domingo, 11 de julho de 2021

.: "Entrevista": jornalista Cristina Serra revela segredos de grandes escritores


Novo livro da escritora traz entrevistas com grandes nomes da literatura brasileira.


Cristina Serra lançou o livro "Entrevista" (Kotter Editorial). São 12 entrevistas com romancistas e poetas brasileiros, feitas nos anos 1980, quando trabalhou para o periódico Leia, especializado em literatura e mercado editorial. É um reencontro da experiente jornalista - que passou pelas redações de veículos de comunicação como os jornais Resistência, Tribuna da Imprensa, Leia, Jornal do Brasil, da revista Veja e da Rede Globo - com a repórter de 22 anos em início de carreira.

Na TV, foi repórter de política em Brasília, correspondente em Nova York e comentarista do quadro “Meninas do Jô”, no Programa do Jô. Em 2015, foi escalada para a cobertura do desastre em Mariana, pelo Fantástico. Como escritora, lançou os livros ““Tragédia em Mariana – A História do Maior Desastre Ambiental do Brasil” e “ A Mata Atlântica e o Mico-leão-dourado: uma história de conservação”. Atualmente é colunista do jornal Folha de S.Paulo.

No livro "Entrevista", ela faz uma introdução a cada um das conversas, reconstitui como as conseguiu, como foi a receptividade dos autores com a jovem repórter em começo de carreira, as impressões que absorveu em cada encontro e que ficaram registradas em anotações guardadas até hoje no arquivo da jornalista.

As edições originais foram resgatadas no acervo da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM-USP), parceira do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP), que guarda a coleção completa do LEIA. Carlos Drummond de AndradeFerreira GullarJoão Cabral de Melo NetoMário Quintana e Jorge Amado são alguns dos brasileiros entrevistados, além da chilena Isabel Allende.

Cristina conseguiu retirar declarações contundentes dos entrevistados a respeito de processos criativos,  método de trabalho sobre a literatura e o Brasil. Carlos Drummond sobre a poesia: "São meus problemas, meus dramas, os meus sequestros, os meus complexos, a minha dificuldade de adaptação à vida, todo esse sofrimento”Mário Quintana afirma que “poesia não deixa de ser uma forma de falar sozinho”Gullar diz que “poesia só tem um sentido: mudar as coisas”Jorge Amado conta que escrevia todos os dias até às 10h da manhã porque depois desse horário começava a “emburrecer”.

Como surgiu a ideia de lançar um livro de entrevistas?
Cristina Serra - Esse livro era uma ideia antiga que, finalmente, consegui realizar. As entrevistas foram feitas na década de 1980, quando eu era repórter do jornal mensal Leia, especializado em literatura e mercado editorial. Na época, entrevistei alguns dos mais importantes autores brasileiros. Foram entrevistas longas, abordando o processo criativo deles, como construíam suas obras, como surgiam as ideias para um romance ou um poema. Sempre achei que eram testemunhos importantes e que mereciam estar num livro. Guardei essa ideia por muito tempo até que, na pandemia, tive tempo para revisar as entrevistas e escrever uma introdução para cada uma delas, contando como foi que aconteceram. Selecionei 12 entrevistas que tem uma característica comum: são muito reveladoras da obra e do método de trabalho desses autores. 


Qual das entrevistas você tem mais prazer em fazer, por quê?
Cristina Serra - Todas foram muito importantes, são de autores que eu já admirava muito. Cada um tem uma personalidade e uma obra única. Mas eu diria que as entrevistas com os poetas são muito especiais. Para mim, a criação e a escrita poética são um mistério. Ouvir - e agora reler - Drummond. Cabral, Gullar e Quintana falando desse mistério é algo que me emociona sempre. 


E qual das entrevistas mais a surpreendeu positivamente?
Cristina Serra - Como eu disse, para mim todas são importantes porque revelam a obra de autores fundamentais da nossa literatura. Mas eu destacaria três entrevistas que são bastante reveladoras: Drummond, Cabral e a chilena Isabel Allende, aliás a única estrangeira dessa seleção. Acho que tive muita sorte de ter bastante tempo com eles, são entrevistas longas, em que eles refletiram de maneira muito profunda sobre sua obra e método de trabalho. Foram muito pacientes e generosos para responder todas as minhas perguntas com tanta profundidade. 


Revisirando os textos, tem alguma questão que gostaria de ter feito aos autores e não fez? 
Cristina Serra - Eu gosto das entrevistas do jeito que elas são. Mas a obra desses autores é tão vasta, linda e complexa que se eu tivesse tido a oportunidade de fazer outras entrevistas com eles, cada entrevista seria diferente tal a riqueza da criação literária deles.


