sábado, 13 de novembro de 2021

.: Crítica: musical "Forever Young" leva alegria em país devastado pelo luto


Por 
Helder Moraes Miranda, editor do Resenhando.

É impossível, em um primeiro momento, dissociar o espetáculo musical "Forever Young" de artistas que morreram jovens - Fernanda Young, Marília Mendonça, Paulo Gustavo, entre outros. Mas essa impressão vai se dissolvendo nos primeiros minutos da peça teatral, já que "Forever Young", mais do que a música clássica da banda Alphaville, é sobre a vida. 

Chega a ser um desafio apresentar um espetáculo tão "para cima" quando o país segue devastado por uma sequência de milhares de mortes de famosos e anônimos - a maioria pela covid-19 - e também pelo descaso da política em relação a tudo e a todo o resto. Para além do desafio de trazer alegria a um povo enlutado, "Forever Young" se faz necessário no superlativo.

Em últimas apresentações no Teatro da Liberdade, até este domingo, em sessões neste sábado, dia 13, às 20h30, e domingo, dia 14, às 18h, o espetáculo celebra a juventude na maturidade. A idade pode estar nas dores lombares dos personagens, mas não afeta a essência de quem quer beber o máximo da essência da vida, como os personagens representados. No palco, os atores Carmo Dalla Vecchia, Janaina Bianchi, Keila Bueno, Paula Capovilla, Ton Prado, Fred Silveira e Miguel Briamonte - em personagens que levam o nome dos intérpretes) - vivenciam o cotidiano de idosos que querem ser ouvidos e são ignorados em um retiro de artistas. Todos têm apenas um ao outro para compartilharem a vida e o que resulta dela - desde momentos afetuosos a desentendimentos. Tudo regado à música boa.

No espetáculo, há uma espécie de pacto entre artistas e espectadores. O público está ali como alguém que observa os acontecimentos pelo buraco da fechadura. A cumplicidade entre os espectadores é o de silêncio: todos devem guardar segredo a respeito do que fazem os artistas veteranos quando a enfermeira com pretensões artísticas não está lá.

Chama atenção a entrega dos intérpretes e a maneira como eles se despem da vaidade para interpretar os personagens que, de alguma maneira, têm algo da personalidade deles que vai além do nome emprestado. Todos têm o seu momento enquanto relembram grandes momentos da carreira e da música. Há uma ironia fina no espetáculo montado por Erik Gedeon, dirigido com muita sensibilidade por Jarbas Homem de Mello, e produção e tradução de Henrique Benjamim, também tradutor, da HBenjamin Produções. O que fazer quando tudo o que restou de sua trajetória são as memórias?

Existe, também, a poesia, presente em todos os momentos da história. É como se ela, ao lado do público, estivesse observando os personagens e funcionasse como um sexto personagem. Abstrata, ela não pode ser tocada, mas está presente em todas as falas e encenações. "Forever Young" é o teatro e ao mesmo tempo é o espectador que se identifica com o que vê e transforma tudo o que vivenciou em algo que pode transformar este mundo temporariamente enlutado em um lugar propício para celebrações.


Serviço:
"Forever Young"
Sábado, dia 13, às 20h30, e domingo, dia 14 de novembro, às 18h.
Classificação etária: 14 anos. Duração: 100 Minutos

Teatro Liberdade
Endereço: Rua São Joaquim 129 – Liberdade – São Paulo/SP

Apresentações online
Dias 23 a 28 de novembro, e de 30 de novembro a 5 de dezembro.

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