quarta-feira, 14 de abril de 2021

.: "Crônica da Casa Assassinada" retorna às livrarias (8 motivos para ler)


A Companhia das Letras lança agora a obra-prima de um dos principais escritores brasileiros, o mineiro Lúcio Cardoso. Livro responsável por abalar o meio literário brasileiro quando publicado pela primeira vez em 1959, "Crônica da Casa Assassinada" conta a história do clã dos Meneses através de diferentes narradores, que se enfrentam e se contradizem, mas que constroem com maestria um retrato profundo da vida familiar. 

"Crônica da Casa Assassinada" gira em torno de uma família em decadência: cada geração se vê mais pobre que a anterior, dilapidando o patrimônio para sobreviver. Os Meneses, porém, continuam sendo respeitados na pequena comunidade mineira em que vivem. A Chácara, a grande casa que gera orgulho mas também aprisiona, é vista com reverência e desconfiança por todos que conhecem o clã.

Contudo, a chegada de Nina – jovem carioca que se muda após se casar com Valdo, o irmão do meio – vai abalar a relação difícil que se estabelece entre os irmãos. Demétrio, o mais velho, tem na esposa Ana uma arma sutil; Timóteo, o mais novo, se embrenha cada vez mais na própria decadência quando passa a viver trancado num quarto. "A matriarca da casa é a própria casa", diz Chico Felitti no prefácio desta edição. "Suas alamedas são veias que irrigam o coração que é a casa-grande."

Fantasmagórico, envolvente e extremamente brutal, "Crônica da Casa Assassinada" utiliza a pluralidade de vozes narrativas para explorar os limites do desejo e da submissão. Você pode comprar o livro "Crônica da Casa Assassinada",  de Lúcio Cardosoneste link.


Por que a leitura de "Crônica da Casa Assassinada" é obrigatória em oito motivos

1. Livro era raríssimo em sebos. 
O título estava fora de catálogo há anos e é possível encontrá-lo por até R$ 300 em sebos. A nossa edição conta com prefácio do jornalista Chico Felitti e uma rica nota biográfica assinada por Ésio Macedo Ribeiro, especialista na obra do escritor. Além de trazer na íntegra a crônica de Clarice Lispector, publicado no Jornal do Brasil em 1969, à época da morte do autor, de quem foi grande amiga por mais de 20 anos.


2. Livro representou uma ruptura na literatura. 
"Crônica da Casa Assassinada" foi responsável por abalar o meio literário brasileiro quando publicado pela primeira vez em 1959 ao abordar temas como: violência, ciúmes, relações incestuosas, ressentimentos e perversões.


3. Conflitos em família. 
A história de "Crônica da Casa Assassinada" gira de em torno de uma família em decadência, na qual cada geração se vê mais pobre que a anterior. Os Meneses, porém, continuam sendo respeitados na pequena comunidade mineira em que vivem e a imensa casa da família é vista com reverência e desconfiança por todos que conhecem o clã. Contudo, a chegada de Nina – jovem carioca que se muda após se casar com Valdo, o irmão do meio – abala a relação difícil que se estabelece entre os irmãos.


4. Há múltiplos narradores no livro.
Em "Crônica da Casa Assassinada": a história é contada pelo ponto de vista de cada pessoa que passa pela Chácara e por seus moradores. Cada capítulo é uma carta de um desses personagens tentando comunicar ao mundo o que acontece naquela casa sitiada: confissões religiosas que jamais serão entregues, diários, cartas, bilhetes de amor escondidos embaixo de tijolos soltos que ilustram a decadência da casa.


5. Sai o regionalismo, entra o psicológico. 
Os primeiros dois romances de Lúcio Cardoso foram bem recebidos pela crítica, e pareciam integrar a segunda fase do modernismo literário brasileiro, ao lado de obras de autores como Rachel de Queiroz e José Lins do Rego. Mas com "Crônica da Casa Assassinada", Lúcio rompeu com a corrente regionalista da época e rumou cada vez mais para dentro dos seus personagens e seus escritos passaram a ser cada vez mais psicológicos.


