Com texto de Pedro Guilherme e direção de Aline Filócomo, a peça é um encontro ficcional de Pedro com seu pai já falecido. O ator contracena com as falas escritas por ele mesmo para serem ditas pelo seu pai, projetadas num telão. Foto: Grissel Piguillem
Durante a peça, sem um entendimento do que Pedro busca com esse encontro, o público vai vendo-o desvelar fatos e segredos de pai e filho. O ator disseca objetos num retroprojetor, que quando projetados no cenário, ganham contornos de imagens microscópicas de vírus, células, amálgamas de DNA, glóbulos e amebas, como seu pai fez quando era pesquisador científico ao dissecar materiais laboratoriais para exames diagnósticos. Pedro vai investigando até revelar a doença que levou à morte do pai: seu pai era homossexual e a doença misteriosa que o acometia era aids.
Uma busca por desmantelar preconceitos e situações mal resolvidas. Uma encenação de um monólogo que mescla elementos reais e ficcionais, teatrais e cinematográficos. Com uma estrutura híbrida, feita metade como teatro e metade como filme, a encenação sobrepõe figuras reais, imaginadas e projetadas, assim como gestos e palavras. A exemplo de um laboratório científico, onde o personagem do pai passou toda a sua vida, a encenação experimenta combinações e gradações possíveis de ficção e realidade, recria momentos vividos e testa possibilidades de encontros impossíveis.
Trajetória da criação
A peça estava sendo ensaiada presencialmente antes da pandemia, utilizando projeções de vídeo, retro-projeção, música ao vivo e elementos de dança. Nessa modalidade on-line, o que era projetado será colocado na tela em concomitância com a performance de Pedro ao vivo.
O espetáculo fez parte do projeto Epidemias, junto com o experimento cênico “O Amor e a Peste” idealizado e realizado por Pedro em parceria com a atriz Flavia Couto, recentemente apresentado na plataforma Zoom. Nesse momento o Experimento foi apresentado como abertura de processo. Agora, o espetáculo estreia dentro de um outro projeto: Cia. Provisório-Definitivo 20 Anos, que compreende uma série de apresentações de experimentos/espetáculos em comemoração aos vinte anos do grupo.
No projeto Epidemias “O Desejo do Outro” dialogou com “o Amor e a Peste” na ideia de que os processos de doenças, para além de toda a dor, também causam crises que podem proporcionar transformações conscientes, conforme o texto “O Teatro e a Peste” de Artaud, da mesma forma que os encontros afetivos também são agentes de mudanças. Em ambos, há também a mistura entre realidade e ficção, passado e presente. Também faz parte dos dois projetos a reflexão de que as crises sanitárias acontecem acompanhadas de crises nos diversos aspectos da sociedade.
Na comemoração dos vinte anos, os dois projetos acima citados estarão presentes, e o foco dos projetos será a memória e o que podemos construir de futuro a partir dela, seja pessoalmente, como grupo, ou como sociedade. O objetivo em “O Desejo do Outro" é ritualizar a crise pandêmica do Coronavírus com a crise pessoal da perda do pai, no momento em que Pedro enfrenta a doença e possível morte da mãe. Duas gerações se entrecruzam em diferentes pandemias da contemporaneidade.
A peça
As crises, dramas, perdas e tragédias fazem parte da trajetória de uma vida. Como elaboramos esses processos também. Muitas vezes, não é possível no momento de uma relação com alguém, entender todos os aspectos envolvidos. As pessoas se afastam, mudam, morrem. Daí, muitas vezes, a necessidade de uma elaboração individual de algo que aconteceu com o outro. Mas, ainda assim, é possível pensar como seria bom voltar no tempo e ter dito ou feito algo diferente, ou mesmo chamar a pessoa muito tempo depois para ressignificar, ou fechar algo que ficou inacabado.
É pensando na premissa que surge a peça. A possibilidade que o teatro dá, de através do artifício de um simulacro, ir em busca do entendimento da realidade. Um fantasma de um pai que retorna para trazer à tona a necessidade de esclarecimentos. Como em Hamlet. Um herói em busca da verdade sendo ele mesmo posto em cheque pela esfínge. Como em Édipo. E toda a dança contemporânea do que narramos ou deixamos de narrar nas redes para dar sentido social a intimidades cada vez mais particulares. A dramaturgia conversa com isso. Com a herança do teatro ficcional que busca se auto-deflagrar e com o hibridismo contemporâneo do documental e do confessional.
Ficha técnica
Texto e atuação: Pedro Guilherme. Direção: Aline Filócomo. Criação de vídeo: Grissel Piguillem Mangganelli. Trilha sonora: Luis Aranha. Operação de vídeo e som: Michelle Bezerra. Produção executiva: Pedro Guilherme e Paula Arruda. Realização: Cia. Provisório-Definitivo.
Serviço
Espetáculo: "O Desejo do Outro"
Quando: de 14 a 29 de maio. Sextas e sábados, às 20h.
Onde: no YouTube do Pedro Guilherme – Gratuito
https://www.youtube.com/channel/UCmlggtXh0TizAk3N-trK5Iw
Dia 14: https://youtu.be/X5m8Qk3BmzU
Dia 15: https://youtu.be/WYfUG2_zhPw
Dia 21: https://youtu.be/4EhD4lNU9Hs
Dia 22: https://youtu.be/8F9SD21r5Iw
Dia 28: https://youtu.be/T9qdEMCtRWQ
Dia 29: https://youtu.be/4AmE_PlyZJA
Duração: 60 minutos.
Classificação etária: 14 anos.
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