Por: Mary Ellen Farias dos Santos
A Cidade de São Francisco de Assis era o lugar ideal para se viver, ao menos era o que todos os turistas pensavam ao aproveitar um final de semana no lugar que mais parecia uma pintura realista pronta para ganhar pinceladas impressionistas de Claude Monet. Parecido com “O Campo de Papoulas perto de Giverny”, “Ilha das Flores” ou “Paisagem de Vétheuil”.
As grandes
montanhas arborizadas e floridas, com caminhos de terra, mesmo quando se
afinavam, indicavam o caminho exato para chegar até o topo.
Era de lá do
alto dessas montanhas que se via muito da vida alheia, cada um representado por
uma formiguinha trabalhadeira. Saindo de suas casas ainda antes de o Sol
nascer, de fato, para retornar quando a Lua já brilhava enquanto subia. No
entanto, era lá no bairro de Santa Terezinha em que estava a família
Winsherburg.
- Vamos, Mary!
Levante-se o café da manhã já está na mesa e você ainda precisa colocar o
uniforme! -gritou Ellen na cozinha. Eu não posso me atrasar, filhinha! Venha!
–Insistiu mais uma vez, mas com a voz amorosa e sem sair do lugar.
Ao longe, o
som misto de resmungos indecifráveis e chinelos de quarto arrastados ecoavam
por todo o corredor da casa. Isso já era um bom sinal, pois o fim do corredor
dava exatamente na cozinha.
Naquele finalzinho
do corredor, Mary parou de olhos fechados, decidindo brincar de estátua
descabelada.
Ao ver a cena,
Ellen simplesmente soltou a respiração mais forte pelo nariz e virou os olhos
como que procurando por paciência, o que ela já estava prestes a perder.
Contudo, segurou-se.
- Aãããããn!, mãe
eu madruguei ontem. A senhora sabe! Por que eu não posso ficar? Preciso
descansar a minha mente, meu corpo. O que acha?, propôs mary.
Ellen também
fechou os olhos e disse:
- Você vive
debaixo do meu teto, mocinha! Eu não permiti que ficasse até a madrugada
brincando no celular. Agora, estamos perto da hora de ir para a escola, eu vou
dar aula e você estudar. Está pensando que é fácil...
Mary completou
a fala da mãe: “ser professora?”
- Eu sei, mãe!
Mas a live ficou tão boa. Todos! Eu disse que TODOS os meus amigos da escola
estavam e eu fui ficando... ficando! Os meus olhos cada vez mais abertos... perdi
o sono!
Enquanto
falava, Mary escorregava pela cadeira da mesa que servia um farto café da manhã
com suco de laranja puro, donuts,
pães e seus acompanhamentos prediletos: requeijão, manteiga, queijo e peito de
frango fatiados. Tudo colocado com capricho numa linda toalha de mesa com
bordas azuis e flores arroxeadas no centro.
Mary, sabe o
que eu vou fazer?, perguntou a mãe.
Não! Nãããão!
Por favor! Por favorzinho!, suplicou a filha, mas Ellen a impediu que dissesse
mais qualquer outra coisa.
- Eu declaro
aberta a semana de confisco ao celular. Todo dia, quando voltarmos juntas da
escola, o seu aparelho ultramoderno ficará sob meus cuidados. Seja solene ao avisar
aos seus amiguinhos da live! Agora, encerro o meu pronunciamento a respeito do
assunto. –concluiu Ellen enquanto enchia um copo d´água diante do filtro
branquinho.
Mary sabia que
não deveria abrir mais o bico, pois a mãe dela era a lei em casa. Benjamin, era
dono do posto de amado papai Winsherburg, mas também sabia que, no final das
contas, quem sacudia as rédeas com as meninas, era Ellen. Nunca ninguém ousava
contestar.
Mamãe é chata, mas sabe o que é melhor. Ao
menos é o que vivem dizendo Lolita e Samantha, pensou Mary enquanto
degustava seu pão com muito requeijão, uma fatia de queijo e duas de peito de
frango.
* * *
Lola gargalha
e aponta com uma das mãos para Sam, embora segure a barriga com a outra mão,
enquanto se curva, mesmo estando sentada na cadeira do escritório que as duas
dividiam.
- Não! Você
não tem moral para me repreender por ter chorado com a cena de Ferris Buller no
desfile de “Curtindo a Vida Adoidado”, Sam! Tu não tem mesmo!, sentenciou Lola.
Lola, que
reclama sentir dor nas bochechas de tanto rir, completa:
- Maninha, tu
chora sempre quando assiste o final de “Guardiões da Galáxia Vol. 2”. Gosta
tanto assim do Yondu, é? Ou fica derretida pelo baby Groot quando ouve “Father
and Son” no colinho de Peter Quill?
Lola era do
tipo impaciente e séria, mas com Samantha ela agia diferente. Ela se soltava,
era mais livre como se pudesse ser como gostaria, mas tinha medo. Afinal, desde
criança na escola, para todos, Lola era a irmã estudiosa e centrada, enquanto
que Sam era sonhadora até. Ah, Petra que o diga! As tristes histórias escolares
das gêmeas foram marcadas por essa garota com coração de pedra.
Com cara
emburrada, mas querendo rir, Sam rebate:
- Tá! Tá! Aguarde
a sua hora vai chegar! Nada como um dia após o outro, Lolinha querida.
De repente, um
vento forte invade a agência, enquanto um barulho ensurdecedor vem junto com um
clarão.
* * *
*~~~~ Capítulo 2: "As Winsherburgs" em "Parte 1: Anjos choram" ~~~~*
*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm
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