À beira do suicídio, autor enfrenta a doença com autoconhecimento e filosofia
“A viagem fora programada há seis meses e nela havia uma convicção: ou voltaria um novo homem, ou não voltaria ninguém". Em Conatus e as conotações do deserto que há em mim, da Editora Autografia, o escritor Eduardo Ramos conta de forma corajosa sua luta para vencer a depressão. A obra de estreia do brasiliense traz um momento crucial vivido no deserto do Atacama quando o autor esteve a um passo de cometer suicídio e foi salvo por uma desconhecida. O fato desencadeia uma busca desenfreada para encontrar a mulher misteriosa.
Com uma narrativa envolvente, que mistura autobiografia e ficção, Eduardo Ramos coloca o leitor no cenário árido e enigmático do deserto, ao mesmo tempo em que discute os males da construção social que, muitas vezes, colabora com estatísticas negativas impactantes. De acordo com o relatório Suicide worldwide, da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, 700 mil pessoas tiraram a própria vida. Uma em cada 100 mortes no mundo ocorre por suicídio. É uma das principais causas de morte entre jovens de 15 a 29 anos.
Porém, é da filosofia do holandês Baruch Spinoza que o autor traz o conceito de "conatus" que, entre outras interpretações, significa a força empregada por qualquer ser para preservar e aprimorar a própria existência. É por meio do conatus e da ideia do Deus de Spinoza, que é a própria natureza, que o autor reflete sobre a possibilidade do ser humano se adaptar e conviver melhor com os obstáculos da vida.
Compartilhando experiências pessoais, Eduardo Ramos desmistifica a depressão e mostra que por trás de uma rotina comum, podem estar indivíduos doentes. "A pessoa com depressão também sorri. A depressão não é só estar triste. É estar em sofrimento", afirma.
Entender isso, conforme ele, colabora com o combate ao preconceito que ainda gira em torno da doença, ajuda familiares enlutados a não se culparem, além de servir de alerta para que as pessoas olhem para o outro com mais atenção.
Alguém como eu e você: A obra é dividida em duas partes. A primeira é essencialmente autobiográfica. Conta a trajetória de vida dele. “A ideia no livro era mostrar que mesmo pessoas bem-sucedidas, como eu, podem desenvolver, através de uma sociedade doente, uma lógica distorcida da sua própria realidade”, descreve o autor. A segunda parte é ficcional: por meio de uma misteriosa mulher, ele tem contato com diversos pensadores da história humana e com as ciências, onde foi apresentado ao Deus de Spinoza.
O autor faz uma crítica contundente ao sistema de recompensas que rege a vida das pessoas, falando inclusive do uso exacerbado das redes sociais e de como isso, por exemplo, pode levar à ansiedade, depressão e, em último caso, ao suicídio. “Estava vendo um show do David Gilmour, porque eu gosto muito do Pink Floyd, e as pessoas da plateia estavam com as mãos levantadas e assistindo ao mesmo show pela telinha do celular. Você tem a chance de estar ali, assistindo àquela apresentação incrível, e você fica limitado à telinha do seu celular, porque você precisa registrar, mostrar que estava lá. Isso é tão doentio, porque você deixa de aproveitar o momento ao vivo, sendo que, quando você estiver em casa, poderá assistir ao show novamente com amigos, desta vez sem a aura presencial”, reclama.
Para ele, essa necessidade de aceitação faz parte, cada vez mais, da vida em sociedade. “Eu falo muito disso: para uma sociedade formatada em recompensas, tem sempre uma “cenoura” na frente da boca, sabe? Então a gente fica ali à espera de uma retribuição, mesmo sendo migalha, para que haja o sentimento de pertencimento e aceitação. Isso é o suficiente para que se renuncie a todo e qualquer senso crítico. Satisfaz o ego quando se ganha o like do dia, por exemplo, mas se ninguém o der, você fica péssimo, porque fica frustrado”, pondera.
Na parte final, o diálogo com a mulher misteriosa ajuda a racionalizar as coisas. Tanto que agora, o próprio autor consegue falar de maneira aberta sobre o seu sofrimento. “Ele é único, pessoal e intransferível. Então, por mais que você tenha empatia, você não vai conseguir sentir a dor que a pessoa está sentindo. Uma pessoa que tem depressão, não necessariamente está triste, ela está sofrendo”.
No caso de Eduardo, o próprio livro foi um pouco remédio. “Escrever pra mim é um ato terapêutico, porque escrever é mais ou menos você colocar pra fora tudo isso”. Em um mundo onde a depressão chama cada vez mais atenção, é importante notar como cada um consegue lidar com as suas dores. Você pode comprar "Conatus e as conotações do deserto que há em mim", de Eduardo Ramos, aqui:
Serviço
Livro: Conatus e as conotações do deserto que há em mim
Autor: Eduardo Ramos
Editora Autografia
182 páginas
Amazon: amzn.to/3tmwo36
Um livro que estimula o autoconhecimento, trazendo perguntas importantes. Com as respostas, a gente consegue orientar bem nosso caminho...
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