quinta-feira, 29 de abril de 2021

.: Isolamento no espetáculo digital "O Homem do Besouro" de Matéi Visniec


Texto do autor romeno Matéi Visniec inspira espetáculo sobre isolamento ao retratar encontro entre um homem e um besouro. Foto: Edu Pinheiro

A visita insistente de um inseto faz um indivíduo repensar sua rotina, seus hábitos, vontades e desejos. Essa é a premissa do espetáculo "O Homem do Besouro", de Matéi Visniec, montagem do Grupo Lunar de Teatro, criado e idealizado pela dupla Suzana Muniz e Mau Machado, que assinam respectivamente direção e direção musical. 

O texto trata da relação entre um homem e um besouro no confinamento de seu apartamento e guarda fortes semelhanças com as questões enfrentadas atualmente diante do isolamento imposto pela pandemia. Criado e idealizado pela dupla Suzana Muniz e Mau Machado, que assinam respectivamente direção e direção musical, estreia em  apresentações online até dia 30 de abril, diariamente em dois horários, 19h e 20h30. Link para transmissão: https://youtube.com/c/grupolunardeteatro


O espetáculo
O elenco é formado por Angelina Miranda, Cadu Carvalho, Edu Pinheiro, Guilherme Conrado, Juliana Carolina, Murilo Rocha, Thiago Merlini e Pamella Bravo. A bailarina e atriz Mariana Muniz faz uma participação especial como narradora, uma observadora externa, que como os espectadores, acaba aos poucos se identificando com as inquietações desse homem solitário.

Extraído do livro "Teatro Decomposto ou O Homem-Lixo" do autor romeno Matéi Visniec, o texto trata da relação de um homem e um besouro no confinamento de seu apartamento e guarda fortes semelhanças com as questões internas como incertezas, medos e ausência de afetos enfrentadas atualmente diante do isolamento imposto pela pandemia. Os atores também compartilharam seus sonhos durante o processo de criação como inspiração para uma dramaturgia imagética.

Para a dupla criadora do espetáculo, Suzana Muniz e Mau Machado, “a condição de distanciamento social nos aproxima muito desse homem solitário, isolado e metódico que começa se relacionar com um besouro e que antes poderia ser considerado apenas estranho ou antissocial. É como se Visniec colocasse uma lupa em nosso cotidiano, nossas manias, medos e atitudes quando sozinhos. O que antes causava estranhamento agora passa a ser, de alguma forma, familiar e reconhecemos as condições desse homem como nossas”.

O estudo do texto foi a espinha dorsal para o trabalho da diretora. “O processo se iniciou com a investigação coletiva do personagem com foco em seus hábitos, motivações, inquietações e gestual criando pontos em comum aos oito atores, que não contracenam diretamente em nenhum momento. Todas as cenas foram improvisadas sobre as ideias centrais do texto e fomos descobrindo em conjunto os espaços onde o delírio ou o sonho desse homem poderiam ser incorporados trazendo o subconsciente à tona até o momento em que esse universo se confunde e não sabemos mais o que é real ou não”, explica.

A música é também um elemento fundamental do processo de criação do grupo. A trilha original criada por Mau Machado experimenta o universo surrealista, dadaísta e orgânico por meio de vocalizes realizados pelos atores e pelos sons de instrumentos, que se fundem para garantir o ritmo de cada cena. As inspirações sonoras vieram do minimalismo de Philip Glass e Steve Reich, passando pela experiência eletroacústica de John Cage e o trabalho de vozes de Meredith Monk serviram como estímulo para a criação de cenas.

O figurino da Cinthia Cardoso foi criado com inspiração no universo de Henri Magritte buscando uma unidade entre os atores e uma sensação de neutralidade de gênero e de cores. A maquiagem estabelece o estranhamento como parte desse personagem e aproxima o universo teatral da máscara ao universo audiovisual.

