Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em dezembro de 2021
A produção cinematográfica dirigida por Adam McKay "Não Olhe Para Cima" pode ser encarada como uma comédia de ficção científica. Contudo, a impressão fica somente nos primeiros minutos, pois logo que a trama consegue deixar claro a que veio, nota-se facilmente que tem como forte propósito criticar a forma de vida que adotamos para um planeta saturado dos variados excessos. Na telona, tudo isso está aliado a um elenco de primeira que inclui Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Cate Blanchett e Timothée Chalamet.
O longa-metragem de 2h25m tem como pontapé inicial a descoberta da cientista Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence): um cometa que está em rota de colisão direta com a Terra. Tal fato é confirmado pelo parceiro de trabalho da astrônoma, Randall Mindy (Leonardo DiCaprio). Cientes de tamanha responsabilidade, eles embarcam numa aventura cheia de boas intenções para salvar a humanidade. Logo, ganham o apoio do Dr. Teddy Oglethorpe (Rob Morgan) quando precisam explicar a situação para o símbolo máximo do poder: a presidente do Estados Unidos Janie Orlean (Meryl Streep).
Antes disso, conhecemos um general corrupto interpretado por Paul Guilfoyle. É justamente nesse ponto que o filme começa a crescer, talvez pela atuação debochada da vencedora de três Oscars, Meryl Streep, ritmando mais a trama. Como não se chocar com Janie fazendo questão de que os cientistas encurtem as falas que ela não entende -e nem faz questão de entender- ou dando a mínima importância sobre o fim da vida na Terra?
Impressionante?! Sim. Contudo, sabemos bem que tal encenação é apenas o retrato do que acontece nos "salões" frequentados por cabeças ocas que só pensam em quanto irão roubar, embora continuem ocupando cargos de grande responsabilidade. Assim entra em pauta a situação vivida nos E.U.A. e, consequentemente o Brasil, durante a pandemia de Covid-19: presidentes enchendo seus bolsos e ignorando solenemente a única chance de salvar a população de tamanho impacto.
Apesar de ignorante, Janie põe em prática uma missão para dar fim ao cometa, mas muda tudo de última hora. Aliás, durante o trajeto para a destruição do cometa. Típico, não é?! Assim, a presidente fecha negócio em seu favor financeiro, em parceria com o ricaço Peter Isherwell (Mark Rylance). Ao assumir o risco do que está prestes a colocar em prática, a representante dos Estados Unidos, exclui países como China e Rússia que, paralelamente, tentam concretizar a missão de salvar a Terra, mas nem tudo acontece como o esperado.
Em "Não Olhe Para Cima" a vacina não está na temática, mas o resultado, no desfecho é bastante similar. O longa não esquece nem mesmo dos negacionistas, aliás, o lema deles é o gerador do título do filme. Enquanto os cientístas tentam conscientizar a todos sobre o que está prestes a acontecer, lançando a campanha "Look Up" (Olhe Para Cima), do outro lado um grupo se reúne com a presidente e invade as redes sociais com gritos histéricos de "Don´t Look Up" (Não Olhe Para Cima).
"Não Olhe Para Cima" é pura mímese, o que não deixa o público perceber o tempo passar. Tudo acontece muito rápido, desde as situações esdrúxulas que em 2020 e 2021 acabamos nos habituando a ser testemunhas a até a necessidade de escolher heróis, no caso, aqueles totalmente inaptos a tal posto. Até Randall Mindy (Leonardo DiCaprio) deixa o papel de astrônomo e assume o de símbolo sexual colhendo os frutos, inclusive. O que faz o público lamentar por June (Melanie Lynskey, a Rose de "Two and a Half Man").
Aliás, o filme deixa claro o egocentrismo imensurável, ao ponto de nem a vida dos filhos terem qualquer peso. Jason (Jonah Hill) acaba sendo esquecido por Janie -o que não surpreedente. Evidenciando que esse tipo de gente só pensa em si e em mais ninguém. "Não Olhe Para Cima" ainda consegue mostrar como as redes sociais são prejudiciais, além de destacar a futilidade dos artistas que se engajam em campanhas com as quais pouco se importam.
O longa da Netflix, que apresenta o logo sem o famoso som de "tudum", vai tão a fundo que mostra o quarto poder em seu estado mais frágil e totalmente voltado ao entretenimento. É assim que conhecemos os apresentadores Brie Evantee (Cate Blanchett) e Jack Bremmer (Tyler Perry) entrevistadores, tanto da cantora Riley Bina (Ariana Grande) quanto dos cientistas Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence) e Randall Mindy (Leonardo DiCaprio).
Outro mérito do filme é o de fazer o público rir da própria desgraça, reforçando que se dependermos dos governantes eleitos, todos vamos morrer. "Não Olhe Para Cima" ainda leva os personagens endinheirados ao paraíso e garante ao público a visão das nádegas nuas de Mery Streep com a tatuagem de uma borboleta (corpo de dublê). Tal cena desagradou Leonardo Di Caprio que a vê como a "rainha do cinema", mas o diretor respondeu a ele que ali "é a Presidente Orlean, não é a Meryl Streep". Estão no elenco também Chris Evans, Himesh Patel, Matthew Perry, Ariana Grande, Ron Perlamn, Mark Rylance, Melanie Lynskey e mais. Imperdível!
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* Mary Ellen é editora do site cultural www.resenhando.com, jornalista, professora e roteirista, além de criadora do photonovelas.blogspot.com. Twitter:@maryellenfsm
Filme: Não Olhe para Cima (Don´t Look Up)
Direção: Adam McKay
Roteiro: Adam McKay
Gênero: Comédia/Catástrofe
Duração: 2h 25m
Elenco: Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Cate Blanchett, Rob Morgan, Jonah Hill, Mark Rylance, Tyler Perry, Timothée Chalamet, Ariana Grande, Scott Mescudi, Michael Chiklis, Melanie Lynskey, Himesh Patel, Tomer Sisley, Paul Guilfoyle, Robert Joy
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