segunda-feira, 30 de agosto de 2021

.: Musical "Guerra de Papel" estreia dia 3 de setembro no Teatro Viradalata


Musical jovem, "Guerra de Papel" atualiza mito grego ao tratar de luto e vidas perdidas nas periferias. Estreia dia 3 de setembro no Teatro Viradalata Com interpretação brechtiniana  e música ao vivo,  grupo Tô em Outra Companhia de Teatro  discute a dura realidade enfrentada pelos  jovens negros da periferia.


Segunda peça da trilogia de pesquisa da Tô em Outra Cia. de Teatro sobre Teatro Grego e Periferia, "Guerra de Papel - Uma Tragédia Urbana Musical" é o novo espetáculo do grupo de repertório do Jaguaré, na zona oeste de São Paulo. Estreia dia 3 de setembro, sexta, às 21h, e cumpre temporada presencial no Teatro Viradalata até dia 26 do mesmo mês. Haverá, ainda, transmissões pela Sympla nos mesmos dias e horários. Sexta e sábado às 21h. Domingo às 19h.

Com duração de 60 minutos, em média, a encenação acontece ao vivo com atores e banda de quatro músicos (executando 12 músicas) no palco do Teatro Viradalata para uma plateia de 120 pessoas, 60 % da lotação do espaço. Duas câmeras e atores microfonados garantem as transmissões, realizadas também ao vivo para o público que optar por assistir online pelo Youtube e redes sociais da companhia. Será o mesmo espetáculo, presencial ou virtual.  

Se na primeira peça da trilogia ("Das Ruas, um Orfeu de Mochila"), o grupo adaptou o mito de "Orfeu e Eurídice" para os tempos atuais, celebrando o amor, em "Guerra de Papel" a Tô em Outra Cia. de Teatro - sempre na estética do teatro musical – transporta o mito de Antígona para a contemporaneidade e retrata o luto. A reflexão proposta agora passa pelo precário ensino público brasileiro e o genocídio dos negros, principalmente em escolas periféricas, consequência do combate entre polícia e traficantes.

Enquanto na mitologia grega, a figura de Antígona - filha do casamento incestuoso de Édipo e Jocasta – é aquela que tenta enterrar s eu irmão, na peça da companhia ela é a personagem central, a mulher negra na luta para descobrir quem tirou a vida de seu filho Aramiz, morto em consequência de uma bala perdida dentro da sala de aula.

Depois da tragédia com o filho, Antígona estampa o rosto do menino nos jornais, camisetas e em sua janela, gritando em sua comunidade, fazendo sua própria guerra. “Queremos falar sobre as mortes nas periferias, sempre invalidadas pela mídia e pela polícia, que nunca realiza uma investigação séria para encontrar o culpado. Tipo o que vemos com o caso Marielle Franco. Um caso famoso, de uma vereadora periférica, pessoa pública, até hoje sem conclusão”, comenta o diretor geral Jorge Alves.


Dramaturgia: concepção
Os mitos colaboram na compreensão das relações humanas e ajudam a ampliar nosso entendimento sobre o mundo e nós mesmos. Eternos, estão presentes na vida de cada ser humano, que é um pouco Deus e herói de sua própria história.

A mulher na obra é muito presente. A professora, a irmã e a mãe, três mulheres que tiveram seus pensamentos e sentimentos revirados por uma criança que teve sua vida interrompida. Também retratada na peça, Ismênia, irmã de Antígona, é a mulher que perdeu o sobrinho de forma brutal, uma pessoa que tenta amenizar o peso da saudade e a da insatisfação da vida, tanto dela quanto de sua irmã Antígona. Se sente impotente, não encontra força em seus braços para segurar a irmã e mesmo com esse sentimento, ela está o tempo todo pensando na sua família. Regida pelas lembranças do filho, Antígona sente cada vez mais raiva da justiça dos homens e espera encontrar paz na justiça divina. A professora abre a narrativa com uma conversa sincera com Deus, tentando buscar as respostas para os questionamentos que não encontra nos mortais. A morte do filho leva Antígona a repensar o futuro dos alunos e buscar outra forma, através do ensino, para tornar seus alunos seres pensantes e realizadores.

“Escolhemos contar esta história para mostrar uma realidade que, infelizmente, ainda é muito presente. A lei natural da vida é que os filhos enterrem seus pais, mas sabemos que o destino inverte de forma cruel os papéis”, comenta o ator Jorge Alves. “A peça é dura, assim como a vida da minoria-maioria da população”, pensa Jorge Alves.


Encenação
A Tô em Outra Cia. de Teatro se consolida pelo trabalho no âmbito de pesquisa em teatro grego e épico. Em Guerra de Papel, a proposta do grupo é pesquisar a interpretação dos atores a partir da técnica do dramaturgo e encenador alemão Bertold Brecht, Gestus, forma de interpretação do texto a partir do corpo. Este processo de interpretação pressupõe um método de construção de fora para dentro sem que os artistas se envolvam emocionalmente com as personagens.

Como no teatro épico, a proposta é o distanciamento do ator perante a personagem. Além, de inserir características de interpretação do teatro grego, como corpo e voz ampliados. Jorge destaca a presença do coro como essencial para a montagem, visto que Guerra de Papel, de acordo com ele, é uma manifestação. “E manifestação, para ter uma força maior, é feita pelo coletivo. Ele tem destaque na relação com o público, não raro quebrando a quarta parede.”


