Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Enquanto
esperavam Ellen para uma carona, Mary e a amiga analisavam a pedra, com carinho
e adoração, igualzinho ao Gollum.
- Amiga, onde
exatamente você pegou isso?, perguntou Tarissa.
- Ah, Tatá!
Estava no lixo da Agência das minhas irmãs. Eu até perguntei se era de alguém,
mas a Lolita riu e disse que era só um pedaço de plástico brilhante. Mas... Como
plástico iria brilhar assim, né?! Claro que eu guardei na minha bolsa!
Foi quando
Tarissa brincou:
- Bom... Só
não vai começar a repetir “My Precious”!!
* * *
- Mary, venha
aqui!, grita Ellen chamando a filha que voltou da escola com a amiga.
Com a mesma
agilidade de uma lesma abandonada numa renovadora preguiça. Sem qualquer pressa,
em movimentos arrastados, Mary chegou pertinho da mãe e antes que soltasse um
resmungo indefinido, Ellen disse:
- Menina, olha
isso! Fui seguindo o carreiro e pá! Encontrei um formigueiro que estava se
criando dentro desse DVD da Mariah Carey! Em busca de aventuras, talvez.
Ao juntar a
informação devastadora e ver o estado do papelão, Mary foi capaz de promover
uma resposta física e vocal muito rápida, mas sem a ideia da possível resposta que
viria da mãe.
- Meu Deus! O
que a senhora fez no meu DVD?!, reclamou Mary pousando as mãos nas laterais do
rosto, numa imitação involuntária do célebre quadro “O Grito”, de Edvard Munch.
Ellen, como
toda mãe dramática de plantão, respirou fundo e devolveu:
- Eu? Não fiz
nada nas suas coisas. Sabe o que é isso que você faz? É por não me amar. Sou
sua mãe. E você só sabe me agredir com respostinhas grosseiras. Está pensando
que é quem? Vive debaixo do meu teto! Come da minha comida! Da próxima vez eu
jogo é tudo fora. Não duvide! Estou farta da sua ingratidão!
Para fechar a
cena com chave de ouro, Ellen saiu andando bem cabisbaixa e até simulando um
choro, enquanto que Mary ficou parada, no quarto, sem entender toda aquela
reação da mãe. Um tanto exagerada mesmo, por sinal.
Sem o intuito
de piorar o clima em casa, Mary pensou no quão estressante havia sido aquela
manhã após sete aulas seguidas dadas no Colégio Santa Helena. Fora que naquele
dia ela tinha aula dupla com o último ano do Ensino Médio, a classe do
Adilsinho, menino irritante que fazia perguntas aleatórias para tumultuar as
aulas e desestabilizar os professores. E, geralmente, ele conseguia.
Sem saber bem
como confortar a mãe, Mary preferiu deixa-la um pouco sozinha e chamou Tarissa
para ver as formigas que ainda estavam seguindo o trajeto: tomada e encarte do
DVD de “The Adventures of Mimi”.
De repente, a
imagem do DVD foi apagada para Mary. Ela só lembrava do rosto do homem que a abordou
na saída da escola, enquanto Tarissa foi ao banheiro. Na verdade, a conversa
rápida, com o homem misterioso, foi marcante, a ponto de precisar contar sobre
o ocorrido.
- Amiga, um
cara lindo veio falar comigo e até me xavecou.
- Quando isso?,
retrucou Tarissa muito animada. E completou:
- Conte-me
mais sobre isso... Aliás, conte-me tudo!
* * *
Na agência de
roteiros, o clima era de alegria, pois Apollo havia iluminado o final do túnel
de Samantha e Lolita. O trio já tinha a data de um encontro com o roteirista e
empresário Helder Lee para estabelecerem os critérios da futura sociedade.
Enquanto Sam,
com um fone de ouvido ao som das canções dos “Backstreet Boys”, em volume
baixinho, escrevia o roteiro para um vídeo encomendado pelo canal “Histórias do
Passado”, Lolla e Apollo pesquisavam sobre a morte da socialite Ângela Diniz, o
próximo roteiro a ser escrito por eles.
- Esse
documentário tem tudo para ficar redondinho. História terrível, mas cheia de
conteúdo. Parece que ela foi inspiração do escritor e jornalista Roberto
Drummond, para Hilda Furacão. Roberto Drummond cria toda uma narrativa para brincar
de 1º de abril!, comentou Lolla.
- Lembro de
ver o kit de imprensa do seriado Hilda Furacão na casa de vocês. Fica até ao
lado dos livros e DVDs de “O Senhor dos Anéis” e “Harry Potter”, né?!, falou
Apollo.
- Sim! Mas
saiba que os livros de Roberto Drummond e os DVDs do seriado Hilda, meu primo,
são de mamãe. Então, se precisarmos, para mexer só com autorização escrita e
assinada por Dona Ellen. Já deixo você avisado, avisadíssimo.
Os dois
sorriem da brincadeira, mas focam no trabalho. Após alguns minutos de
silêncio... O aparelho de som fez o barulho estridente mais uma vez.
- Encontrei um
podcast sobre a Ângela, prima!
- Legal,
Apollo! Pode ouvir?
- Sim! É pra
já! Siga na pesquisa. Depois ouvimos todos juntos, nós três. O que acha?,
questionou Apollo.
- Tá certo!,
falou Lolla enquanto ergueu o polegar com um joinha.
* * *
Após dar fim ao
ninho de formigas que estava em fase de emancipação na capa do DVD, Mary e
Tarissa finalmente relaxaram. Tarissa, direta como sempre foi logo perguntando:
- Qual era o
nome do xavecador?
Foi quando
Mary esboçou um sorriso nos lábios e um brilho brotou nos olhos da jovem
Winsherburg que falou de modo meloso:
- Ah! Ele nem
disse, mas aviso que estou apaixonada. Acho que encontrei o amor da minha vida,
Tatá! Ele foi tão gentil, tinha uma voz de arrepiar e estava tão, tão
perfumado. Fora que parecia ator de filme de Hollywood de agora. Talvez um
misto de Robert Downey Jr. e Christopher Hemsworth.
- Mas você
percebeu tudo isso enquanto eu fui rapidinho ao banheiro da escola... Como ele
se aproximou?, perguntou Tarrisa.
- Foi dentro
da escola. Bem onde nós sempre ficamos sentadas esperando a minha mãe,
respondeu Mary. Enquanto isso, Tarissa não conseguia entender tudo o que aconteceu
em um intervalo tão curto de tempo. Foi quando ela, assombrada, perguntou:
- Você foi
iludida pelo pai de alguém?
Mary gargalhou
e rebateu rapidamente:
- Tarissa,
Tarissa... Ele não é um velho! Pode ser no máximo o tio de alguém, mas aposto
que é irmão de um algum aluno. E como eu estava dizendo... O meu gato falou
comigo só para confirmar. Já sabia quem eu era, inclusive. Depois sumiu.
- Hein?! Como
é que alguém some, amiga?, quis saber Tarissa, enquanto no grupo das meninas no
WhatsApp, Juliette compartilhou o novo vídeo do TikTok e fez os aparelhos das
amigas sacudirem.
Após um
silêncio devastador, sem ter uma resposta plausível, Mary suspirou e
determinou:
- Era um anjo!
I have died every day waiting for you
I have loved you for a thousand years
I'll love you for a thousand more
A Thousand Years. Christina Perri
*~~~~ Capítulo 5: "As Winsherburgs" em "Elétrico" ~~~~*
*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm
Assista em vídeo como história ilustrada
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