Álbum conta com participações de Ney Matogrosso, Zeca Baleiro, Chicas e Juliana Linhares.
De família de atores, Sandra Pêra cresceu nas coxias dos teatros ao lado dos pais, Manoel Pêra e Dinorah Marzullo, da avó Antonia Marzullo, do tio Abel Pêra, da irmã Marília Pêra e viu crescer sua filha Amora e seus três sobrinhos por ali, também.
Com mais de 50 anos de carreira, a maior parte como atriz, Sandra decidiu que era hora de voltar ao estúdio, 38 anos depois de seu único solo como cantora, de 1982. "Sandra Pêra em Belchior", lançado agora pela Biscoito Fino, tem direção musical de José Milton e Amora Pêra, com repertório inteiramente dedicado às canções de Belchior.
A ideia veio da Kati (da Biscoito Fino) e da inspiração que bateu depois de ouvir a versão de Fagner para “Mucuripe”, de seu novo álbum “Serenata”. “Naquele momento eu não tinha ideia de que o Belchior estava sendo redescoberto. Quando estávamos em estúdio, Amora me perguntou se eu tinha ouvido a versão do Emicida para ‘Sujeito de Sorte'. Só fui ouvir no final do ano, quando assisti o filme 'Amarelo', coisa linda! Levei um susto, porque tivemos a mesma ideia. Além da versão que abre o disco, fiz uma segunda com vários convidados cantando, como a população cantando junto esse grito de esperança, algo assim", pontua.
Com Belchior, Sandra Pêra tem uma história curiosa. Em 1977, num voo para Fortaleza com as Frenéticas, Belchior sentou ao seu lado: "Lembro que era meu aniversário, conversamos e eu contei que morria de medo de avião. As tantas rolou uma turbulência forte e ele me disse: ‘Fiz Medo de Avião pra você’, o que eu levei como brincadeira, claro, porque a música já existia. Um ano depois ele nos convidou para participar da gravação da música ‘Corpos Terrestres’, do disco 'Todos os Sentidos', falando em latim", lembra. Anos depois, Sandra foi surpreendida durante um programa de Silvia Poppovic, com a afirmação de que Belchior havia feito “Medo de Avião” para ela, episódio que se repetiria em muitas outras ocasiões. "Eu sempre desmentia. Ele contava isso para algumas pessoas. Talvez tenha sabido do meu medo e dessa história fez a música, não em minha homenagem, mas vai saber?”, diverte-se.
"Sandra Pêra em Belchior" traz colaboradores ilustres, como Ney Matogrosso, Zeca Baleiro, Chicas e Juliana Linhares. “Meus convidados, além da admiração tem uma proximidade. Morei com o Ney no começo das Frenéticas, eu a Regina Chaves e a Lidoka. Tudo a ver cantar com ele “Velha Roupa Colorida” e por sugestão do Ney, fizemos um final suave, diferente do que o arranjo sugere", explica.
“Com Zeca Baleiro trabalhei em um grande espetáculo do Ivaldo Bertazzo, 'Mãe Gentil', um projeto de dança com crianças da periferia de São Paulo e da Maré, no Rio. Ele prontamente aceitou o convite e escolheu “Na Hora do Almoço” pra cantar comigo. Ter as Chicas no disco é motivo de alegria profissional e materna. Sou louca por elas: além da Amora Pêra, Paula Leal e Isadora Medella são um pouco minhas filhas, também. Fizeram um arranjo vocal muito bacana para a faixa 'Pequeno Mapa do Tempo' e arrasam nos vocais de 'Todo Sujo de Baton'”.
Na faixa “Galos, Noites e Quintais” Sandra Pêra faz dueto com Juliana Linhares. “Foi uma sugestão da Amora. Juliana é do grupo Pietá, é atriz e cantora do Rio Grande do Norte e está no Rio de Janeiro há algum tempo. É uma jovem voz nordestina, cheia de beleza e poder. Sem falar dos músicos incríveis”. Para 'A Palo Seco', primeiro single do álbum, o pianista e arranjador Cristóvão Bastos criou um arranjo que reforça a conexão da obra de Belchior com sonoridades da América Latina. “De repente surgiu na minha frente esse arranjo maravilhoso, com o bandoneon do Walter Rios, que é de uma delicadeza, de uma precisão incríveis”, destaca.
Cristóvão Bastos, Eduardo Souto Neto, Camila Dias, João Lyra, Jessé Sadoc se revezam nos arranjos (também no piano, violão e trompete). Sandra Pêra destaca ainda a parceria com os produtores. "Foi importantíssimo pra mim trabalhar com José Milton e Amora Pêra nesse disco. Ele com seu vasto conhecimento e delicadeza e ela com sua fome de saber e já com muitas certezas. Me senti totalmente segura e amparada, trabalhando com rigor e leveza ao lado dessa dupla de produtores. Olha, por mim, não sairia do estúdio nunca mais, ficaria ali cantando, cantando.....”.
"Sandra Pêra em Belchior"
Produzido por José Milton e Amora Pêra.
Arte / capa: Antônia Ratto.
Fotos: Jorge Bispo
Edição em CD.
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