Cenário, figurino, luz e música
A ação se passa em uma escola, que pode ser uma casa ou espaço público. Os figurinos cumprem dupla função no espetáculo, com composições de peças cotidianas com uniforme escolar. Cada peça tem características únicas de cada personagem, assim, buscando transparecer a personalidade de cada UM e realçando texturas e cores para imprimir a ideia de individualidade dentro de um coletivo. A iluminação acompanha as movimentações dos atores no palco e em suas pontuais áreas de atuação. É composta, quase que em sua totalidade, por retas que remetem aos diversos caminhos e escolhas feitas pelos personagens durante a trama. Sem variações de cores, a luz cria espaços realistas e lúdicos.

Possui variações de movimentos, acompanhando o acelerado ritmo das cenas e dos personagens, o que dá à obra uma dinâmica ágil e juvenil, como o próprio texto. Ao vivo, quatro músicos estão em cena, com direção musical e arranjos de Paulo Henrique Costa. A criação musical tem inspiração em gêneros como samba e funk, ritmos presentes nas periferias. Os atores cantam suas angústias para o público.


Sobre o grupo
Desde sua criação, em 2012, a companhia realiza intervenções culturais e artísticas em periferias de São Paulo e desenvolver um núcleo de pesquisas e desenvolvimento de atores. Com sede no Jaguaré, foca seu trabalho na relação entre periferia e mitologia grega e direciona seus espetáculos sempre ao público jovem. Tem cinco peças no repertório, sendo três autorais (entre eles "Um Tempo para o Infinito", de Andreza Rodrigues e Thuane Campo), um de Hugo Possolo ("Cérebro à Vinagrete") e outro de Marcelo Romagnoli ("Filosofia da Revolução"). 

"Das Ruas, um Orfeu de Mochila" foi escrito em 2012 e apresentado por dois anos em periferias e no Interior do Estado com o apoio do projeto Vizinho Legal, ação social da Roche Brasil na comunidade do Jaguaré, e com o patrocínio do Programa Aprendiz Comgás (PAC), iniciativa da Comgás em parceria com a Associação Cidade Escola Aprendiz. Em 2018, o musical ganhou sete prêmios com voto popular nas categorias Melhor Ator e Atriz Coadjuvante, Melhor Ensamble, Melhor Coreografia, Melhor Cenário e Figurino e Melhor Texto Adaptado no III Prêmio MP de Teatro Musical Independente.


Sinopse
Contornado pelo mito de Antígona, a peça trata da tragédia que ocorre todos os dias nas periferias do Brasil, das balas encontradas em corpos e corpos perdidos. Guerra de Papel é a luta para se ter uma identidade. “Se nascemos, se temos nossas certidões, por que querem nos tirar e entregar uma certidão de óbito? Apagar nossos nomes, nossas histórias, é uma guerra para nos mantermos vivos”.


Ficha técnica
Espetáculo:
"Guerra de Papel" | Texto: Andreza Rodrigues e Thuane Campos | Letras: Andreza Rodrigues, Jorge Alves, Paulo Henrique, Leo Matheus, Thuane Campos | Músicas: Jorge Alves, Leo Matheus e Paulo Henrique Costa | Arranjos Musicais: Paulo Henrique Costa e Leo Matheus | Direção Geral: Jorge Alves | Direção musical: Paulo Henrique Costa | Músicos instrumentistas: Fabrício Spezia (piano e teclas), Julio Lino (baixo), Leo Matheus (violão e cavaquinho) e Tunuka (percussão e apoio vocal) | Direção de movimentos e coreografias: Gustavo Medeiros | Figurino: Gabriela Araújo | Cenário: Heron Medeiros | Assistente de direção: Andreza Rodrigues | Assistente de produção: Thuane Campos | Design de luz e op.: Fernando Ferreira | Design de som: Radar Sound | Assessoria de imprensa: Arte Plural – M. Fernanda Teixeira e Macida Joachim | Programação visual: Agência Artprint | Produção: Tô em Outra Produções Culturais | Realização: Tô em Outra Cia. de Teatro | Elenco: Mayara Tenório – Antígona. Thayna Rodrigues – Ismênia.  Claudine Palhàres – Professora. Cinthia Tomaz – Ensamble. Larissa Noel – Favela e Ensamble. Renan Marques – Ensamble. Uédia Alves – Ensamble. Vittor Oliver – Ensamble.


Serviço:
Espetáculo: 
"Guerra de Papel" | De 3 a 26 de setembro de 2021 | De sexta a domingo. Sexta e sábado às 21h. Domingo às 19h | Sessão extra: dia 24 de setembro | No dia 17 de setembro não haverá sessão. |  Nos dias 11 e 18 de setembro haverá sessão acessível em Libras | Sessões presenciais e virtuais | O espetáculo é recomendado para maiores de 12 anos | Duração: 60 minutos | Capacidade (com protocolo de distanciamento): 120 pessoas | Teatro Viradalata: rua Apinajés, 1387 - Sumaré, São Paulo (Metrô Vila Madalena) | Ingresso presencial: inteira - R$ 30; Meia-Entrada - R$ 15 | Ingresso virtual: R$ 200 (valor único). Ingressos: https://bileto.sympla.com.br/event/68468.


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