A direção de arte trabalhou com as possibilidades de cada ator em seu lar, já que as cenas em sua maioria foram filmadas por eles, com orientação dos diretores. “A partir das improvisações descobrimos os ambientes das casas dos atores e eu e o Mau Machado desenvolvemos uma unidade de composição artística para o espetáculo. Naturalmente o confinamento dos atores e os ‘quadrados’ do Zoom nos levaram a planos mais fechados durante a improvisação das cenas e decidimos assumir essa proposta como estética, uma amplificação da intimidade do personagem. Finalmente, Edu Pinheiro que é ator e videomaker, explorou através dos efeitos visuais as ideias surrealistas em vídeo, além de ser o responsável pela direção de fotografia e montagem da edição, nos aproximando definitivamente do universo audiovisual”.

Suzana Muniz teve contato com o texto durante um grupo de estudos do Grupo Tapa, com Clara Carvalho e Malu Bazán. Deste grupo surgiu a peça Condomínio Visniec, do qual integrou o elenco e aprofundou os estudos, sobre o autor, em conjunto com Mau Machado, que foi também assistente de direção e responsável pela trilha sonora original do espetáculo. “O texto 'O Homem do Besouro', que faz parte dessa coletânea, pareceu ganhar uma nova dimensão durante a pandemia por representar tão bem as dificuldades e inquietações de nossa situação atual e nos mostrar como situações que antes pareciam absurdas passaram a ocupar nosso cotidiano. Ele nos trouxe de imediato imagens e sensações que nos inspiraram como provocadores desse nosso trabalho artístico”, conta Suzana.

O espetáculo, deriva de um trabalho de investigação cênica iniciado na oficina de Extensão Cultural presencial “Experimento Teatral: O Corpo Musical”, ministrada por Suzana Muniz e Mau Machado em janeiro de 2020 na SP Escola de Teatro. A mesma teve como proposta a criação de cenas teatrais a partir de improvisações coletivas com o objetivo final de criar um experimento cênico-musical a partir de dois textos de Matéi Visniec, um deles sendo O Homem do Besouro. O experimento final foi realizado na SP Escola de Teatro em 31 de Janeiro de 2020 com 22 atores e atrizes.


Sinopse do espetáculo
Um indivíduo certo dia percebe a presença insistente de um besouro em seu apartamento. Essa visita inesperada causa curiosidade e sua permanência cria um vínculo que o faz revisitar sua rotina, seus hábitos, vontades e desejos.


Sobre o Grupo Lunar
O Grupo Lunar de Teatro é formado por Mau Machado – ator e músico – e Suzana Muniz – atriz, diretora e produtora – ambos com trabalhos relevantes junto a diretores conceituados no cenário teatral paulistano. O núcleo se configurou em 2018 a partir da afinidade artística da dupla e de um desejo de criar um teatro autoral.

Seu foco é a pesquisa sobre o coro teatral como forma de unir voz e corpo amplificando a presença do ator em cena. A dupla já implementou dois workshops com foco no corpo musical para o teatro, na Oficina Cultural Oswald de Andrade e na SP Escola de Teatro, desenvolveu dois projetos musicais online incluindo um vídeo para os mini concertos virtuais do #coraluspemcasa, e ganhou em 2020 o 20º Prêmio Cenym de Teatro de Melhor Preparação Corporal da peça Condomínio Visniec com direção de Clara Carvalho.


Sobre Suzana Muniz
Atriz, diretora e produtora, formada pelo Teatro Escola Célia Helena. É coralista do CORALUSP Tarde onde dirigiu o vídeo do mini concerto virtual do grupo em 2021. Ministrou cursos de teatro na Oficina Cultural Oswald de Andrade, na Cia Os Satyros que resultaram em 9 peças curtas sob sua direção e na SP Escola de Teatro onde foi artista docente convidada do curso de Direção (2020).

Foi assistente de direção de Clara Carvalho na montagem de Aviso Prévio (2021). Atuou em peças como Condomínio Visniec, direção de Clara Carvalho indicada ao Prêmio APCA de Melhor Direção (2019), onde também fez a preparação do coro ganhando o 20º Prêmio Cenym de Teatro de Melhor Preparação Corporal junto com Mau Machado; A Cantora Careca (stand-in de Mariana Muniz), direção de Eduardo Tolentino; Hotel Tennessee, direção de Brian Penido e Ana Lys; Pessoas Sublimes, direção de Rodolfo G. Vázquez; Os Que Vêm com a Maré, com 3 encenações distintas dirigidas por Maria Alice Vergueiro, Fernando Neves e Rodolfo G. Vázquez com texto de Sérgio Roveri indicado ao Prêmio Shell.

