quarta-feira, 15 de setembro de 2021

.: Natureza e memória na mostra de Luiza Gottschalk, ex-"A Fazenda"


A partir de 11 de setembro, obra da artista paulistana reencontra a paisagem natural da Serra da Mantiqueira em nova exposição na Orlando Lemos Galeria.

Até os nove anos de idade, Luiza Gottschalk viveu em uma fazenda no pico da Serra da Mantiqueira – as famosas "montanhas que choram" em tupi-guarani. A natureza montanhosa e exuberante da região, formada ainda por rios, cachoeiras, araucárias, trilhas e cores sem fim, inspiraram o percurso da artista paulistana. A partir do dia 11 de setembro, na Orlando Lemos Galeria de Arte, em Nova Lima (BH), será possível presenciar esse reencontro com a paisagem local na exposição "Matéria e Memória", com curadoria de Júlio Martins.

"Essa exposição é muito importante porque é a primeira vez que meu trabalho estará próximo de onde tudo começou, na serra de Minas Gerais. Minha pintura nasce desse contato intenso que tive com a natureza, acessa de maneira verdadeira essa atmosfera", conta Luiza, que atualmente participa de residência no ISCP (International Studio & Curatorial Program), em Nova York.

Ex-participante da terceira edição de "A Fazenda", a artista costuma dizer que seu primeiro contato com o que chamava de arte na infância foi justamente com os líquens (espécie de simbiose entre fungos e algas) que nasciam nos troncos das árvores. "Quando você tem o ar muito puro, como era o caso na fazenda, os líquens ficam muito coloridos e eu gostava de sair pela mata para encontrá-los", conta.

A água e as cores são os principais ativadores da profusão de sentidos encontrada nas telas de Luiza, que trabalha com pigmentos concentrados e, principalmente, muito líquidos. "A água percorre na tela um caminho próprio. Gosto de observar o percurso que ela faz e vejo por onde ela me guia. A cor é outro norteador, mas de ordem muito intuitiva, é como se uma pedisse a outra", explica ela, que costuma trabalhar com telas de grandes dimensões.

Luiza formou-se em artes cênicas no Célia Helena Centro de Artes e Educação, em São Paulo, e dedicou-se muitos anos a essa vertente artística, ainda presente no hibridismo de linguagens (principalmente pintura, dança e teatro) que norteiam sua pesquisa. Além de participar de diversas exposições coletivas entre 2013 e 2018, idealizou as individuais "Acidente" (2016), "Ensaio Aberto" (2019) e "Caminhos e Percursos das Águas" (2021), todas na capital paulista. Uma nova exposição, inédita, está marcada para fevereiro, em Brasília.

Mais sobre a artista
Luiza Gottschalk (São Paulo, 1984) vive em São Paulo e é graduada em Artes Cênicas pela Escola de Teatro Célia Helena (2001); graduada em Artes Plásticas pela FAAP (2014) e pós-graduada em Artes Visuais também pela FAAP (2018). Em seu trabalho se interessa pelo cruzamento de linguagens da arte, como pintura, dança e teatro, sempre utilizando o movimento corporal como gatilho. Participou de diversas exposições coletivas entre 2013 e 18, com destaque nos 46o, 47o Annual Art Awards (MAB Museu de Arte do Brasil, São Paulo, 2014 e 2015), conquistando o segundo e terceiro prêmios (todos com pinturas), e no 47o Salão das Artes de Piracicaba. 

Em 2016 realizou sua primeira individual, “Acidente”, no foyer do subsolo da Estação Satyros, importante teatro experimental de São Paulo, com curadoria de Lucas Pexão. Em 2019, sua segunda individual, “Ensaio Aberto”, contou com curadoria de Ana Paula Cohen na Praça das Artes, Teatro Municipal de São Paulo. Entre as exposições coletivas que participou se destacam: “Artists at Work” (ISCP-NY, Nova Iorque, 2020); “Unidos da Barra Funda” (Olhão, São Paulo, 2018); “Práticas Artísticas Contemporâneas: Formação Continuada” (MAB-FAAP, São Paulo, 2018); “Técnica Mista, Dimensões Variáveis” (Lab 52, São Paulo, 2015); “Em Oito Atos” (Agosto, São Paulo, 2015) e “Acervo” (Galeria Fita Tape, São Paulo, 2016). Participou das residências artísticas “Agora Collective” (Berlim, 2012); “Siena Art Institute” (Siena, 2016); “Atelier do centro” (São Paulo, 2017) e “ISCP-NY” (Nova Iorque, 2020 e 21). Luiza Gottschalk morou até os 9 anos de idade na mata da Serra da Mantiqueira e em suas pinturas traz a força e visceralidade da natureza das montanhas que choram (significado de “mantiqueira” em tupi-guarani).

Júlio Martins (Brasília, 1982) vive em Nova Lima, em Minas Gerais, e é curador, historiador da arte, professor e editor da nunc edições de artista (Belo Horizonte e São Paulo). De 2008 a 2011 foi curador geral do Museu Inimá de Paula (Belo Horizonte). Participou em 2009 do Programme Courants du Monde, Maison des Cultures du Monde (Paris) e integrou a curadoria do Rumos Artes Visuais 2011-13, Instituto Itaú Cultural (São Paulo). Em 2012 realizou a exposição “through the surface of the pages...”, no DRCLAS Harvard University (Cambridge). Foi curador residente do MAES (Vitória) de 2014 a 2020. Desde 2019 é curador do Edital Novos Artistas do Memorial Minas Gerais Vale (Belo Horizonte). Atualmente é professor de Estudos da Forma na Escola Guignard-UEMG (Belo Horizonte). Na Orlando Lemos Galeria curou as exposições coletivas “Anatomia Fantástica” (2019), “Geometrias Sensíveis” (2020) e “Ritos de Imanência” (2021), além de “Matéria e Memória”, exposição individual da pintora Luiza Gottschalk. 


Serviço
Exposição: "Matéria e Memória"
Até dia 2 de outubro.
Na Orlando Lemos Galeria de Arte (rua Melita, 95, Jardim Canadá, Nova Lima/MG). Tel: 31 3224-5634. Grátis. 


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