Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Mary sentia
muita fome, queria até correr para almoçar com a mãe, mas estava intrigada no
nível mais alto da curiosidade que um ser humano pode suportar. Enquanto que a mãe
não perdia a paciência e soltava um berro ecoante bem no corredor da casa, a
jovem Winsherburg tentou ligar os pontos soltos para entender como que a
blogueira descobriu o nome verdadeiro dela uma vez que tinha se identificado
como Celeste. Sem contar que tinha entrado em contato por mensagem no blog.
- Como ela descobriu o meu WhatsApp?,
perguntou Mary em pensamento.
Não tinha mais
como se demorar ou iria ver uma Ellen muito brava na porta do quarto também.
Devorando a
refeição como se não houvesse amanhã, Mary fingiu estar bem em relação ao tapa
que levou de Ellen, por dentro era consumida pela dupla loucura que acontecera
com ela minutos antes. O que era um tapa dado por reflexo perto de uma
blogueira saber o nome e o número de telefone dela?
Sorrindo para
disfarçar o vulcão em erupção interna, fez a refeição com Ellen como se nada
tivesse acontecido. As duas conversaram sobre amenidades e uma pauta que ganhou
força foi o seriado “The Big Leap”.
- Não, mãe!
Você não pode desligar a TV depois de assistir “9-1-1”. Desde o dia 20 de
setembro está rolando a nova série “The Big Leap” que é muito parecida com
“Glee” só que não é de canto, mas dança. Tem os desajustados, mas eles
requebram para participar do reality show que é o nome da série.
Ellen faz cara
de pensativa até que comenta desabafando:
- Fizeram
tantas série parecidas... Não sei se estou preparada para me apegar a outras
histórias com o segmento similar.
Antes que
soltasse mais uma nova desculpa Mary complementa.
- Mãe, sei que
a senhora é Ryan Murphete desde o ventre materno e mesmo quase sempre
reclamando dos finais decepcionantes das temporadas, mantém total fidelidade a
ele. Só acho que vai gostar. E muito. Basta só dar uma chance. Podemos assistir
juntas?!
Ellen tombou a
cabeça para o lado como quem tinha se dado por vencida na batalha até que
disse:
- Ok.
Combinado. Podemos ver na sala e faço pipoca!
* * *
Samantha e
Lolita trabalhavam concentradas na revisão do próximo roteiro para o canal
“Mentes em Fuga” quando ouviram alguém reclamando do tapetinho.
Sim! As duas
sabiam bem que era Apolo.
Samantha não
pensou duas vezes, correu para abrir a porta, mas com o cuidado de antes confirmar
se era mesmo o primo, focou no olho mágico e, para surpresa da gêmea, que já
estava assustada com as histórias de Lolita, não viu ninguém para entrar.
Aterrorizada, não sabia se contava para a irmã que o primo não estava lá ou se
tornava a olhar. Sam morria de medo de corredores de prédios, pois nunca tirou
a má impressão após assistir “Espíritos – A Morte Está ao Seu Lado”.
* * *
Mary não
queria envolver Tarissa nessa história da blogueira. Logo ela que era a mais best das best friends. Quanto mais o tempo ia virando passado e o Sol do
dia já não brilhava em reflexo no chão de seu quarto, ela não encontrava outra
opção. Precisava falar com Tarissa.
Por um
segundo, Mary imaginou Melinda como uma agente secreta, não sendo um membro das
“Três Espiãs Demais”, mas como uma autêntica James Bond Woman. Seria ela um personagem misterioso de “007: Sem
Tempo para Morrer”?
Ao bater a
cabeça de lado, na quina da cômoda para pegar o brinco de deixara cair, Mary
parou de divagar. Nem tempo de resmungar um “ai” de dor foi capaz. Tinha ido
longe demais. Pegou o celular e quando ia selecionar a foto da amiga para contar
tudo e ter uma ideia de como lidar com essa nova situação, recebeu uma ligação
pelo zap: era Melinda.
Atendeu com a
voz trêmula:
- Melinda?!
Do outro lado
da linha ela respondeu:
Oi! Sim! Você mandou uma mensagem para mim e
eu...
Mary teve a
única reação improvável: desligou o aparelho e o jogou na cama.
* * *
De costas para
a entrada, Samantha procurava uma forma melhor de dizer o que havia acontecido
quando foram dadas as típicas batidas na porta por Apollo. Não era algo no
estilo Sheldon Cooper, mas a exata marca do primo das Winsherburgs dizer que
estava ali e tinha esquecido as chaves.
Lolita levanta a cabeça para tentar entender
como que Samantha ainda não havia deixado ele entrar, mas tudo foi respondido
pelo próprio Apollo:
- Bom dia, minhas lindas!, entoou o
cumprimento numa grande alegria enquanto beijou a testa de Sam.
- Caraca! Já estava aqui quase batendo à
porta, quando ouvi o porteiro me chamando na escadaria. Tem correspondência e
não parece ser conta para pagar.
Apollo dá uma
risada e coloca o papel em cima da mesa, ao lado do computador. Atento, ele
percebe que Lola está revisando um roteiro e rapidamente puxa a cadeira para
pertinho dela.
Apollo disfarçava
muito bem, mas era apaixonado por Lola. Sempre foi. Parecia coisa de menino,
mas aquele sentimento nunca foi passageiro. Ellen e Eva, as mães dos primos
sempre diziam para ele, por ser mais velho e entendia, que não podia. E assim,
ele foi reprimindo o verdadeiro amor que sentia por Lola e tentava transformar em
carinho de irmão mais velho. Contudo, doía em Apollo ver Lola com namorados que
sequer a valorizavam. Como era o caso de Leo, com quem Lola estava ainda na
parte do flerte e mensagens carinhosas.
Sam volta com
uma bandeja de chá preparado com folhas de pitanga colhidas da árvore no
quintal de casa e quando, Lola menos espera, a irmã começa a falar sobre a
mulher atropelada que sumiu do hospital.
Lolita fica
brava a ponto de arquear severamente as sobrancelhas, pois por algum tempo
havia esquecido esse ocorrido.
- Não me venha lembrar dessa bizarrice, não!,
resmungou Lola.
Contudo, os
celulares dos três primos tocam simultaneamente com o seguinte lembrete: “NOVO
RECADO! Alguém deixou uma mensagem para você. Para resgatar, ligue *1001 ou
responda OK e receba seus recados por SMS! Apenas R$ 1,29/semana.”
Susto? Nada. A
surpresa maior ainda estava por vir via interfone quando o porteiro chamou e o
primo atendeu.
- Olá, Apollo!
Aqui é o Kaliel, da portaria. Tem uma senhora querendo subir. O nome dela é
Petra.
* * *
No quarto de
Mary um clarão toma conta do lugar e a silhueta de uma mulher ganha forma junto
de um forte estrondo. Ela cai e tenta fazer um mínimo aceno, grita por socorro,
mas ninguém a ouve. Nem mesmo Ellen que está na sala, ali, próximo.
I'm
waving through a window
I
try to speak, but nobody can hear
So
I wait around for an answer to appear
While
I'm watch, watch, watching people pass
I'm
waving through a window, oh
Can
anybody see, is anybody waving back at me?
Waving
through a window, trilha sonora do musical da Broadway “Dear Evan Hansen”
.: Perdeu algum capítulo? Confira todos aqui!
*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm
Assista em vídeo como história ilustrada
0 comments:
Postar um comentário
Deixe-nos uma mensagem.