Teatro da Conspiração traz espetáculo que se inspira em história trágica de 50 órfãos do Brasil dos anos 30 e 40. Foto: Arô Ribeiro
A montagem faz uma reflexão sobre uma história tenebrosa do Brasil envolvendo a trajetória real de 50 meninos órfãos e o uso de trabalhos forçados em fazendas de membros da Ação Integralista do Brasil. Com uma dramaturgia poética, o espetáculo é centrado no trabalho do elenco utilizando elementos do teatro dança, cantos de trabalho e canções tradicionais infantis.
Com uma proposta que busca refletir questões da sociedade brasileira, o Teatro da Conspiração apresenta seu novo espetáculo: Tão Somente Meninos. As apresentações acontecem de forma online e gratuita nos dias 25, 26, 27 e 28 de novembro, e 2, 3, 4, 5, 10 e 11 de dezembro. Sempre 20h. Os ingressos podem ser reservados pelo Sympla. A montagem faz uma reflexão sobre uma história tenebrosa do Brasil envolvendo a trajetória real de 50 meninos órfãos e o uso de trabalhos forçados em fazendas de membros da Ação Integralista Brasileira. A dramaturgia é de Solange Dias e a direção é de Cássio Castelan. No elenco, estão Alessandra Moreira, Dudu Oliveira, Edi Cardoso e Márcio Ribeiro.
A trama traz um encontro de 50 “meninos velhos” em volta de um poço, onde história, desejos, medos e sonhos dessas vidas são colocados à tona. Para a criação da dramaturgia, o coletivo se inspirou na tese de doutorado Educação, Autoritarismo e Eugenia: Exploração do trabalho e violência à infância desamparada no Brasil (1930-45)”, defendida em 2011 pelo professor e historiador Sidney Aguilar Filho na Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, baseada na investigação de farta documentação e entrevistas com pessoas que tiveram envolvimento direto ou indireto com o episódio dos meninos, inclusive três sobreviventes, que na época da pesquisa, estavam beirando os 90 anos de idade.
“Os meninos simplesmente não tinham nome, eram chamados por números e sofreram um processo de desumanização. No espetáculo criamos um encontro ficcional e mágico entre eles e fizemos questão de resgatar seus nomes: Miro, Zequinha, Zico e Olímpio representam a vida dos 50 órfãos, trazendo uma reflexão sobre suas dores, permeando momentos poéticos e lúdicos. Apesar de ser algo que ocorreu entre as décadas de 30 e 40 do século passado, a trama é uma luz ao que acontece atualmente no Brasil com os discursos de meritocracia, de desqualificação da vida, racismo e autoritarismo”, conta Solange Dias.
A história de 50 meninos órfãos é real: eles tinham de nove a onze anos e a maioria negros. Todos foram retirados do Educandário Romão de Mattos Duarte (Rio de Janeiro), sob a guarda do Juizado de Menores do Distrito Federal, e levados para uma propriedade privada em Campina do Monte Alegre(São Paulo). Por uma década, essas crianças foram submetidas, sem nenhuma remuneração, nem estudo, a uma condição sub-humana em longas jornadas de trabalho agrícola e pecuário , em fazendas de membros da Ação Integralista Brasileira, um movimento político brasileiro ultranacionalista, conservador e tradicionalista católico de extrema-direita, inspirado no fascismo italiano e no nazismo alemão.
Com uma dramaturgia poética, a peça conta com quatro intérpretes que narram as histórias de seus personagens, variando entre os tempos de infância e da velhice. O cenário traz poucos elementos e vai para uma linha não-realista, onírica, ao simbolizar um poço, espaço em que muitos dos órfãos eram colocados de castigo como forma de punição.
O espetáculo é centrado no trabalho do elenco utilizando elementos do teatro dança e partituras de ação. A música também tem papel importante ao mostrar as camadas dos personagens a partir de canções tradicionais infantis e cantos de trabalho que ditando o ritmo árduo do dia a dia.
Para a criação do espetáculo, foram utilizadas também outras referências. “Nos inspiramos em várias fontes da realidade brasileira, de uma sociedade que subjuga os corpos na exploração do trabalho, em uma época em que ainda temos notícias de trabalhos em situação de semiescravidão. O sistema de opressão e as questões históricas estão em evidência na montagem, em que arte nos faz olhar e refletir sobre as nossas feridas”, enfatiza a dramaturga.
As transmissões são feitas em parceria com Oficina de Atores Nilton Travesso, Cia do Nó (Santo André), Cia. Do Flores (São Bernardo do Campo), Cia. Feijamkarroz (Ribeirão Pires), Cia. Quartum Crescente e Cia. Cordelística (Mauá), e Estação Cultura de São Caetano do Sul.
Teatro da Conspiração
O Teatro da Conspiração, ao longo de seus 20 anos de existência, vem se consolidando como um coletivo na busca de um rigor técnico do trabalho do intérprete e da construção da cena, além do aprimoramento da escrita de dramaturgias inéditas em produções de diferentes formatos e estéticas.
Em seu repertório investigam-se diversas temáticas, entre elas, a história recente do país em Geração 80 (2002) e Tito - É melhor morrer do que perder a vida (2007), questões sociopolíticas em Cantos Periféricos (2003), o infantil A Princesa e a Costureira (2016) e o juvenil Os Livros de Jonas (2018).
FICHA TÉCNICA
Dramaturgia: Solange Dias. Direção: Cássio Castelan. Elenco: Alessandra Moreira, Dudu Oliveira, Edi Cardoso e Márcio Ribeiro. Direção Musical: Letícia Góes. Direção de Movimento: André Pastore. Cenários e Figurinos: Guto Togniazzolo. Iluminação: Mauro Martorelli. Operação de luz: Dida Genofre. Operação de som: Carolina Gracindo. Produção audiovisual: Rolo B. Cine. Registro em foto: Arô Ribeiro e Léo Xymox. Arte Gráfica: Pedro Penafiel. Produção: Maju Tóffuli. Assessoria de Imprensa e Redes Sociais: Renato Fernandes. Parceria: Oficina de Atores Nilton Travesso, Cia. do Nó, Cia. Quartum Crescente, Cia. Cordelística, Cia. Feijamkarroz, Estação Cultura de São Caetano do Sul.
SERVIÇO
Tão Somente Meninos
Classificação: 14 Anos. Duração: 80 Minutos
Transmissão Online nos dias: 25, 26, 27 e 28 de novembro. E 2, 3, 4, 5, 10 e 11 de dezembro. Sempre 20h
GRÁTIS Reservas em: https://sympla.com/teatrodaconspiracao
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