quarta-feira, 2 de junho de 2021

.: Cia Estável de Teatro apresenta "Patética", que homenageia Herzog


A peça conta a vida de Vladimir Herzog desde a imigração dos pais para o Brasil, passando pela militância, prisão, depoimentos no DOI-Codi, até a morte e a luta da família para provar que ele não cometeu suicídio, mas foi assassinado. A montagem mostra uma trupe de artistas circenses que apresenta pela primeira e última vez a história de Glauco Horowitz (Herzog). Ao discutir a censura, a própria peça é proibida e o circo é fechado. Foto: Jonatas Marques


O espetáculo "Patética", montagem da Cia Estável de Teatro, será apresentado, em formato digital, no Festival São Paulo Sem Censura, dia 5 de junho, sábado, às 20h. Após a sessão, haverá um bate-papo com integrantes da Cia Estável sobre o processo de pesquisa, com a participação de Celso Nunes, que foi o diretor da primeira montagem do espetáculo, em 1980. 

O espetáculo "Patética" reflete sobre as circunstâncias que lavaram ao assassinato do jornalista e dramaturgo Vladimir Herzog (1937-1975). O texto foi escrito em 1976, um ano depois do seu falecimento, por seu cunhado e, também dramaturgo, João Ribeiro Chaves Neto. A Cia Estável de Teatro montou o espetáculo em 2018 e apresenta uma versão digital na segunda edição do Festival São Paulo Sem Censura promovido pela Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, no dia 5 de junho, sábado, às 20h. Após a sessão, haverá um bate-papo com integrantes da Cia Estável sobre o processo de pesquisa, com a participação de Celso Nunes, que foi o diretor da primeira montagem do espetáculo, em 1980.

Com direção de Nei Gomes, a montagem da Cia Estável usa o metateatro para mostrar uma trupe de artistas circenses que apresenta pela primeira e última vez a história de Glauco Horowitz (Herzog). Ao discutir a censura, a própria peça é proibida e o circo é fechado. A peça conta a vida de Vladimir Herzog desde a imigração dos pais para o Brasil, passando pela militância, prisão, depoimentos no DOI-Codi, até a morte e a luta da família para provar que ele não cometeu suicídio, mas foi assassinado.

Na noite do dia 24 de outubro de 1975, o jornalista apresentou-se na sede do DOI-Codi, em São Paulo, para prestar esclarecimentos sobre suas ligações com o PCB (Partido Comunista Brasileiro). No dia seguinte, foi morto aos 38 anos. Segundo a versão oficial, ele teria se enforcado com o cinto do macacão de presidiário. Porém, de acordo com os testemunhos de jornalistas presos na mesma época, Vladimir foi assassinado sob torturas. A morte de Herzog foi um marco na ditadura militar (1964-1985). O triste episódio paralisou as redações de todos os jornais, rádios, televisões e revistas de São Paulo.

Além de se constituir numa denúncia da tortura no Brasil, a peça dialoga com questões estéticas da dramaturgia contemporânea. Teve uma trajetória conturbada durante a ditadura militar: o texto foi premiado, a premiação foi suspensa, foi confiscado, depois vetado, só liberado em 1979, e não pôde usufruir dos prêmios (do valor em dinheiro, da montagem do espetáculo nem da publicação do texto).

A Cia Estável inseriu parte da obra no espetáculo "Flávio Império, Uma Celebração da Vida"  (montagem de 2002, com direção de Renata Zhaneta) por ter sido um espetáculo para o qual Flávio Império fez os cenários e figurinos da montagem dirigida por Celso Nunes. Na época, marcou o retorno do cenógrafo após muitos anos afastado das criações teatrais.


Sobre a Cia Estável de Teatro
Com 20 anos de trajetória o grupo formado na escola de teatro da Fundação das Artes de São Caetano do Sul foi contemplado em 6 edições da Lei de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo. O coletivo tem como premissa de sua pesquisa a criação em conjunto com a comunidade onde está inserida. O primeiro projeto do grupo foi o Amigos da Multidão, realizado no teatro distrital Flávio Império, em Cangaíba, zona leste de SP, onde, por intermédio do edital de Ocupação dos Teatros Distritais em 2001, desenvolveu uma programação diária com oficinas, espetáculos artísticos, saraus e apresentações de peças de seu próprio repertório.

