A personagem Dona chega à Amazônia pronta para transformar uma parte da floresta em pasto. Ao ser picada por uma cobra, ela (re)conhece o mundo espiritual localizado no interior da árvore Samaúma e seu olhar para o povo das florestas muda.
Samaúma - A Árvore Mãe com Milene Perez, texto de Marcelo Romagnoli e direção de Wanderley Piras. Crédito: Sergio Silva
Em cena, os atores manipulam 20 bonecos, alguns feitos com fibras naturais, palha, peneira e outros com neon, fitas de led e revestidas por tubox; Dona passa a ter luz própria à medida que aceita a espiritualidade da mata e da Samaúma
Dona foi enviada à Amazônia com a missão de ocupar parte da floresta e transformar o mato em pasto. Ela é um misto de empresária da economia global e agente de novas oportunidades, e vai acompanhada por dois atrapalhados ajudantes nessa expedição. Mas chegando lá, a personagem se depara com pessoas, animais e entidades capazes de mudar completamente seus pontos de vista e percepção sobre a natureza.
Contemplada pelo edital ProAC 06/2019 e integrante de uma tetralogia, Samaúma - A Árvore Mãe inicia temporada digital dia 5 de junho, sábado, 16h, pelo Facebook do Teatro João Caetano. A peça é uma produção da Cia da Tribo, que comemora 25 anos em 2021. Criado por Milene Perez e Wanderley Piras, o grupo trabalha há décadas com artistas especialmente convidados para cada uma de suas produções.
Nesta peça, a Cia compartilha com o público uma leitura poética sobre símbolos e mitos ligados à árvore Samaúma, considerada sagrada por diversos povos originários. Com a temática e a estrutura previamente pesquisada pelo grupo, Milene e Wanderley decidiram convidar o dramaturgo Marcelo Romagnoli para escrever o texto final da obra. “O argumento e a visualidade já estavam bem estruturados, então fui convidado para propor alguns caminhos e referências à peça, incluindo uma mensagem importante sobre a preservação da natureza sem cair nos lugares comuns, fazendo com que o público reflita verdadeiramente sobre isso”, conta Romagnoli.
Para o dramaturgo, empatia é o termo que mais faz sentido para a concepção do espetáculo, já que é a partir do contato com a Samaúma - uma das maiores da Amazônia e considerada a ‘árvore rainha' - que a personagem Dona revê a maneira com que lida com a natureza. “A samaúma é uma árvore protetora, doadora de vida e que representa muito para os povos das florestas. Na peça, ela é o elemento central que gera mudança nos personagens", adianta.
Milene Perez, co-fundadora da Cia da Tribo, reforça que a interação com Marcelo foi a realização de um desejo que tinham desde que conheceram o trabalho do artista na Banda Mirim. “Sentimos muito rápido uma afinidade com ele e percebemos o quanto esse trabalho, que já estava cheio de referências, pedia por um autor”, ressalta Milene.
Samaúma é o nome de uma grande árvore da Amazônia, considerada sagrada para muitos povos das florestas. Debaixo de seu tronco, acreditam existir um mundo misterioso, habitado por seres e espíritos mágicos. Essa árvore, que pode chegar a 80 metros, abarca um ecossistema imenso ao seu redor e é tida por muitos indígenas como uma mãe. Um dos mitos a seu respeito conta sobre uma comunicação possível entre indígenas por meio das raízes imensas dessa árvore, que se espalham por grande extensões territoriais na mata.
Os bonecos: Para contar essa história, a Cia da Tribo faz uso de vinte bonecos, alguns deles confeccionados artesanalmente por Dino Soto com fibras naturais, palha, peneiras, cabaças e colheres de pau, entre outros materiais. A outra família de bonecos, criada pelo também diretor do espetáculo e co-fundador da Cia, Wanderley Piras, é composta por peças com iluminação interna feita com neon, fitas de led e revestidas por um material chamado tubox. As luzes são acionadas pelos próprios atores-manipuladores por meio de um sistema de fios elétricos e baterias armazenadas em cintos.
“Eu já tinha alguma experiência com luz interna em bonecos por causa de trabalhos anteriores, mas nesta peça me aprofundei muito nesses estudos, aprimorando mais a materialidade e reforçando a parte técnica para gerar novas camadas à Samaúma", conta Wanderley. O diretor ressalta que a família dos bonecos do mundo terreno e do mundo espiritual - os iluminados - criam um efeito sensorial muito distinto, o que também inclui as escolhas para iluminação do palco.
Na primeira parte, há uma ênfase maior ao cenário como um todo e, na segunda, após Dona ser picada pela cobra e iniciar sua jornada espiritual, as únicas luzes aparentes são as luzes próprias de cada ser. Uma curiosidade ressaltada pelo diretor é que Dona também terá pulseiras de led nos seus punhos, que serão manipuladas pela atriz para dar ênfase ao seu rosto e tronco nos momentos em que o palco estiver mais escuro. O recurso também reforça o processo de transformação da personagem - a sua própria iluminação diante dos seres que ela conhece.
Milene ressalta que a luz é uma metáfora forte para representar o processo de transformação vivido por Dona. “Foi muito importante que a personagem trouxesse esse lugar da contradição e não apenas um espectro do bem e do mal. Ela é uma pessoa equivocada, que chega a um lugar desconhecido e desapropria por causa de dinheiro, de documentos, mas em sua jornada ela se mostra disponível para conhecer um outro lado da questão e se deixar afetar por ele”, conta.
