Na França medieval, duelar até a morte era um procedimento aceitável — e comum — para defender a honra e fazer justiça. Muitas vezes decretados pelo próprio Parlamento, esses combates que terminavam necessariamente com apenas um sobrevivente eram utilizados como último recurso em caso de embates judiciais, e seus resultados não deixavam dúvidas, porque eram considerados um julgamento divino. O último deles ocorreu poucos dias após o Natal de 1386, em meio à Guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra, um dos maiores conflitos da Idade Média. Em uma manhã fria, milhares de pessoas, incluindo o rei Carlos VI e sua corte, se amontoaram em torno de um campo de batalha para assistirem à luta feroz entre dois homens vestindo armaduras completas, empunhando lanças, machado e espadas e com adagas em seus cinturões.
Os impressionantes acontecimentos que culminaram no sangrento conflito em Paris deram origem ao best-seller que, em outubro, ganha reedição caprichada pela Intrínseca. O livro baseou o filme homônimo de Ridley Scott, uma superprodução estrelada por Matt Damon, Adam Driver, Jodie Comer e Ben Affleck, com estreia marcada para 14 de outubro.
Baseado em ampla pesquisa realizada na Normandia e em Paris, a partir de manuscritos e registros legais da época, "O último duelo" narra a lendária disputa entre o nobre normando Jean de Carrouges e o escudeiro Jacques Le Gris, seu velho amigo e companheiro de corte. O conflito começa quando a mulher de Carrouges, a jovem Marguerite, acusa Le Gris de estupro, pouco depois de seu marido voltar de uma série de batalhas na Escócia. Diante da grave denúncia, o tribunal decreta a realização de um julgamento por combate, o que coloca o destino de Marguerite igualmente à prova. Se seu marido perder o duelo, ela também será sentenciada à morte por falso testemunho.
Ao reconstituir a estrutura da sociedade feudal do século XIV e as trajetórias de dois homens dispostos a lutar até a morte para defender a própria honra, a obra de Eric Jager apresenta com riqueza de detalhes um dos eventos históricos mais marcantes da Europa medieval, além de evidenciar os costumes da época e as heranças sociais que nos acompanham até hoje. Com uma narrativa coesa, o autor, que é estudioso da literatura medieval, mergulha com propriedade em um drama humano comovente, a história real de um delito terrível que, séculos mais tarde, ainda ecoa com força.
Eric Jager é crítico literário especializado em literatura medieval. Tem um Ph.D. pela Universidade de Michigan e deu aulas na Universidade de Columbia. Professor premiado de inglês na UCLA, é autor de The Book oftheHeart, um estudo sobre a imagem do coração na literatura medieval.
Tradução: Rodrigo Peixoto
Páginas: 320
Editora: Intrínseca
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