domingo, 20 de junho de 2021

.: “Colônia”, série original do Canal Brasil, estreia dia 25 de junho

Rodada em preto e branco, a produção, estrelada por Fernanda Marques, tem Andréia Horta Augusto Madeira, Naruna Costa, Bukassa Kabengele, Arlindo Lopes e Rejane Faria no elenco 


Estreia no Canal Brasil, em 25 de junho, às 21h30, a série original de ficção “Colônia”, de André Ristum. Na mesma data, todos os 10 episódios estarão disponíveis nos serviços de streaming Canais Globo e Globoplay e o primeiro episódio estará disponível para não assinantes por sete dias. “Colônia” é uma produção de Sombumbo e Tc Filmes, em coprodução com a Gullane, produzida por André Ristum e Rodrigo Castellar, e financiada através do Fundo Setorial do Audiovisual. Estrelada por Fernanda Marques, no papel da jovem Elisa, a série tem no elenco atores como Andréia Horta, Augusto Madeira, Naruna Costa, Bukassa Kabengele, Arlindo Lopes, Rejane Faria, além de participações especiais de Stephanie de Jongh, Rafaela Mandelli, Christian Malheiros, Eduardo Moscovis, Marat Descartes e Nicola Siri, entre tantos outros.

Criada por André Ristum, que também assina a direção e o roteiro – esse, junto com Marco Dutra e Rita Gloria Curvo –, a trama é livremente inspirada no livro “Holocausto Brasileiro”, de Daniela Arbex, e na história real de tantas pessoas que passaram pelo Hospício Colônia, em Minas Gerais, ao longo de seus quase 100 anos de existência. Pela primeira vez é recriado ficcionalmente um pedaço doloroso da história do Brasil, contando a trajetória de tanta gente que foi injustamente trancada no local, onde mais de 60 mil pessoas perderam a vida vítimas de maus tratos, eletrochoque, tortura e abandono. 

A produção conta a história de Elisa (Fernanda Marques), uma jovem de vinte anos que chega ao Hospício Colônia no começo dos anos setenta. Ela está grávida de quatro meses de sua grande paixão juvenil e foi enviada para o local pelo pai, Júlio (Henrique Schafer), que fica enfurecido ao descobrir que a filha arruinara seus projetos de casá-la com um rico vizinho de fazendas. Elisa logo se depara com a verdadeira loucura ali presente, mas rapidamente consegue descobrir que, assim como ela, muitas outras pessoas sem nenhum tipo de diagnostico de doença mental estão internadas: o alcoólatra Raimundo (Bukassa Kabengele), a prostituta Valeska (Andréia Horta), o homossexual Gilberto (Arlindo Lopes) e dona Wanda (Rejane Faria), todos para lá enviados por serem considerados incômodos para a sociedade. Elisa se aproxima destas pessoas e cria laços de amizade fundamentais para sobreviver, da maneira mais sã possível, a uma vida de abusos e violência diária. 

A série foi rodada toda em preto e branco, em locações entre Campinas e São Paulo. O hospício foi reconstituído em um edifício antigo no bairro do Ipiranga, na capital paulista. Sobre a escolha estética de gravar em P&B, André Ristum afirma: “Quando eu imaginava a série, eu não conseguia enxergar de outra forma que não em preto e branco. A vida dessas pessoas era tão sem cor, sem brilho, que, para mim, não fazia sentido rodá-la colorida”. 


Colônia (2021) (10X30’)

INÉDITO e EXCLUSIVO

Classificação: 16 anos

Criação e direção: André Ristum

Roteiro: André Ristum, Marco Dutra e Rita Gloria Curvo

Elenco: Fernanda Marques, Andréia Horta, Augusto Madeira, Naruna Costa, Bukassa Kabengele, Arlindo Lopes e Rejane Faria.

Estreia: sexta, dia 25/06, às 21h30.

Horário: sexta, às 21h30

Alternativos: madrugada de sábado/domingo, 1h55, e madrugada de segunda/terça, 0h55.


Contexto Histórico:

“Aquele carro parara na linha de resguardo, desde a véspera, tinha vindo com o expresso do Rio, e estava lá, no desvio de dentro, na esplanada da estação. Não era um vagão comum de passageiros, de primeira, só que mais vistoso, todo novo. A gente reparando, notava as diferenças. Assim repartido em dois, num dos cômodos as janelas sendo de grades, feito as de cadeia, para os presos. A gente sabia que, com pouco, ele ia rodar de volta, atrelado ao expresso daí de baixo, fazendo parte da composição. Ia servir para levar duas mulheres, para longe, para sempre. O trem do sertão passava às 12h45m. (...) Para onde ia, no levar as mulheres, era para um lugar chamado Barbacena, longe. Para o pobre, os lugares são mais longe.”

João Guimarães Rosa, Sorôco, sua mãe, sua filha (em Primeiras Estórias)


***

O Hospital Colônia de Barbacena, MG, foi fundado em 12 de outubro de 1903, cerca de quinze anos após a abolição da escravatura e da proclamação da República, e pouco após a criação da Assistência aos Alienados no estado em 1900. Foi construído em terras da Fazenda da Caveira, propriedade que diziam pertencer ao delator da Inconfidência Joaquim Silvério dos Reis. O município receberia o epíteto de “Cidade dos Loucos”. O trem que carregava os internos para lá foi apelidado de “Trem de Doido” pelo escritor Guimarães Rosa. Inicialmente construído com 200 leitos, o hospital atingiu a marca de cinco mil pacientes nos anos 60. Os pacientes eram mantidos em condições sub-humanas. Faltavam leitos, roupas, proteção contra o frio, água e comida. Havia outras formas de tortura, como o eletrochoque, utilizado sem finalidade terapêutica, e os banhos frios.

O hospital tornou-se destino de todo tipo de indesejável social da época, que demostra racismo e desigualdade: homens e mulheres negras, homossexuais, alcoólatras, prostitutas, jovens grávidas, vítimas de estupro, mulheres com senso de liderança e opositores políticos. Deste modo, a internação era de fato uma forma de exclusão.

As denúncias contra o Colônia surgiram nos anos 60. Em 1961, o fotógrafo Luiz Alfredo registrou pela primeira vez, para a revista “O Cruzeiro”, a grave situação de abuso dos direitos humanos que ocorria no hospício. Helvécio Ratton dirigiu o documentário “Em Nome da Razão” em 1979. Em 2013, a escritora e jornalista Daniela Arbex escreveu o premiado livro-reportagem “Holocausto Brasileiro”.

A série “Colônia”, que estreia dia 25 de junho de 2021, é um esforço ficcional inspirado pelos fatos reais. Os episódios buscam retratar a realidade de diversas personagens que representam os grupos sociais vítimas desta violência. Os registros históricos, ainda que lacunares, serviram como base para a criação da série. Trata-se de uma adaptação que busca um olhar crítico em relação à sociedade patriarcal e conservadora do país, que tinha como hábito livrar-se dos indesejados jogando-os nestes depósitos humanos. Através de Elisa, filha de fazendeiro, uma “estranha no ninho” enviada para internação pelo próprio pai, o público é convidado a conhecer alguns dos dramas humanos que se desenrolaram no Colônia, e também a projetar futuros possíveis – futuros pelos quais devemos lutar.


0 comments:

Postar um comentário

Deixe-nos uma mensagem.

Tecnologia do Blogger.