Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em outubro de 2021
"Round 6", série da Netflix, estreia com o episódio "Batatinha frita 1, 2, 3". Logo, conhecemos a história de vida calamitosa de Seong. Homem que vive com a mãe, de quem, na cara-de-pau, desvia certo valor da conta bancária dela para apostar em corrida de cavalos, embora seja pai. Aliás, é essa a condição que o leva a tentar resgatar uma surpresa numa máquina de pegar brindes.
Separado, ele descobre que a ex-mulher com o atual marido irão embora do país e, claro, irã levar a filhinha dele junto. Sem dinheiro, sem filha, sem rumo, Seong é encurralado num banheiro público com direito a socos e tapas em nome da cobrança de uma dívida. Que situação, né?! Pois como sempre é possível piorar o que está ruim, a vida de Seong não foge nada dessa máxima.
Eis que no metrô, ele é abordado por um homem de terno que carrega uma maleta com dinheiro. Seduzido pela conversa, entra num jogo infantil. Caso ganhe, leva uma grana, do contrário ele pagará. Como não tem um tostão furado, o pagamento de Seong, ali, no metrô, ambiente público é o de dar a cara a tapa. Toma boas lapadas até que vence o jogo. Assim, a tentação o abocanha de vez: o homem lhe dá um cartão para entrar numa brincadeira que lhe renderá muito mais dinheiro.
É assim que refletimos sobre a que ponto nos submetemos no trabalho para sobreviver. Claro que muitos patrões não estapeam seus funcionários descaradamente. Somente o fazem diariamente usando de subterfúgios para manter "seus serviçais" aguardando dispostos a iniciar um escalda pés, por exemplo.
De olho em mais grana, Seong aceita fazer parte da atividade, sendo, então, raptado. Num galpão com camas empilhadas, tal qual um dormitório, ele percebe ser o último jogador a fazer parte do que está prestes a iniciar. Contudo, aos poucos novos personagens vão se destacando no grupo de pessoas selecionadas. Afinal, todos ali estão com dificuldades financeiras e miram o grande prêmio.
Eis que o jogo começa com a brincadeira inocente: "batatinha frita 1, 2, 3". A forma que os participantes são eliminados ganha proporções inesperadas, ou melhor, saem do jogo tendo a eliminação realizada ao pé da letra. Nova relação com a vida?! Sim! Quantos patrões eliminam seus trabalhadores a ponto de secá-los, deixando-os sem nada. Não é mesmo?!
"Round 6" não é somente uma seriado que usa a ficção para tratar temas tão importantes, além de destacar bastante a desigualdade social. A série coreana não retrata a desigualdade social de modo superficial, aprofunda e interliga a narrativa a ponto de destacar o que distancia um milionário de um miserável, que são falta de emprego, excesso de endividamento e a sedução à criminalidade dos marginalizados.
E fica uma dúvida: a série da Netflix bebe da fonte de sucessos cinematográficos como "Jogos Mortais" ou "Jogos Vorazes"?! Nem tanto, talvez, só um pouquinho. "Round 6" é profunda e provoca a refletir a respeito do que estamos fazendo com nossas vidas diante de humanos sem humanidade.
Primeiro episódio: 17 de setembro de 2021
* Mary Ellen é editora do site cultural www.resenhando.com, jornalista, professora e roteirista, além de criadora do photonovelas.blogspot.com. Twitter:@maryellenfsm
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