sexta-feira, 21 de maio de 2021

.: Entrevista: Thais Polimeni afirma que escrever é terapia, publicar é coragem


Por Helder Moraes Miranda, editor do Resenhando.

Thais Polimeni acaba de lançar o livro de crônicas "Escrever É Terapia. Publicar É Coragem", que sai em formato dois livros em um, publicado em conjunto com Leonardo Cássio, que lança os contos de "Latíbulo".  Ambos são sócios há 10 anos da Cult Cultura e da Carbono 60, desenvolvendo projetos na área da Economia Criativa. As crônicas de Thais Polimeni têm um olhar empático e reflexivo sobre situações cotidianas e falam sobre amizade, família, viagem, resoluções de ano novo, política, religião e futebol.

Paulistana, Thais Polimeni é formada em publicidade e defende o diálogo, a sororidade e a empatia.  Descobriu a paixão por crônicas depois de um visto negado e uma amizade terminada. Sonha colorido (quase) todas as noites e às vezes se pergunta se é sonho ou realidade. 

São dois livros em um, que contam ainda com prefácio do escritor Jailson de Almeida, na parte "Latíbulo" e da cronista e dramaturga Andréa Martins na parte "Escrever É Terapia. Publicar É Coragem". Há ainda a contribuiçao da pesquisadora e cronista Mayra Guanaes, que redigiu dois textos explicativos sobre a relação entre contos e crônicas.

Resenhando.com - Escrever é terapia. Publicar é coragem. Por quê?
Thais Polimeni - O título desse livro daria uma nova crônica, né? Comecei a escrever para colocar pra fora o que eu pensava. Nesse processo, percebia que, depois do texto finalizado, eu sentia como se tivesse organizado minhas ideias para continuar a vida de um jeito cada vez mais leve. A fase seguinte à escrita, no meu caso, era a publicação na internet. Escrever e imediatamente publicar requer a coragem de se expor, especialmente quando a escrita apresenta, de forma transparente, as reflexões da autora, como é o caso das crônicas de "Escrever É Terapia. Publicar É Coragem".

Resenhando.com - Você afirma que publicar é coragem. Qual a maior exposição que você faz sobre si mesma neste livro?
Thais Polimeni - Tive que pegar o livro pra ver qual das 50 crônicas foi a de maior exposição! Olha, não tem uma em específico, mas tem temas sobre os quais eu não me expunha, e comecei a refletir a partir das crônicas: política e amizade. Eu sempre fui da turma da "política não se discute", até que percebi que a isenção é também um posicionamento. Posicionar-se politicamente requer muita coragem, tanto entre os amigos e familiares quanto entre os internautas e leitores em geral. O outro tema, amizade, nunca foi uma questão, pra mim. Sempre tive muitos amigos e me orgulhava muito disso; até que uma amiga parou de falar comigo sem me contar o motivo (ghosting que chama - também existe entre amigos) e passei a refletir sobre amizade. As crônicas sobre esse tema geraram elogios e críticas, e também um segundo projeto: o podcast "As Minas Gerais", em que falo sobre amizade, na primeira temporada.

Resenhando.com - Há uma história inusitada a respeito de como começou a escrever crônicas. Como foi?
Thais Polimeni - 
Tem algumas histórias que me motivaram a começar a escrever crônicas. 2013 foi meu retorno de Saturno (alô, astrolovers!) e, nesse ano, tudo aconteceu. Uma amiga parou de falar comigo, meu cachorro morreu, meu visto foi negado, entre outras crises. Afoguei minhas mágoas na livraria, no meio da seção de crônicas. Clarice Lispector, Martha Medeiros, Fernanda Takai, Betty Milan (que não era crônica, mas poderia ser) me acompanharam nesses processos de cicatrização e me inspiraram a escrever esse gênero.

Resenhando.com - Qual a maior terapia de escrever este livro? Que benefícios lhe proporcionou?
Thais Polimeni - 
A maior terapia (e acho que vale não apenas pra mim, na escrita, mas pra todos que frequentam algum tipo de terapia) é a do autoconhecimento. A escrita me permitiu olhar para minhas dores com atenção e dedicação, e descobrir o melhor caminho para curá-las.


Resenhando.com - Qual o maior desafio de escrever em primeira pessoa?
Thais Polimeni - 
A exposição, certamente. Por mais que a escrita em terceira pessoa carregue elementos do autor, fica mais fácil do leitor separar o autor do personagem. Já em primeira pessoa, e sem personagem ficcional, o personagem é o próprio autor; e quando o leitor não concorda com algo que está escrito, é com o autor que ele vai "brigar". Por outro lado, quando o leitor concorda, a conexão com o autor é imediata, e já tive muitos retornos positivos nesse sentido.


Resenhando.com - Para você, a escrita é autobiográfica?
Thais Polimeni - 
Para mim, toda escrita é, ao mesmo tempo, autobiográfica e ficcional. É quem escreve que vai determinar a forma que o livro deve ser lido. Por exemplo: eu defini que os meus textos são crônicas; porém, se eu tivesse assinado com outro nome, criado uma personagem de mim mesma, já seria conto ou então autoficção. E quem determinaria isso teria sido eu, quem escreveu. Mesmo escrevendo crônicas, com a coragem de falar "isso sou eu, é isso que eu penso", a partir do momento que eu transformo um acontecimento ou uma reflexão em escrita, já passa a ser ficção, porque é o meu olhar sobre aquilo, não uma reportagem jornalística sobre um fato (apesar de existirem crônicas jornalísticas, mas não é o meu caso). Então, a escrita é autobiográfica porque utilizamos elementos das nossas vivências nela; e é ficcional porque o objetivo não é relatar fatos, então podemos utilizar elementos da ficção para criar um texto mais divertido ou emotivo.


Resenhando.com - Por que lançar um livro solo em dupla com outra pessoa?
Thais Polimeni - 
O Leo é meu amigo e sócio há vários anos. Estudamos na faculdade e, depois de formados, abrimos uma empresa juntos. Começamos a publicar textos mais ou menos na mesma época: ele escrevendo contos e eu, crônicas. Decidimos lançar o livro também na mesma época e, então, pensamos: por que não lançarmos um livro dois em um? Foi também uma estratégia de marketing, porque o nosso público em comum pode comprar um único livro e ler os dois; o meu público que comprar o meu livro, também passa a conhecer o trabalho dele, e vice-versa.


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