Filme “Não olhe para cima”: "Não é manipulação da verdade, mas sim o reflexo da cultura do abstrato" diz neurocientista. O PhD neurocientista Dr. Fabiano de Abreu revela como o mundo dividido entre o que é real e virtual pode explicar as teorias apresentadas no novo sucesso da plataforma de streaming
Grande sucesso recente da Netflix, o filme “Não olhe para cima” tem despertado a atenção e a curiosidade de muitos espectadores devido aos artistas e ao conteúdo que fazem parte da produção. Recheado de estrelas como Meryl Streep, Jennifer Lawrence, Leonardo DiCaprio, Tyler Perry, Jonah Hill, Cate Blanchett, Timothée Chalamet e Rob Morgan, a obra conta também com participações especiais da popstar Ariana Grande e do rapper Kid Cudi. Todos, juntos, sob a direção de Adam McKay, levam ao público uma visão de como em um mundo com tantas fontes de informações, a verdade pode ser contada de diversas maneiras.
Na produção, personagens fictícios demonstram como estão fúteis e egoístas os interesses da massa. Além disso, a produção revela como uma verdade pode ser alterada, principalmente quando os líderes de uma nação colocam os seus interesses na frente da segurança da população e difundem uma série de inverdades.
Segundo o PhD, neurocientista, psicanalista, biólogo e antropólogo Prof. Dr. Fabiano de Abreu, "a questão principal não é a facilidade em manipular, como muita gente acredita que o filme revela, mas sim a cultura do abstrato. Vivemos numa era onde a realidade se confunde entre o real e o virtual. Também estamos passando por uma falta de fé, que tem relação com esta era virtual, já que tudo se tornou questionável”.
Além disso, o neurocientista acrescenta: “A futilidade advém de um narcisismo impregnado na atual sociedade, reflexo dos efeitos da rede social, onde por trás de uma tela, o ser humano potencializou o narcisismo instintivo transformando-o em algo abstrato já que ninguém é soberano até que se apresente alguém imortal, ou seja, não existe. Na vida, assim como o equilíbrio é praxe, também é a semântica. O virtual é abstrato e com ele nossa vida está a se tornar fantasiosa”.
De acordo com Abreu, “os políticos gananciosos e extravagantes do filme, nos dá a percepção de como se pode votar de forma incoerente. Mostrando uma sociedade vazia sem uma cognição desenvolvida para perceber que aquele político é uma fraude. E a sociedade em si, mergulhada numa cultura já formatada de futilidade, descrédito, negacionista e viciada em dopamina (neurotransmissor da recompensa liberado na satisfação ou na esperança dela)”.
Para quem ainda não viu, “Não olhe para cima” aborda a guerra contra a ciência promovida por um grupo de empresários que elegem políticos “marionetes” com interesses egoístas e gananciosos em detrimento do bem-estar mundial. Diante disso, Fabiano completa: “Quando cai a ficha, da realidade, já é tarde demais. Esse é o reflexo dos riscos que vivemos nos dias de hoje”.
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