6. Profundidade do livro dividiu opiniões e atraiu defensores de renome. 
Recepção: publicado pela prestigiosa José Olympio em fevereiro de 1959, "Crônica da Casa Assassinada" foi dedicado ao poeta Vito Pentagna, amigo de Lúcio que o ajuda no levantamento da história da família Meneses, que realmente existiu, e que tinha uma chácara próxima da cidade de Cataguases, Minas Gerais. Logo depois da sua publicação, o crítico Olívio Montenegro ataca o livro no Diário Carioca, atribuindo a ele um “caráter imoral”. A resposta vem não de outros críticos, mas de autores como Manuel Bandeira e Aníbal Machado, que saem em defesa da obra, elogiando sua profundidade temática, riqueza formal e inovação. E o livro foi um sucesso.


7. Pioneiro e atual. 
O autor foi um dos primeiros a trazer a público sua homossexualidade. Em 1949, dez anos antes de lançar seu romance mais conhecido. No prefácio desta edição especial de "Crônica da Casa Assassinada", Chico Felitti conta uma história publicada no jornal O Povo, em 1960, em que Lúcio Cardoso e José Lins do Rego teriam tido uma briga que precisou ser apertada. O motivo teria sido uma piada homofóbica feita pelo último a respeito do também escritor Otávio de Faria.


8. É a obra-prima do autor. 
Em 1962, Lúcio Cardoso teve um derrame cerebral que paralisou o lado direito do seu corpo, impedindo-o de escrever. Passou então a se dedicar com afinco à pintura e chegou a realizar duas exposições em vida. Lúcio morreu em 22 de setembro de 1968, na cidade do Rio de Janeiro, aos 56 anos vítima de um segundo AVC.


O que disseram sobre o livro

"O dom poético, o dom de criar vida, atmosfera, de armar os lances imprevisíveis e patéticos do destino. Na 'Crônica da Casa Assassinada' culminou essa força demiúrgica de Lúcio."
– Manuel Bandeira.

“Lúcio e eu sempre nos admitimos: ele com sua vida misteriosa e secreta, eu com o que ele chamava de 'vida apaixonante'. Em tantas coisas éramos tão fantásticos que, se não houvesse a impossibilidade, quem sabe teríamos nos casado” - Clarice Lispector.

"A narrativa de 'Crônica da Casa Assassinada' é um exercício de claustrofobia literária. Os personagens estão presos na Chácara. Estão presos em costumes e tradições que não cabem mais. Estão presos em desejos que não podem nunca sair do coração deles. Estão presos nos seus pensamentos, que vertem para o papel. O leitor e a leitora, pelo contrário, ficam livres para navegar nos cantos, tanto da Chácara como das pessoas. O texto não tem um narrador único. É contado pelo ponto de vista espatifado de cada pessoa que passa pela Chácara e por seus moradores: o farmacêutico, o padre, o médico, a governanta Betty, os irmãos Meneses, Nina, Ana e André. Cada capítulo é uma missiva de um desses personagens tentando comunicar ao mundo o que acontece naquela casa sitiada: confissões religiosas que jamais serão entregues, diários, cartas, bilhetes de amor escondidos embaixo de tijolos soltos que ilustram a decadência da casa. Cada trecho tem beleza própria, conta um ponto de vista da história e reluz, mas, como nos vidros coloridos que compõem um vitral, as peças incorporadas ganham uma nova imagem e coam a luz que vem do mundo externo, que parece nunca alcançar a Chácara." – Chico Felitti


Sobre o autor
Lúcio Cardoso nasceu em 1912 na cidade de Curvelo, Minas Gerais. Em 1930 publica seus primeiros textos em jornais, e seu romance de estreia, Maleita, é lançado em 1934. A partir de então, o autor produz diversas novelas, contos, livros infantis e romances, até que em 1959 publica "Crônica da Casa Assassinada" – clássico instantâneo da literatura brasileira. Sua morte, causada por derrame cerebral, acontece em 1968, no Rio de Janeiro.


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