A obra, escrita por Luiz de Miranda, é um apanhado de detalhes do cotidiano de personagens que realmente existiram.
Está comprovado, por meio de tantos relatos, que viajar pode mudar a vida de uma pessoa. Luiz de Miranda dá voz a essa “verdade”. O escritor, em 1969, fez seu doutorado na Bélgica. Paralelamente ao curso, munido de caderninhos pretos, que estavam sempre à mão, ele foi anotando cada detalhe do que considera o “cotidiano criativo” - que escapa ao olhar da maioria. Histórias, palavras, atos de gente que Miranda presenciou; coisas que enriquecem o dia a dia foram colecionadas e viraram um livro.
"Os Magadaes", que se passa nos anos 60/70 na Europa, reúne arte, beleza, poesia, política, história, alquimia, romance, detalhados com criatividade – de uma forma que permite ao leitor enxergar, na sua mente, os ambientes, a profusão de cores das ardenas belgas e os personagens, que realmente existiram.
O título do livro – "Os Magadaes" - já é um convite à magia. Ele foi inspirado num conto de Oscar Wilde, no qual as pessoas nascem velhas e vão se tornando cada ano mais moças e depois morrem crianças. A capa reproduz um quadro de León Henri Marie Frédéric, "Le Ruisseau" ("O Riacho"), cujo original está no Museu Real de Belas Artes de Bruxelas e retrata toda a inocência e alegrias infantis, nas águas frescas de um riacho. Foi aí que a idéia do livro começou a ganhar corpo. A metáfora de Wilde e a pintura de Frédéric deram impulso à história de Luiz de Miranda.
A obra acontece no Asilo dos Lilases, uma encantadora mansão no vale do Semois. O diretor do local, Dr. Dumont, vivia para observar os internos. Não tanto pelo cuidado que a profissão exige, mas para descobrir, afinal, o que vem a ser, concretamente, a velhice. Se conseguisse a resposta, o médico entendia que seria possível inverter a natureza e realizar o sonho de Fausto, o elixir da longa vida. Entre os velhinhos estão a sedutora Nicole, o recatado e apaixonado Nestor, o revolucionário Homero, o sonhador Théo, que queria produzir, com alquimia, a rosa azul, o raivoso Jules e outras figuras misteriosas.
"Os Magadaes" foi escrito quando, no mundo, ainda existiam a Primavera de Praga, a guerra do Vietnã, a ETA, o IRA, Salazar, Franco, as ditaduras da América do Sul, as colônias africanas de Portugal e o apartheid na África do Sul. No Brasil, o AI-5 estava completando dois anos e os gritos de gol de Pelé ajudavam a calar os gritos de dor nos porões do DOPS.
Exatamente nessa época o engenheiro Luiz de Miranda, um mineiro que foi morar no Rio de Janeiro aos seis anos de idade, resolveu fazer doutorado em Bruxelas sobre a “formação de ferrugem em aços”. Como “precisava” de beleza, segundo o escritor, anotava tudo o que era marcante, que de alguma forma tinha beleza.
Os acontecidos, aqui e ali, começaram a tomar forma e os capítulos foram aparecendo. Mas, afinal, o que são "Os Magadaes"? No livro, são aquelas pessoas que preservaram a beleza na alma ao longo da vida e puderam, afinal, terminar os dias juntas, num grande jardim onírico, regado a brincadeira de crianças. Como diria o personagem Théo, que tinha obsessão por criar a rosa azul, “a eternidade se constrói”.
A beleza presente durante toda a narrativa, ganha reforço, na versão e-book, com duas músicas: a segunda parte da suíte de Ravel, “Daphnis et Chloé, com 7’20, e a suíte de Rimsky Korsakov, “A Lenda da cidade invisível de Kiteh”, com 5’06. Melodias belíssimas que servem como metalinguagem de todo o lirismo presente em "Os Magadaes". O livro é aberto por dois contos fantásticos que fazem parte da obra do autor, embora sem conexão com "Os Magadaes".
Sobre o autor:
Luiz Miranda, nascido em Recreio (Minas Gerais) em 28 de junho de 1944, Luiz de Miranda mudou-se para o Rio ainda na infância. Por sua família ter se estabelecido em Ramos, subúrbio carioca, conviveu com o cotidiano rico em histórias e personagens típicos dessa cultura e época. Seus pais eram farmacêuticos e o proveram de educação religiosa dos padres Salesianos. Formou-se em engenharia metalúrgica em 1967 pela UFRJ seguindo, devido a situação política do país, para a Bélgica, onde doutorou-se na Université Libre de Bruxelles.
De volta ao Brasil, estabeleceu-se como professor/pesquisador da COPPE-UFRJ onde aposentou-se. Suas principais influências literárias vão desde os contos caipiras do interior mineiro até autores como Pagnol, Oscar Wilde, Poe e García Marques. No entanto, revela que sua verve literária se inspira sobretudo no “cotidiano criador”.
Livro: "Os Magadaes"
Autor: Luiz de Miranda
Número de páginas: 120
Formato: 14 x 21
Idioma: português
Encadernação: brochura
Editora: Letra Capital
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