Dentre elas, o espetáculo Incrível Viagem, de Doc Comparato e direção de Renata Zanetha, que também foi apresentado no projeto Formação de Público da Secretaria Municipal de Cultura. Foram montados também os espetáculos Flávio "Império, Uma Celebração da Vida", de Reinaldo Maia e direção de Renata Zanetha, e "Quem Casa, Quer Casa", de Martins Penna, com direção de Nei Gomes.

Com "O Auto do Circo" (2004) de Luis Alberto de Abreu e direção de Renata Zhaneta, participaram do Festival de Teatro de Curitiba e Janeiro da Comédia, em São José do Rio Preto. A partir de 2006, a Cia. Estável de Teatro passou a fazer residência artística no Arsenal da Esperança, casa de acolhida que abriga 1.200 homens em situação de rua localizada ao lado do Museu do Imigrante, no bairro do Brás. Dentro do espaço, uma lona de circo foi armada servindo de picadeiro e lugar de convivência dos acolhidos.

No espetáculo "Homem Cavalo & Sociedade Anônina", de 2008, o grupo aprofunda a pesquisa nas relações entre o modo de produção capitalista e a exploração do trabalho. Em 2009, o espetáculo foi convidado a participar do Festival Flaskô Fábrica de Cultura, do encontro estadual do MST em Itapeva, na Escola Nacional Florestan Fernandes e participa 5 Mostra de Teatro de Rua Lino Rojas.

Em 2011, o grupo comemorou dez anos com uma mostra de seu repertório. Também lançou o livro "Das Margens e Bordas – Relatos de Interlocução Teatral Cia Estável 10 Anos". Nele estão textos críticos produzidos por integrantes do grupo e colaboradores, o roteiro do espetáculo "Homem Cavalo & Sociedade Anônina" e extenso material iconográfico.

Em 2013 estreia A Exceção e a Regra, de Bertolt Brecht, com direção de Renata Zhaneta. A peça é apresentada dentro do Arsenal da Esperança e circula por ruas e praças da cidade de São Paulo, participando da VII Mostra de Teatro de São Miguel Paulista, da I Mostra Pela Paz, da III Feira Teatro de Rua em Sorocaba e Votorantim, do Festival de 10 Anos da Flaskô e da Mostra de Teatro de Rua e de Floresta, no Acre, durante encontro da Rede Brasileira de Teatro de Rua. A companhia integra o Movimento de Teatro de Rua (MTR).


Ficha técnica:
Espetáculo "Patética"
Texto: João Ribeiro Chaves Neto. Direção: Nei Gomes. Adaptação da dramaturgia: Daniela Giampietro. Elenco: Juliana Liegel, Katia Lazarin, Maria Carolina Dressler, Miriele Alvarenga Osvaldo Pinheiro, Paula Cortezia e Sergio Zanck. Cenografia: Luis Rossi. Figurino e adereços: Marcela Donato. Preparação musical: Reinaldo Sanches. Músicos: Reinaldo Sanches, Rayra Maciel, Agata Gabriela, Simone Ferreira.Preparação corporal: Ana Paula Perche e Carlos Sugawara. Maquiagem: Ana Luisa Icó. Iluminação: Erike Busoni. Operação técnica: Evas Carreteiro, Ramon, Junior Batucada, Priscila Chagas. Produção: Maria Carolina Dressler, Flávia Morena, Nei Gomes. Registro e produção multimídia: Jonatas Marques. Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli. Orientação audiovisual: Luiz Cruz.


Serviço:
Espetáculo "Patética"
Dia 5 de junho, sábado, às 20h - Espetáculo estará disponível na plataforma por 24h.
Transmissão: Redes da Secretaria Municipal de Cultura.
Duração: 85 minutos.
Classificação etária: 10 anos.
Ingressos: grátis.
Após a sessão haverá bate-papo com a Cia Estável de Teatro sobre o processo de pesquisa e toda experiência com esta montagem. A conversa contará com a participação de Celso Nunes, diretor da primeira montagem do espetáculo.


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