Participou do curso do Workcenter of J. Grotowski and T. Richards na Itália, de processos teatrais com Nelson Baskerville, Pedro Pires e Olivia Corsini do Théâtre du Soleil, e de workshops de estudos do corpo com Marina Caron da Cia Nova Dança, Jeremy James do Théâtre du Soleil e Donnie Mather. Participou na produção de eventos como o Festival Satyrianas, ganhador do Prêmio Shell 2013 e o Festival Que Absurdo! do Grupo TAPA.


Sobre Mau Machado
Ator e músico, cursou oficinas de teatro na Cia Os Satyros e Música e Sonoplastia Teatral na SP Escola de Teatro. É coralista do CORALUSP Tarde e compositor da música Senhores do Tempo, executada pelo grupo nos mini concertos virtuais do #coraluspemcasa em 2021.

Integra o Núcleo de Pesquisa do Teatro Pequeno Ato sob a direção de Pedro Granato, onde atuou nos espetáculos 11 Selvagens, O Beijo no Asfalto, Sonho de Uma Noite de Verão e Fortes Batidas, vencedor do Prêmio APCA de Melhor Espetáculo em Espaço Não Convencional e Prêmio São Paulo 2015 de Melhor Experimentação Cênica. Participou da peça Balada dos Enclausurados, direção de Eric Lenate e Erica Montanheiro e da pesquisa teatral Experiência Antígona com Eric Lenate.

No cinema atuou no longa-metragem Rompecabezas de direção de Dellani Lima, selecionado para o 15º Festival de Cinema Latino-americano de São Paulo. Ministrou oficinas na Oficina Cultural Oswald de Andrade (2018) e na SP Escola de Teatro (2020). É criador da música original dos projetos Eu Não Sou Harvey, direção de Michelle Ferreira e Condomínio Visniec, onde fez assistência de direção e preparação corporal para Clara Carvalho e ganhou o 20º Prêmio Cenym de Teatro de Melhor Sonoplastia/Execução de Som e de Melhor Preparação Corporal junto com Suzana Muniz.


Sobre Matéi Visniec
Nascido em 29 de janeiro de 1956 em Radauti, na Romênia, Matéi Visniec vivenciou a ditadura de Ceausescu. Ainda jovem, deixa sua cidade e vai para a capital Bucareste estudar filosofia. Acreditava que o teatro e a poesia podiam denunciar a manipulação do povo por meio das grandes ideologias. Em 1987, é reconhecido na Romênia por sua poesia depurada, lúcida, ácida, mas ainda proibida para o palco. Aos 31 anos, muda-se para a França. Em apenas três anos, começa a escrever em francês e converte a sua limitação na língua em elemento criativo. Paris passa a ser a sua pátria mental. É um escritor da resistência, nunca escreveu peças comerciais. Escreve poesia e romance em romeno, mas teatro, sempre em francês. Visniec tem parentesco com o surrealismo e com o teatro do absurdo. Suas peças cheias de humor e silêncios são editadas e encenadas em diversos países.


Ficha Técnica:
Espetáculo:
"O Homem do Besouro"
Idealização e concepção: Mau Machado e Suzana Muniz.
Texto: Matéi Visniec 
Direção:
Suzana Muniz.
Elenco: Angelina Miranda, Cadu Carvalho, Edu Pinheiro, Guilherme Conrado, Juliana Carolina, Murilo Rocha, Thiago Merlini e Pamella Bravo.
Direção musical: Mau Machado.
Criação e produção de som original: Mau Machado.
Direção de arte: Mau Machado e Suzana Muniz.
Direção de fotografia, edição de vídeo e efeitos visuais: Edu Pinheiro.
Figurinos e adereços: Cinthia Cardoso.
Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli.
Direção de produção: Ariel Cannal.
Participação especial: Mariana Muniz, como narradora.


Serviço:
Espetáculo: "O Homem do Besouro"
De 28 a 30 de abril, às 19h e 20h30
Transmissão: YouTube do Grupo Lunar de Teatro
Link: https://youtube.com/c/grupolunardeteatro
Duração:
30 minutos
Classificação indicativa: 12 anos
Ingressos: grátis
Redes sociais: @grupolunardeteatro


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