"O Caso dos Irmãos Naves" ganha montagem teatral do Ínteros Coletivo de Atores. Na cidade de Araguari (Minas Gerais) de 1937, dois irmãos - Joaquim e Sebastião Naves - são acusados da suposta morte do primo Benedito. Condenados, sem provas, a 25 anos de prisão, sofrem uma série de abusos e torturas. O caso dos irmãos Naves entrou para história como um dos maiores erros do judiciário brasileiro. A montagem teatral reflete sobre os recorrentes casos de injustiça e autoritarismo na sociedade. Temporada é online e gratuita. Foto: Lucas Benoit
A partir desse caso, considerado um dos maiores erros do judiciário brasileiro, o Ínteros Coletivo de Atores traça um paralelo entre a aplicação incorreta da justiça e os seus reflexos na vida de parentes e pessoas ligadas à família, no espetáculo "Os Naves". A peça estreia em temporada on-line, de 20 a 29 de agosto, com transmissão gratuita, de sexta a domingo, pelo YouTube/interoscoletivo. O processo, conhecido como "O Caso dos Irmãos Naves", foi adaptado para o cinema por Jean-Claude Bernardet e Luís Sérgio Person em 1967, com Raul Cortez interpretando Sebastião Naves; Juca de Oliveira vivendo o irmão Joaquim; e John Herbert na pele do advogado de defesa.
As falhas no sistema judiciário e os inúmeros casos de inocentes que são presos sem julgamento ou com base em provas inconsistentes alimentam uma máquina de prisões injustas. Partindo de um caso real acontecido na cidade mineira de Araguari, em 1937, o Ínteros Coletivo de Atores recupera a história dedois irmãos que foram acusados da suposta morte do primo, no espetáculo "Os Naves", que estreia em temporada online, de 20 a 29 de agosto, com transmissão gratuita, de sexta a domingo, com sessões às 19h e às 21h, pelo YouTube/interoscoletivo.
O espetáculo é baseado no processo de condenação de Joaquim e Sebastião Naves, considerado um dos maiores erros do judiciário brasileiro. O grupo pretende traçar um paralelo entre a aplicação incorreta histórica e atual da justiça brasileira, retratando a violência sofrida pelos irmãos e os seus reflexos na vida de parentes e pessoas ligadas à família ou que viviam na mesma cidade. A Justiça, de fato, é justa? Para quem?
“Trazer para cena esse tipo de temática na nossa sociedade onde vemos de forma recorrente casos de injustiça e autoritarismo é algo muito importante para possibilidade de reflexão. O teatro é uma plataforma que pode inspirar mudanças e trazer um campo fértil de olhar para nossa própria história e assim poder transformá-la”, conta o ator e produtor Chrystian Roque. A montagem parte do crime supostamente cometido pelos irmãos traçando uma narrativa ficcional que envolve uma pequena cidade onde pouco a pouco as personagens vão sendo apresentadas enquanto esperam e comentam o resultado do julgamento.
“Vivemos um tempo de constante julgamento público que muitas vezes é feito e conduzido de forma extremamente superficial onde tudo é levado a uma ‘espetacularização’ da violência e da impunidade. Esse trabalho tem por objetivo explicitar como esse tipo de dinâmica acaba apenas por alimentar o autoritarismo, ignorância e a injustiça”, ressalta Chrystian Roque.
Adaptação da montagem
O Ínteros Coletivo foi formado a partir de uma oficina em um projeto apoiado pela Lei de Fomento ao Teatro da Cidade de São Paulo, em 2018. A história do Caso dos Irmãos Naves chegou até os artistas, que quiseram dar continuidade ao coletivo mesmo após o fim do período da oficina. A intenção da trupe era apresentar a peça em praças e locais públicos da cidade, mas com a pandemia da Covid-19, foi necessária uma adaptação para o formato audiovisual, abrindo possibilidades para experimentações e abordagens diferentes da história.
Como meio de testar essa nova forma de fazer teatral, o grupo lançou em suas redes sociais a ação #EMCASA, para apresentar algumas cenas ao público, gravadas apenas com o uso de celulares e com os recursos cênicos disponíveis em suas próprias casas. A boa receptividade encorajou os artistas para uma adaptação do projeto para o audiovisual.
“Na ambientação para o formato digital escolhemos a Casa Urânia, em São Paulo, como cenário para as gravações. Nela pudemos explorar não só o salão principal, mas também as áreas externas, quintal, escadas, sacada, jardim, até mesmo a cozinha, trazendo um realismo para a cena”, fala Chrystian Roque. O figurino é elaborado com peças recicladas pelos atores, customização e o reaproveitamento de materiais. A proposta, a princípio, surgiu por necessidade e hoje se apresenta como um traço estético do trabalho do grupo, além de tratar de um conceito com viés sustentável.
Os irmãos Naves
Em 1937, na cidade de Araguari, interior de Minas Gerais, um jovem comerciante, Benedito Pereira Caetano, desaparece misteriosamente. As suspeitas recaem sobre os primos e sócios de Benedito, os irmãos Joaquim e Sebastião Naves. A polícia local investigou o provável crime, mas não conseguiu pistas sobre o paradeiro do desaparecido.
Um tenente da Força Pública do governo – então o Estado Novo de Getúlio Vargas - é designado para investigar o caso e prende os irmãos mesmo sem provas. Sob tortura e abusos eles acabam confessando o crime e são condenados a 25 anos de prisão. Porém, em 1952 Benedito aparece vivo. Só então, 12 anos após as acusações, é, enfim, reconhecida a inocência dos irmãos.
O processo, conhecido a partir daí como "O Caso dos Irmãos Naves", transforma-se em filme e livro. O livro foi escrito pelo advogado dos rapazes, João Alamy Filho, e traz as principais peças dos autos. O filme (1967), baseado na obra de Alamy Filho e adaptado para o cinema por Jean-Claude Bernardet e Luís Sérgio Person, traz Raul Cortez interpretando Sebastião; Juca de Oliveira vivendo o irmão Joaquim; e John Herbert na pele do advogado João Alamy Filho.
Ficha técnica:
Espetáculo "Os Naves"
Direção Artística: Ínteros Coletivo de Atores | Elenco: Aline Loureiro, Ana Paula Desenzi, Ariadne Lima, Barbara Rodrigues, Chrystian Roque, Guigo Ribeiro, Guto Mendonça, Meyre Nascimento, Nicole D’Fiori, Rafael Caldas, Rodrigo Cristalino, Rômulo Martins e Stefania Robustelli | Direção de fotografia, cinematografia, edição e cor: Lucas Benoit | Composição musical: Chrystian Roque, Guigo Ribeiro, Meyre Nascimento e Rodrigo Cristalino | Desenho de som: Lucas Benoit | Direção de arte: Barbara Rodrigues | Cenografia: Chrystian Roque e Lucas Benoit | Locação de filmagem: Casa Urânia | Fotos e logo: Lucas Benoit | Designer gráfico: Wanny Freitas | Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli. Produção geral: Barbara Rodrigues e Chrystian Roque. Produção executiva: Morgana Sales | Realização: Ínteros Coletivo de Atores.
Serviço:
Espetáculo "Os Naves"
De 20 a 29 de agosto - Sexta-feira a domingo, às 19h e às 21h | Duração: 60 minutos | Ingressos: grátis | Classificação etária: 14 anos | Transmissão: YouTube/interoscoletivo.
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