC. 

Estava internado desde dezembro do ano passado no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. O cineasta terá velórios nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Em São Paulo, a cerimônia será reservada para familiares e amigos. Na quarta, o velório será aberto ao público no Museu de Arte Moderna (MAM). Depois o corpo será cremado.

Nascido em 12 de dezembro de 1940, no Rio de Janeiro, Arnaldo Jabor era um carioca de nascimento e de coração. Crítico irascível da classe média e da burguesia intelectual, da qual ele próprio fazia parte, se formou no ambiente do Cinema Novo na década de 60. Durante mais de 40 anos, se colocou diante da opinião pública como ponto crítico, de questionamento. “A história caminha como uma velha bêbada, para frente e para trás. Acho que a verdadeira posição política no Brasil é a defesa da democracia e da complexidade. A posição ideal não é de esquerda nem de direita, mas uma mistura das coisas boas do conservadorismo e do progressismo, me considero um liberal com respeito às coisas boas do passado”, disse Jabor sobre o ritmo das mudanças no Brasil.     

No cinema, dirigiu sete longas, dois curtas e dois documentários. Em 1967, produziu o documentário “Opinião Pública”, seu primeiro longa metragem e uma espécie de mosaico sobre como o brasileiro olha sua própria realidade. Dirigiu longas que se tornaram referência no cinema nacional, como “Tudo Bem”, considerado um dos 100 melhores filmes de todos os tempos pela Academia Brasileira de Cinema (Abraccine); e o consagrado “Toda Nudez Será Castigada”, adaptação da obra de Nelson Rodrigues que se tornou um grande sucesso de bilheteria do cinema brasileiro e rendeu à Darlene Glória o Urso de Prata por melhor atriz no Festival de Berlim.

Trabalhou com grandes nomes da dramaturgia nacional como Fernanda Montenegro, Sonia Braga, Paulo Gracindo, Camila Amado, Paulo César Pereio e Fernanda Torres, que também foi premiada como melhor atriz no Festival de Cannes por seu trabalho em “Eu Sei que Vou Te Amar”

 Até que nos anos 90, com o fim da Embrafilme e a crise do cinema nacional, Arnaldo Jabor se viu obrigado a buscar outra profissão e levou sua crítica à sociedade, à política e à cultura para o jornalismo de opinião. Por quase três décadas, escreveu oito livros – como os best-sellers instantâneos “Amor É Prosa, Sexo É Poesia” e “Pornopolítica” - e mais de 1.500 artigos em jornais como Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo, tempo em que também se dedicou ao trabalho na rádio CBN e na TV Globo. Apresentou quadros e fez comentários no "Jornal Nacional", "Bom Dia Brasil", "Jornal Hoje", "Fantástico" e no "Jornal da Globo", onde apresentou sua última coluna no dia 18 de novembro do ano passado. 

Arnaldo Jabor discorria sobre arte, cinema, sexualidade, política, economia, amor, filosofia e preconceito. A guinada para o jornalismo foi tão bem sucedida, que é tão lembrado por seu trabalho no jornalismo quanto por seus filmes e livros. Neste período, filmou apenas um longa-metragem, “A Suprema Felicidade”, em 2010. 

Em 2017, Jabor anunciava que estava deixando as atividades de articulista na mídia impressa para se dedicar ao seu próximo filme, “Meu Último Desejo”, inspirado no conto “O Livro de Panegíricos”, de Rubem Fonseca (1925-2020). Produzido pela Aurora Filmes e coproduzido pela Globo Filmes, o longa, ainda inédito, foi rodado semanas antes da eclosão da pandemia e ainda não tem previsão de estreia. Arnaldo Jabor deixa os filhos João Pedro, Carolina e Juliana e os quatro netos João, Joaquim, Antonia e Alice.


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