quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

.: Meu singelo adeus ao mestre Dirceu Fernandes Lopes



Por: Mary Ellen Farias dos Santos 

Em dezembro de 2021


Há uma semana, maridão nem bem esperou eu abrir os olhos quando me disse que o professor Dirceu Fernandes Lopes havia falecido. Assim que entendi a mensagem, bateu uma sensação inexplicável de perda. Eu me formei na UniSantos, em 2004, e ele não chegou a ser, efetivamente, professor da minha turma. Uma lástima.

O Dirceu foi nosso professor substituto -o que era sempre uma surpresa. Sendo assim, o certo era sempre chegar no horário para não levar uma chamada dele, diante de todos. Vergonha! Eu adorava quando era ele. Até hoje repito o comentário que fazia sobre a fraca programação televisiva e os realities que estavam começando a emplacar: "isso faz a orelha de burro crescer". 

Ele podia fechar a cara para atrasos, mas sabia sorrir de modo acolhedor. Era a caricatura de um homem bravo: voz de trovão, sobrancelhas arqueadas e um bigodão. Como não tremer de medo de errar com ele? Foi nessa condição que eu o conheci. Não que antes eu não tivesse ouvido falar muito de Dirceu Fernandes Lopes. Havia unanimidade quanto o nome Dirceu: ele uma lenda para os alunos da FACOS, localizada na Rua Euclides da Cunha, em Santos. 

No primeiro dia da turma com o mestre, ouvimos a peripécia de ele ter jogado um celular pela janela. Um aviso direto para caso o de algum aluno presente chegasse a tocar durante a aula. Bem, eu nem tinha um. Minha obrigação era prestar atenção e anotar os ensinamentos. E são tantos repetidos por nós até hoje.

Se tenho mania de falar "Juízo, hein!", é por causa dele. Brincava comigo e meu namorado -que hoje é meu marido-, mas sempre terminava a conversa dando esse alerta. A verdade é que o professor Dirceu tentava assustar, mas logo descobríamos que ele era muito do bem, tal qual um paizão. 

Dava medo quando ele pegava os nossos textos, mas a devolutiva era de orgulho para quem recebia. Grifava tudo o que achava importante e fazia anotações. E até comentava com a gente sobre as ideias abordadas. Ele realmente lia o que tínhamos escrito. Isso conta muito quando somos foquinhas. 

Claro que quando comecei a dar aula de Redação para o ensino médio, muitas das minhas manias vieram dele! Como deixar de se lembrar do "Momento Mágico" quando ele premiava os textos dos alunos com livros? Outro hábito replicado por mim e meu marido.

Além das brincadeiras e conselhos dados nos corredores da antiga FACOS fica uma outra lembrança muito viva. Ao terminar a conversa, numa modalidade de despedida própria, o professor dava uns petelecos na barriga -dos rapazes. Nas moças, encostava de leve no braço e ia embora.

E como era legal encontrá-lo num ponto de ônibus ou numa rua de Santos. Geralmente de calça jeans, Hering branca, boné e mochila nas costas. Hoje em dia, partilho com meu marido, também ex-aluno dele a maravilha que é estar na rua com mochila nas costas, em roupas confortáveis e sair por aí.

Não é que havia a lenda de que ele não pisava em Shopping?! Claro que nós acreditávamos! Contudo, certa vez, eu e meu ainda namorado, encontramos o próprio, o professor Dirceu, no Praiamar Shopping. Iria ao cinema assistir "O conde de Monte Cristo". 

O professor não era só bom em recomendar filmes, mas também livros. Lembro que eu estava no primeiro ano de Jornalismo, quando meu pai deu um bom dinheiro para eu ir ao Gonzaga, comprar livros para a faculdade. Pois bem! Voltei com um que desejava há certo tempo "O Mundo de Sofia", enquanto que trouxe indicações dele: "Minha Razão de Viver" e "História da Imprensa no Brasil". Tenho todos até hoje, em minha estante.

Ensinou sobre ajudar a quem precisa e a ser grato. Essa é a imagem que tenho dele. Ele é a saudade que levamos daquele prédio na Euclides que nem existe mais.

Dirceu Fernandes Lopes foi gigante, não apenas por tudo o que representou para meu marido e, consequentemente, para mim. Ele é o cara!


* Mary Ellen é editora do site cultural www.resenhando.com, jornalista, professora e roteirista, além de criadora do photonovelas.blogspot.com. Twitter:@maryellenfsm


Acompanhe a página no Facebook "A vida de Dirceu Fernandes Lopes": https://www.facebook.com/A-vida-de-Dirceu-Fernandes-Lopes

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