Sobre os figurinos, assinados por Milene, a artista conta que se pautou pela estética da cultura popular e contemporânea e, dessa vez, teve como ponto de partida as queimadas na Amazônia. “Meu processo de criação passa pela pesquisa histórica, pelo diálogo constante com o diretor e pela minha percepção de mundo, do aqui e agora. A floresta está em chamas e eu me sinto destruída, um pouco de mim está queimando. Para a criação dos figurinos-base do espetáculo, percebi que deveria trazer toda a beleza que reside na floresta, mas também sua dor. O fogo das queimadas é representado através de pinturas feitas a mão. São saias pintadas com partes de bichos da floresta com suas cores vibrantes, mas chamuscadas pelo fogo.A floresta faz parte de nós e nós estamos queimando junto com ela. Este é um figurino denúncia”, conta.
A Cia da Tribo estruturou Samaúma - A Árvore Mãe como um trabalho que poderá ser apresentado nos palcos, com o público, da mesma forma em que será transmitido em formato digital. “A captação de vídeo, feita pela cineasta Karina Barros, privilegia muito o aspecto teatral dessa montagem - queremos que o público se sinta de fato perto da gente enquanto não é possível que ele esteja lá, de fato", diz Milene. Antes de cada exibição, a Cia da Tribo vai conversar rapidamente com o público, recepcionando-o para o espetáculo que se inicia em seguida.
Tetralogia - o próximo e último passo
Milene Perez também antecipa que a luz, elemento tão presente em Samaúma - A Árvore Mãe, é o ponto de partida para o espetáculo Lume, trabalho ainda em processo de criação que encerra a tetralogia da Cia da Tribo, composta por peças que exercitam o diálogo com questões relacionadas ao meio ambiente, junto com Pé de Vento, Água Doce e Samaúma - A Árvore Mãe. Em Lume, a Cia vai partir do fogo como uma metáfora para discutir o obscurantismo que já foi vivido na civilização e de seu retorno, de tempos em tempos.
Sinopse: Samaúma - A Árvore Mãe é um espetáculo que trata das relações entre o ser e o meio ambiente, inspirado pelos mitos e pela realidade contemporânea, em especial a indígena em suas florestas. Feita com atores e a manipulação de bonecos, é recomendada para todas as idades. Samaúma conta a história de uma missão na Amazônia – com uma dupla atrapalhada à frente e sua chefa, a Dona - com a função de ocupar e transformar em pasto parte da mata. Mas todos saem transformados da incumbência, e a grande responsável por isto é a empatia.
Sobre a Cia da Tribo: O grupo paulista Cia da Tribo, fundado pelos artistas Milene Perez e Wanderley Piras, iniciou seu trabalho de pesquisa em cultura popular em 1996. A sua linguagem cênica foi desenvolvida através do estudo de tradições populares, personalidades e corporeidades brasileiras. Histórias, músicas, danças e bonecos criados pelo povo em diversas regiões do país são investigados, apreendidos, recriados e trazidos à cena, construindo assim, uma teatralidade brasileira.
FICHA TÉCNICA
Texto: Marcelo Romagnoli
Direção: Wanderley Piras
Atuação: Milene Perez, Marina Albuquerque, Daniel Sapienza e Wanderley Piras
Preparação Corporal: Factima El Samra
Produção Executiva: Gabriel Bueno
Fotografia: Sérgio Silva
Bonecos: Dino Soto
Bonecos Iluminados: Wanderley Piras
Cenografia: Wanderley Piras, Dino Soto e Thiago Paiva
Figurino: Milene Perez
Adereços de Cena: Thiago Paiva
Iluminação: Ricardo Silva
Trilha Sonora: Magda Pucci
Design Gráfico e Mídias Digitais: Gabriel Bueno
Assessoria de Imprensa: Canal Aberto
Produção Geral: Cia da Tribo
SERVIÇO
Samaúma - A Árvore Mãe
Duração: 50 minutos
Classificação etária: Livre
Grátis
Exibição pelo Facebook e Youtube dos seguintes espaços:
Teatro João Caetano
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Facebook do Teatro: facebook.com/teatropopularjoaocaetano
YouTube: youtube.com/channel/UCQx2fKyT_uAwnb3i5uQOU8Q
Facebook da Cia da Tribo: facebook.com/CIADATRIBO
Data: 5 e 6 de junho de 2021, sábado e domingo, 16h
Teatro Alfredo Mesquita
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Facebook do Teatro: facebook.com/teatroalfredomesquita
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Facebook da Cia da Tribo: facebook.com/CIADATRIBO
Data: 12 e 13 de junho de 2021, sábado e domingo, 16h
Cia da Tribo
Simultaneamente no:
Facebook: facebook.com/CIADATRIBO
YouTube - youtube.com/user/PIrasWanderley
Facebook da Casa da Ladeira (Espaço Cultural da Cia da Tribo): facebook.com/acasadaladeira
Data: 12 e 13 de junho de 2021, sábado e domingo, 16h
Teatro Cacilda Becker
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Facebook do Teatro: facebook.com/TeatroCacildaBeckerSP
YouTube - youtube.com/channel/UCnXGLvmqpJFR3kVYUW1abxQ
Facebook da Cia da Tribo: facebook.com/CIADATRIBO
Data: 19 e 20 de junho de 2021, sábado e domingo, 16h
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