terça-feira, 27 de julho de 2021

.: Capítulo 4: "As Winsherburgs" em "Um Passo Mais Perto"

Por: Mary Ellen Farias dos Santos


Enquanto esperavam Ellen para uma carona, Mary e a amiga analisavam a pedra, com carinho e adoração, igualzinho ao Gollum.

- Amiga, onde exatamente você pegou isso?, perguntou Tarissa.

- Ah, Tatá! Estava no lixo da Agência das minhas irmãs. Eu até perguntei se era de alguém, mas a Lolita riu e disse que era só um pedaço de plástico brilhante. Mas... Como plástico iria brilhar assim, né?! Claro que eu guardei na minha bolsa!

Foi quando Tarissa brincou:

- Bom... Só não vai começar a repetir “My Precious”!!

*  *  *

- Mary, venha aqui!, grita Ellen chamando a filha que voltou da escola com a amiga.

Com a mesma agilidade de uma lesma abandonada numa renovadora preguiça. Sem qualquer pressa, em movimentos arrastados, Mary chegou pertinho da mãe e antes que soltasse um resmungo indefinido, Ellen disse:

- Menina, olha isso! Fui seguindo o carreiro e pá! Encontrei um formigueiro que estava se criando dentro desse DVD da Mariah Carey! Em busca de aventuras, talvez.

Ao juntar a informação devastadora e ver o estado do papelão, Mary foi capaz de promover uma resposta física e vocal muito rápida, mas sem a ideia da possível resposta que viria da mãe.

- Meu Deus! O que a senhora fez no meu DVD?!, reclamou Mary pousando as mãos nas laterais do rosto, numa imitação involuntária do célebre quadro “O Grito”, de Edvard Munch.

Ellen, como toda mãe dramática de plantão, respirou fundo e devolveu:

- Eu? Não fiz nada nas suas coisas. Sabe o que é isso que você faz? É por não me amar. Sou sua mãe. E você só sabe me agredir com respostinhas grosseiras. Está pensando que é quem? Vive debaixo do meu teto! Come da minha comida! Da próxima vez eu jogo é tudo fora. Não duvide! Estou farta da sua ingratidão!

Para fechar a cena com chave de ouro, Ellen saiu andando bem cabisbaixa e até simulando um choro, enquanto que Mary ficou parada, no quarto, sem entender toda aquela reação da mãe. Um tanto exagerada mesmo, por sinal.

Sem o intuito de piorar o clima em casa, Mary pensou no quão estressante havia sido aquela manhã após sete aulas seguidas dadas no Colégio Santa Helena. Fora que naquele dia ela tinha aula dupla com o último ano do Ensino Médio, a classe do Adilsinho, menino irritante que fazia perguntas aleatórias para tumultuar as aulas e desestabilizar os professores. E, geralmente, ele conseguia.

Sem saber bem como confortar a mãe, Mary preferiu deixa-la um pouco sozinha e chamou Tarissa para ver as formigas que ainda estavam seguindo o trajeto: tomada e encarte do DVD de “The Adventures of Mimi”.

De repente, a imagem do DVD foi apagada para Mary. Ela só lembrava do rosto do homem que a abordou na saída da escola, enquanto Tarissa foi ao banheiro. Na verdade, a conversa rápida, com o homem misterioso, foi marcante, a ponto de precisar contar sobre o ocorrido.

- Amiga, um cara lindo veio falar comigo e até me xavecou.

- Quando isso?, retrucou Tarissa muito animada. E completou:

- Conte-me mais sobre isso... Aliás, conte-me tudo!

*  *  *

Na agência de roteiros, o clima era de alegria, pois Apollo havia iluminado o final do túnel de Samantha e Lolita. O trio já tinha a data de um encontro com o roteirista e empresário Helder Lee para estabelecerem os critérios da futura sociedade.

Enquanto Sam, com um fone de ouvido ao som das canções dos “Backstreet Boys”, em volume baixinho, escrevia o roteiro para um vídeo encomendado pelo canal “Histórias do Passado”, Lolla e Apollo pesquisavam sobre a morte da socialite Ângela Diniz, o próximo roteiro a ser escrito por eles.

- Esse documentário tem tudo para ficar redondinho. História terrível, mas cheia de conteúdo. Parece que ela foi inspiração do escritor e jornalista Roberto Drummond, para Hilda Furacão. Roberto Drummond cria toda uma narrativa para brincar de 1º de abril!, comentou Lolla.

- Lembro de ver o kit de imprensa do seriado Hilda Furacão na casa de vocês. Fica até ao lado dos livros e DVDs de “O Senhor dos Anéis” e “Harry Potter”, né?!, falou Apollo.

- Sim! Mas saiba que os livros de Roberto Drummond e os DVDs do seriado Hilda, meu primo, são de mamãe. Então, se precisarmos, para mexer só com autorização escrita e assinada por Dona Ellen. Já deixo você avisado, avisadíssimo.

Os dois sorriem da brincadeira, mas focam no trabalho. Após alguns minutos de silêncio... O aparelho de som fez o barulho estridente mais uma vez.

- Encontrei um podcast sobre a Ângela, prima!

- Legal, Apollo! Pode ouvir?

- Sim! É pra já! Siga na pesquisa. Depois ouvimos todos juntos, nós três. O que acha?, questionou Apollo.

- Tá certo!, falou Lolla enquanto ergueu o polegar com um joinha.

*  *  *

Após dar fim ao ninho de formigas que estava em fase de emancipação na capa do DVD, Mary e Tarissa finalmente relaxaram. Tarissa, direta como sempre foi logo perguntando:

- Qual era o nome do xavecador?

Foi quando Mary esboçou um sorriso nos lábios e um brilho brotou nos olhos da jovem Winsherburg que falou de modo meloso:

- Ah! Ele nem disse, mas aviso que estou apaixonada. Acho que encontrei o amor da minha vida, Tatá! Ele foi tão gentil, tinha uma voz de arrepiar e estava tão, tão perfumado. Fora que parecia ator de filme de Hollywood de agora. Talvez um misto de Robert Downey Jr. e Christopher Hemsworth.

- Mas você percebeu tudo isso enquanto eu fui rapidinho ao banheiro da escola... Como ele se aproximou?, perguntou Tarrisa.

- Foi dentro da escola. Bem onde nós sempre ficamos sentadas esperando a minha mãe, respondeu Mary. Enquanto isso, Tarissa não conseguia entender tudo o que aconteceu em um intervalo tão curto de tempo. Foi quando ela, assombrada, perguntou:

- Você foi iludida pelo pai de alguém?

Mary gargalhou e rebateu rapidamente:

- Tarissa, Tarissa... Ele não é um velho! Pode ser no máximo o tio de alguém, mas aposto que é irmão de um algum aluno. E como eu estava dizendo... O meu gato falou comigo só para confirmar. Já sabia quem eu era, inclusive. Depois sumiu.

- Hein?! Como é que alguém some, amiga?, quis saber Tarissa, enquanto no grupo das meninas no WhatsApp, Juliette compartilhou o novo vídeo do TikTok e fez os aparelhos das amigas sacudirem.

Após um silêncio devastador, sem ter uma resposta plausível, Mary suspirou e determinou:

- Era um anjo!


One step closer

I have died every day waiting for you

Darling, don't be afraid

I have loved you for a thousand years

I'll love you for a thousand more

A Thousand Years. Christina Perri


*~~~~ Capítulo 5: "As Winsherburgs" em "Elétrico" ~~~~*


*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm


Assista em vídeo como história ilustrada




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