Se pudesse recomendar apenas uma das entrevistas, qual seria e por quê?
Cristina Serra - Impossível. Recomendo que leio todas. Cada entrevista é um universo criativo, literário e intelectual único e incomparável.


Nos textos publicados no livro, há entrevistas de mais de 30 anos. Qual a principal diferença entre a reporter que fez os textos na época e a escritora que os publicou agora?
Cristina Serra - Refleti muito sobre isso ao revisar as entrevistas. Esse livro é um reencontro com a repórter de 22 anos em começo de carreira. Como eu disse, eu gosto muito das entrevistas e, sinceramente, acho que mostram uma maturidade precoce daquela jovem repórter. Mas acho também que se fosse entrevistá-los hoje acrescentaria outras perguntas porque, certamente, a minha maturidade me dá um entendimento e uma percepção ainda maior da obra desses autores absolutamente fundamentais da cultura brasileira.


Há outras entrevistas que ficaram guardadas, à espera de uma publicação? Se a resposta for positiva, quais são?
Cristina Serra - Há outras entrevistas que não entraram nesta seleção, mas não pretendo publicar porque não são tão amplas como as que estão no livro. Foram entrevistas mais pontuais sobre o lançamento de um livro específico ou alguma outra questão. Então, não têm a mesma profundidade das que estão no livro.


Qual artista você realizou o sonho de entrevistar e por quê?
Cristina Serra - Entrevistei vários, não só para o Leia, mas depois, ao longo da minha carreira. Todos os que estão no livro eu sonhava em entrevistar. Além dos que eu já mencionei, destaco o Tom Jobim. Ele entrou no livro porque fiz uma matéria com ele para o Leia especificamente sobre os livros que o influenciaram. É um perfil do Tom por meio da literatura. Conto como foi essa conversa, ele me mostrando os livros nas prateleiras do estúdio dele, numa sala envidraçada, com vista para o Cristo Redentor, onde ficava o piano dele. Sou apaixonada pela obra do Tom e esse encontro foi um momento mágico. 


Qual o artista que você gostaria de entrevistar, mas nunca conseguiu? Por quê?
Cristina Serra - Eu não entrevistei vários escritores que gostaria de ter entrevistado. Sou apaixonada pela obra do gaúcho  Érico Veríssimo. Li muitos livros dele na adolescência e é uma obra absolutamente essencial para entender o Brasil. Mas quando entrei na profissão ele já havia morrido. Então, eu sabia que esse sonho jamais seria realizado. Outro que eu adoraria ter entrevistado é o Vinícius de Moraes, mas também pelo mesmo motivo do Érico não foi possível. 


Qual é a técnica que você usa para tirar as melhores respostas dos entrevistados?
Cristina Serra - Bom, eu estudo muito qualquer assunto sobre o qual vou trabalhar numa pauta. Eu já tinha lido muita coisa desses autores desde a escola. O Drummond, por exemplo, eu já sabia poemas dele de cor. Também lia crônicas dele para o Jornal do Brasil. Outro mineiro, Fernando Sabino, eu também já conhecia muita coisa. Sou encantada com livros dele, como "O Grande Mentecapto" e "Encontro Marcado”. Jorge Amado, Antônio Callado, Ferreira Gullar e João Cabral, todos esses eu já tinha muito. “Kuarup”, do Callado é um livro que teve um impacto profundo quando eu li, aos 17 ou 18 anos. Aqueles que eu não conhecia tão bem, quando eu marcava a entrevista, eu corria pra ler mais alguma cosia pra que pudesse fazer uma boa entrevista. Geralmente, dava tempo de me preparar. Foi um período da minha vida em que eu li muito, o que eu considero uma sorte muito grande. Ter um trabalho que me pagava para ler e entrevistar escritores, realmente, foi um privilégio enorme.


Você tem alguma dica para repórteres fazer as melhores entrevistas?
Cristina Serra - Tentar se preparar com antecedência, pesquisar e ler o máximo possível sobre o assunto ou sobre a pessoa que você vai entrevistar.  Como eu disse sobre o livro, eu já conhecia bastante coisa desses autores, mas eu me aprofundei ainda mais. Acho que os entrevistados perceberam que estavam conversando com alguém que conhecia e apreciava boa parte da obra deles. Não quero me gabar, mas acho que isso fez diferença. 


Serviço:
Livro: "Entrevista"
Páginas: 168
Link na Amazon: https://amzn.to/3sxSqOr



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